Ela demora horas para se ajeitar Se delonga no banheiro, num banho moroso e infinito Lava os cabelos Cabelos caros que lhe custam algumas horas do seu ordenado mensal Cabelos que ela ama Cabelos que ela estica a forço de químicos Cabelos que ela afina, descolore, pinta, alisa, ondula, repuxa, bate, escova, mata, ressuscita! E ela se demora um pouco mais… Desfila de tolha, indo e vindo do quarto Pára diante do espelho Olha, se olho, re-olha, e nada lhe parece certo, o seu perfeito é imperfeito! Passam-se mais algumas horas… E ela escolhe a roupa Uma, outra, troca, muda, rejeita, mira: Não se vê como é, nem a indumentária é o que parece: Está feia, está gorda, está torta, está desbotada, está fora de moda, está errada! Mas escolhe algo… Coisas que combinam com o que o especialista da televisão ordenou Coisas que a deixam menos ela, mais coisa E sorri: Seu sorriso moldado pelo aparelho ortodôntico Igual aos sorrisos das estrelas: cheio de dentes, vazio de alegria Mas se convence: está linda, alguém vai mexer com ela pelo caminho, um homem vai-lhe dizer obscenidades, e ela vai se convencer: está linda… Ainda que se sinta feio, Ainda que não goste do que vê refletido no espelho, Ainda que não se ame por qualquer beleza incrustada no seu íntimo, Ainda assim, Ela se ama por que se parece com alguém que viu em um filme! Não sabe exatamente quem Mas poderia ser ela… [center]
|