Apetece-me ser Eu!

Data 07/11/2010 19:00:39 | Tópico: Poemas

Há dias assim. Em que queremos fugir dos infernos dos protocolos e das ameaças que a imagem nos inflige. Não sei se serão laivos de uma perfeita noção da imperfeição que somos ou da indulgência dos nossos tormentos.

Há dias em que queremos fugir do corpo coberto de regras e das afinidades da sociedade.

São instantes de uma vivência prematura e em que sabemos que cada passo é um laço com a infracção do preconceito imposto.

Mas se há dias assim, também há outros dias em que a loucura nos brinca com a sua visita, compondo um ramalhete de travessuras e rosas vermelhas para adoçar o nosso olhar, por vezes, triste.

Nessas circunstâncias há um outro corpo dentro do mesmo corpo que se solta e nos grita aos etéreos ecos da liberdade para se ser o que se quer ser. E quando assim acontece, acontece a magia e apetece-me ser Eu!

Um Eu desenvolto que conquista com o olhar as maiores certezas da humanidade e que adormece os rubros com o sorriso. Depois que nos caracteriza a verdade e a vontade e nos encaminha o sentido para um apetece-me ser Eu, para queimar as doutrinas do mal e arrecadar as armas dos destrutores, salvando o mundo das garras da ganância. Alicerçando regras, construindo caminhos e ao ser, no apetecer, transformaria em moldes românticos a cobiça e a ambição desmedida, criando a arte de entendimento entre o ego e a vontade de cada corpo. Em segredo desvendaria a harmonia do bem-estar de cada elemento que dá vida ao Universo.

Acordaria todas as manhãs com o nascer do Sol e viveria na eternidade, numa palhota, feita de barro e capim, rodeado das frutas tropicais e das memórias dos vendavais. E nas palavras, depois de soletrar um brioso “Bom-dia” diria, convicto, apetece-me ser Eu!


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