DEZ POEMETOS DE AMOR

Data 30/09/2010 18:29:54 | Tópico: Poemas

DEZ POEMETOS DE AMOR

- I -
Já que tenho de te doer
Seja eu o tigre implacável
Aquele que, beijando-te,
Espedaçará teu rosto,
Que, tomando-te,
Arrancará tuas tripas
E, amando-te,
Matar-te-á para teu gosto.

- II -
Suporta a crua mágoa
E os destemperos da minha carne
Bem sei, o que te salga
Provoca-te o mesmo alarde
Que minha derme calada amarga...
Afasta as intervenções da dor covarde
Alforria de vez o que te embarga!

- III -
Permiti-me olhar a mim
Como se tu mesma fizesses

E não me desejei por teus olhos
Não te deleitei por minha imagem
Nem mais quis fitar-me...
Enjeitei-me, em ti, regalar-te

Desacolho de pretender-me
Pelo fustigo dos olhos teus!
Tamanha a indiferença em ti
Pela fieza de não acarar-me...

- IV -
Apego-me à coragem constante
Para rejeitar, com arte, tua imagem...

...Queima-me os olhos de fogo selvagem
Flamejando-me deste sondar-te desconcertante!

- V -

A dor de amor se esgoela
Porque não se enxerga absurda
Desnudada, é empacada mula
Aos corações incultos
Que dispensam controlar
Os batimentos caducados
Deseducados pelos ritmos
Desses bestalhões apaixonados...
- À dor de amor não cabem algoritmos -

- VI -
O gosto dum beijo teu
Reascendeu à minha lôbrega boca
E teus lábios nem ancoravam os meus
Dei-me conta da desdita mouca

E uma recidiva lágrima salgada
Rasou minha face eremita,
Mareando a língua intacta
A velejar, lassa, a calmaria
Do oceano da tua falta...

- VII -
Passa ao largo do sono
Sai inconfidente ao luar
Despista-te do abandono
Ou a noite piche vai te pichar
Não possuis rumo ou dono
Arrumes um amor para amar
Que a lua paga-te abono

- VIII -
Tua ausência incorporou-se a mim
Desabrolhou carne do meu ventre
Doravante juntos em una viagem,
Vigora e arde, algoz, em posta ebuliente

Minhas íris fenderam-se à tua imagem
Ai, tua ausência a cavar-me crateras,
Picadas no matagal selvagem das feras
Por onde meus amores reagem

- IX -
Houve o tempo das palavras
Tempo dos gestos
Tempo das mágoas
Tempo dos inabaláveis sorrisos
Ao fim, houve o tempo
A servir de nada
Não. Não subverta o passado
Pelas vias da saudade, minha cara

- X -
Lembranças laceram-se em escaras
Feridas descansadas, perfeitas
Para pormos o dedo da saudade nelas
Fazer sangrá-las, sem a menos vê-las
: Quem clama por dor, esconde a cara



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