Poemas : 

A pobre beleza

 

Ela demora horas para se ajeitar
Se delonga no banheiro, num banho moroso e infinito
Lava os cabelos
Cabelos caros que lhe custam algumas horas do seu ordenado mensal
Cabelos que ela ama
Cabelos que ela estica a forço de químicos
Cabelos que ela afina, descolore, pinta, alisa, ondula, repuxa, bate, escova, mata, ressuscita!
E ela se demora um pouco mais…
Desfila de tolha, indo e vindo do quarto
Pára diante do espelho
Olha, se olho, re-olha, e nada lhe parece certo, o seu perfeito é imperfeito!
Passam-se mais algumas horas…
E ela escolhe a roupa
Uma, outra, troca, muda, rejeita, mira:
Não se vê como é, nem a indumentária é o que parece:
Está feia, está gorda, está torta, está desbotada, está fora de moda, está errada!
Mas escolhe algo…
Coisas que combinam com o que o especialista da televisão ordenou
Coisas que a deixam menos ela, mais coisa
E sorri:
Seu sorriso moldado pelo aparelho ortodôntico
Igual aos sorrisos das estrelas: cheio de dentes, vazio de alegria
Mas se convence: está linda, alguém vai mexer com ela pelo caminho, um homem vai-lhe dizer obscenidades, e ela vai se convencer: está linda…
Ainda que se sinta feio,
Ainda que não goste do que vê refletido no espelho,
Ainda que não se ame por qualquer beleza incrustada no seu íntimo,
Ainda assim,
Ela se ama por que se parece com alguém que viu em um filme!
Não sabe exatamente quem
Mas poderia ser ela… [center]

 
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Arcanjo
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