
MEUS SONETOS VOLUME 008
Data 20/11/2010 09:48:38 | Tópico: Sonetos
| 701
A saudade cruel, me trucidando... Não permite que te fale, calmamente... Por mares que não tive, navegando, Saudade vai cortando, cruelmente...
A noite que se inunda vem chegando, Trazendo teu veneno de serpente Amores que vivemos, vão passando. Me restam míopes olhos, peço lente...
Porque chegaste assim, noite nublada? Relâmpagos afagos e coriscos... A voz que te clamava, tão cansada,
O medo de morrer me deixa triste... Saber de nossa vida, de seus riscos, Saudade devorando, não desiste...
702
A saudade desfralda abrindo uma asa Sobre quem se afastou da vida há meses. Encaro estas derrotas e reveses Queimando o coração em forte brasa.
Lembranças que ficaram desta casa, De amores que já foram siameses. A dor que no começo vinha às vezes Agora a todo instante já me abrasa.
A um tempo mais feliz eu me arremeto E faço deste verso uma mortalha, Quartetos e tercetos de um soneto
Cortando minha pele, na verdade, A morte, sorridente já retalha Um coração imerso na saudade...
703
A saudade é dolorida, No meu peito deu um nó, Depois desta despedida, Coração andando só,
Na longa estrada da vida, Vou comendo tanto pó, Morena na despedida, Foi-se embora sem ter dó.
A saudade traz apuro, Maltratando, não descansa, Meu amor pra sempre eu juro,
Nunca tirei da lembrança Nosso amor, que foi tão puro, Mas morreu cedo, criança...
704
A saudade é tormento, esmaga o coração... Procura pelo porto, encontra podre cais... Saudade dolorosa em busca do perdão Esbarra na vontade, e vai pr’a nunca mais...
Saudade que me corta, em tanto sonho vão, A resposta, sempre ouço, a mesma, pois jamais Saudade terá mesa em toda essa amplidão. A dor dessa saudade a saudade me traz...
Recordo-me do beijo, amor que já morreu... O céu que sempre brilha; invernoso nublou. A noite que era clara e já se escureceu
Demonstra quem eu fora e nunca mais serei, O tempo que sonhava e que já se acabou Foi um tempo feliz onde amar era a lei!
705
A saudade faz estrago Disso eu sei e até garanto, Porém tendo um manso afago Eu encontro um novo encanto
Quero placidez de um lago, Nos meus olhos? Nenhum pranto, Pois o amor, divino mago, Da saudade nega o manto.
Sendo assim, quero o teu beijo, Teu carinho sem igual. Vem matar o meu desejo,
Esquecendo da saudade, Do prazer fazendo a nau Aporto na liberdade... Marcos Loures
706
A saudade fez estrago Feito um grande vendaval, Do trigal nem mesmo um bago, Resistiu ao temporal.
Meu amor sem um afago Naufragou saveiro e nau, Se oceano vira lago Só restou do mar, o sal.
E a mortalha que carrego Sem descanso todo dia, Mesmo vendo fico cego
Nem consigo reparar Na beleza que se via Numa noite de luar...
707
A saudade me clama, (é tão teimosa) Não se esquece jamais meu sobrenome... As bênçãos divinais, canteiros, rosa, Meu tempo indefinido... Tudo some...
Saudade se demonstra gloriosa Baixinho me chamando pelo nome. Os marcos do que tive verso e prosa. Meu fígado, meus olhos, cedo come...
Já vem despetalando o coração. Afaga-me qual fora um pobre cão. Alaga-me nas lágrimas que mente...
A vida se resume no perdão, Saudade vai chegando, lentamente... Meu mundo já desaba, de repente...
708
A saudade me diz tanto Deste bem que eu já perdi Meu amor em teu encanto Diz do sonho que eu vivi
Quando à noite vem o pranto Eu me lembro então de ti, Cada estrela tece um manto Solidão enfronha aqui
E nos braços desta lua Adormeço esperançoso Quando o sonho continua
De saudades, minha rede, Teu olhar maravilhoso Resta apenas na parede...
709
A saudade me tomando O tempo quase não passa, Aos poucos me matando, Nem sorriso mais disfarça
Eu procuro e não sei quando, Esperança se esvoaça Meu castelo desabando Se perdendo na fumaça.
Velhos sonhos que se foram, Meus sorrisos de ironia Tão somente me decoram
Que me dera se eu pudesse Ter de novo a fantasia, De um amor que não se esquece...
710
A saudade valoriza Cada dia que vivi, Tempestade vira brisa Quando estou perto de ti,
O teu verso já me avisa, Estarei depressa aí, Na palavra mais concisa Dos teus beijos me embebi.
Venha ser minha sereia Que serei seu Odisseu, Teu amor bateu na veia,
Coração enlouqueceu Tua fome me incendeia Eu serei, depressa, teu..
711
A seca do passado, enfim, deserto E sinto a chuva mansa e promissora, Prepara todo o solo e desde agora Terei felicidade aqui por perto.
Quem veio de um caminho tão incerto, Já sabe valorar a redentora Presença de quem ama. A vida aflora Tornando o coração bem mais experto.
No olhar de brilho farto, reluzente, A maciez das mãos sobre meu peito, Amor que assim domina toda a gente
Invade qual posseiro, benfazejo. Felicidade plena é um direito Trazendo a paz sincera que eu desejo.
712
A seca do passado, enfim, deserto Ouvindo uma alegria em temporal, Dos meus grilhões, agora eu me liberto Na imensa fortaleza sem igual
Formada pelo encanto de teus olhos, Deixando a solidão, adentro os sonhos, Arranco dos caminhos tais abrolhos Prevejo novos dias mais risonhos,
Sem ais e sem tormentas que me impeçam De ter uma esperança, mesmo breve, Os cantos mais sublimes recomeçam, Felicidade chega e se atreve
Neste arco-íris tão raro de se ver A fonte luminosa do prazer.
713
A seca nos meus olhos, puro acaso. Seara onde se ceve uma ilusão, Por falta de carinhos, morre o prazo, Das trevas de minha alma, lavação.
Humanidade segue para ocaso, E disso estou bem certo. Nega o pão Destroços na colheita quebram vaso, Ao desertificar, quer plantação
Os olhos d’água secos, cadê lágrima? Não venho te falar somente em lástima Esgrimo com palavras, vale nada...
Apenas distrações de um sonhador, A par do descaminho, perco o andor, Na procissão amarga, anunciada...
714
A seca se derrama nos meus solos, Ausência de motivos pra viver. Cativas ilusões, negando colos, Misturam agonia com prazer.
Agônica manhã se prenuncia Fazendo deste sonho, um pesadelo, A boca que destrói decerto ungia Rasgando minha pele; frio gelo.
Atrocidade inerte e sem limite A marca da pantera se entranhando, Amor no qual nem mesmo se acredite Aos poucos meus caminhos sonegando.
A par da estupidez de cada verso, Não vejo outra saída, vou disperso...
715
A seca tomou toda a plantação De tudo o que cevei, nada brotou, Apenas o vazio enfim restou, Deixando este sabor de negação.
Abordo cada sonho e o mesmo não Repete o que na vida se escutou, O barco com certeza naufragou, O cais se transformou, pura ilusão.
Mas tento novamente, não desisto, Qual fora um insensato, inda resisto E tento novamente ser feliz.
A boca que hoje beijo não me quer, Desejos caprichosos de mulher, Vontade de viver, vida desdiz...
716
A sede de viver, querida amiga, Permite em labirinto uma saída, Deixando que esta estrada enfim prossiga, Porém nos marca sempre pela vida.
Sobrevivi também à dura queda Embora com fraturas, luxações. Nem mesmo uma tristeza eterna veda Os olhos de quem vive as ilusões
Como se fossem náufragos perdidos Nos mares mais distantes, nos atóis. Os sonhos tantas vezes são urdidos Apenas como simples girassóis.
Bebendo, neste instante, num momento, A vida como fosse um cata-vento.
717
A sede quando é muita, saiba disso, Não deixa mais o cabra descansar. A flor mais delicada ganha viço Enquanto uma vontade quer matar.
Das águas que busquei nenhum sinal, Porém uma morena deslumbrante Com rebolado intenso e sensual Tomou todo o cenário num instante.
Embora não quisesse ser só minha, Fingindo que uma vez não fosse nada Deitando em sua cama, assim sozinha, A festa foi durante a madrugada.
Pois se no Tororó tal moça achei, No mesmo Tororó eu a deixei...
718
A seiva extravasada traduzindo Desejo magistral de ser feliz. Aos poucos teu prazer vai esculpindo Na forma desejada que mais quis...
Desnudo tua pele, mansamente. E vejo em teus anseios, tal nudez Transpiras neste afã mais indecente As tramas nessas transas que se fez...
Avanças mansas loucas mais tenazes Refletes tentação a cada espasmo. Pressinto tais vontades mais audazes E sinto a contração do amor, vou pasmo...
Na língua que percorre o paraíso, As estocadas no ponto mais preciso...
719
A sensação terrível de uma morte, Arrasta em turbilhão meu pensamento, O tempo em solidão passando lento Trazendo esta amargura feita em corte.
O sonho engravidado que se aborte Causando, sem defesas o tormento Por vezes tanto luto e sempre tento Coração imprudente perde o Norte.
Mas quando num chorinho bem marcado O peito enamorado e tão chorão, Transbordando alegria, traz esperança.
Mansamente num ritmo sincopado Querendo essa gostosa sensação, Convido-te, querida para a dança
720
A Serpe rastejante e caprichosa Ao conhecer o fruto proibido Sabendo ser mulher tão curiosa Acende dos desejos, o sentido E o homem, sem vontades, fascinado, Devora o mesmo fruto sem pensar, À morte se fazendo condenado, Tentando ao próprio Pai, ludibriar
Negando ao Criador obediência Expulso do Jardim; dista de Deus E ao carregar em si tal penitência Da luz se transformando em fartos breus
Sem respeitar enfim qualquer aviso, Expulso desde já do Paraíso...
721
A seta que te entranha é mais gentil, Penetra tua pele e chega ao fundo, Vencido pelo amor em um segundo, O mundo finalmente já floriu.
Coração sem juízo e vagabundo, Escreve de maneira tão sutil O campo constelar em pleno abril, Mudando a direção, sou giramundo.
Não somo, nem divido, eu multiplico, Não quero na verdade ser mais rico Pois tendo tal riqueza em minha vida.
Do amor faço meu ouro e minha prata, Na boca da morena e da mulata, Encontro a minha vez já decidida...
722
A silhueta bela e tão esguia, Em névoas sob as pratas do luar. Num átimo tomando o meu sonhar Entranha, num segundo, a fantasia.
O verso que decerto concebia Beleza que inda tento conquistar, Tornando mais suave o versejar Fagulhas de ilusão ganhando o dia.
Descrente, tantas vezes, andei só, Meus pés ainda trazem as correntes Atadas quais grilhões, dura incerteza.
Quem dera se talvez tirando o pó Pudesse perceber iridescentes Manhãs a sonegar tanta tristeza...
723
A sina de quem sonha é o sofrimento, Pensei durante tempos desta forma, Porém a fantasia assim me informa É chegado talvez; o meu momento;
E assim tal ilusão quero e fomento, Fazendo deste encanto lei e norma, E o velho coração crê na reforma E trama com firmeza o novo intento.
Levando a minha vida deste jeito. Cansei de ser escombro, ser rejeito; Rejeito os estribilhos do passado.
Perfeito? Não pretendo nem o quero, Que seja tão somente o mais sincero, Diverso do que estou acostumado...
724
A sina de ser teu; agora aceito E falo da vontade de te ter, Recendes à ventura e ao bel prazer Deitando bela e nua sobre o leito.
O jogo que começa a ser refeito Regido pelas fontes do querer Somando não concebe mais perder E vive sem limites dá seu jeito.
Depois das ratoeiras espalhadas, As caças passam ser ludibriadas Jogando para as traças, fantasia.
Não sendo mais sequer um velho príncipe Apenas me entregando, um vil partícipe, Aos braços deste amor que me queria.
725
A sobremesa flamba em vera chama Fecundando luares, trama o gozo, Perdendo antigos rumos enquanto ama Um sonho; farta vez, ambicioso.
Batalhas entre colchas e lençóis Nas sedas e nas rendas, transparências Penumbras esquecidas nos faróis Dos ritos prazerosos, florescências...
Alabastrina senda em lua mansa, Vestígios encharcando os cobertores; Amor quando em desejos tem fiança Transita entre caminhos redentores.
Vontade sem limites que proclama Reflexos do luar sobre esta cama.
726
A sogra que me deste meu amor, Desculpe, mas não serve para o gasto Ao ver essa serpente me desgasto E sinto, sou sincero, tanto horror.
O bicho sempre traz tanto terror Não posso nem deixar solta no pasto. Por todo amor que sei que é puro e casto O peso que carrego é sem valor.
Um dia se morrer, pobre diabo! Ao ver na velha todo o grande rabo E a cara de fuinha da maldita
Sua alma vai ficar à revelia Até que pobre Deus, com pena um dia Ao céu carregará essa desdita!
727
A sogra que me deste Querida; que suplício. Não digo que ela é peste, Azar ou precipício,
De negro se reveste Que é por dever de ofício, No caldeirão faz teste, O bicho, este estrupício.
Porém tem as vantagens, Depende do momento, Às vezes redentora,
No trânsito em viagens, Num engarrafamento, Me leva na vassoura...
728
A solidão, quimera mais atroz, Havia me legado ao sofrimento. A boca da saudade, mais feroz, Mordia cruelmente; esquecimento!
Distante de meu peito, ouço a voz, Sincera e tão venal do meu tormento. Sou rio que não sinto minha foz, Destino me deixou, solto no vento....
Embora mais sincero que já fui, O medo na verdade, contradiz. Minha alma sofredora, vai perdida..
O tempo da existência nunca flui, Sou pássaro ferido, qual perdiz... Só me encontro feliz, se estás, Aída...
729
A solidão, terrível, mortuária Se fez em minha vida, em triste treva, Tragando toda a sorte numa leva; Força descomunal e temerária.
Cantiga de um amor, tão solitária, Matando uma esperança, olhar que neva Por sobre um campo atroz, negando ceva Tornando uma alegria relicária.
Porém, cedo chegou a calmaria Trazida pelas mãos de uma mulher, Depois que quase nada esperaria
Quem teve tão somente impaciência. Da vida que se fez em penitência, Já sonha com o dia que vier...
730
A solidão adentra em cada fresta Inundando de lágrimas a casa. Nos olhos revolvidos em tempesta O tempo nunca passa e já se atrasa.
A brasa que se esvai em fogo lento, Matando uma provável esperança; Mergulho no vazio e sempre tento Inútil sensação de uma aliança
Sem álibi que possa me salvar Estendo os meus olhares na varanda, A noite vai passando devagar, O passo sem destino assim desanda
E tudo o que pensara ser feliz, No esgoto se perdendo, contradiz...
731
A solidão ao ver um peito aberto, Indefeso, viu logo um bom abrigo, Porém meu coração anda desperto Olhou pra solidão e: nem te ligo...
Olhando de soslaio e bem de perto, Já preparou, sorrindo o seu castigo, Meu coração por vezes bem esperto Se adiantou, fugiu deste perigo...
A morena brincando no quintal As coxas grossas na árvore subiu, Neste desenho formoso e sensual,
Taquicárdico bate no meu peito, Ao ver esta beleza ele se abriu... Agora a solidão é dito e feito...
732
A solidão batendo na janela Qual fora um vento frio que me invade, Deixando para trás felicidade Apenas o vazio me revela
Lembranças de um amor que ora distante Na espera interminável, tal tristeza Tomando o corredor invade a mesa E tudo se transforma ao mesmo instante
Em que percebo um som que se aproxima Falando da saudade de você, O frio toma a casa e me alucina,
Procuro em minha volta, mas cadê? Apenas teu retrato na gaveta, A solidão se torna então, completa... Marcos Loures
733
A solidão chegando no meu canto Em prantos e torturas faz seu mote. Sabendo que o amor precisa encanto Na cama não há chama que me esgote.
Noturnos os desejos mais sedentos Se adendos e barganhas eu desfaço, Disfarço tantos óleos que sei bentos, Nos dentes que mergulham no teu braço.
Amar demais não custa nem descarto Embora vá rolando tão sozinho... Aberto o coração ao novo parto, Aguardo, calmamente no meu ninho...
Não temo a solidão, é companheira, Embora eu te prefira a noite inteira...
734
A solidão cruel, é tudo o que receio. Não quero pr’esse amor, noites negras, escuras. Não quero a caminhada em estradas mais duras. Na salvação da lua, amor brilhante, creio.
Viver manso calor deitado no teu seio. O gozo desta vida, eu sei que me asseguras, O nosso amor foi feito em torno destas juras. É doce compaixão, o fim, início e meio...
Amor que sempre brilha em noite enluarada Vereda que prossegue em doce madrugada, Nos campos do meu sonho; aurora bela, traz...
Não trago mais a mão disposta, fosse garra, Amor nos trouxe o laço em leve e frouxa amarra. Márcia, na mão macia, a promessa de paz!
735
A solidão devora enquanto espanta Não deixa mais resquícios, me incendeia, A força de sonhar, outrora tanta Morreu ao penetrar em fria areia.
Somente a dor da vida se agiganta E traz a sensação de estranha teia Que invade a noite imensa e desencanta Portando uma estranheza invade a veia
E trama uma tristeza em letargia, Que nada neste mundo vão sossega, No mar da solidão em dura entrega
Distante do raiar de um belo dia, Nem mesmo uma ilusão em poesia Permite claridade em noite cega...
736
A solidão é fera e me devora Não permitindo um passo em destemor. Trazendo estas angústias que de outrora Acompanharam sempre imensa dor.
O tempo é vagaroso e se demora Fazendo o coração ser receptor Das lágrimas vertidas quando chora O peito em desalinho, sofredor.
A solidão; tempero de meu karma Encontra na esperança um maremoto. Que sabe onde ela oculta medonha arma
E traz por lenitivo uma morena Que trama em alegria um bem remoto, Mas que ao fim da tarde já se acena...
737
A solidão é gume de um punhal Cravado nas entranhas dum amor. Por vezes o seu corte traz fatal Desilusão em forma de temor. Bem longe do que mostra ser normal, Calando a voz de um frágil sonhador, Carrega bem guardado no bornal Espinhos. Aos milhares, matam flor. Amiga da mentira, irmã da intriga, A solidão é fera e sem pudor. Criando com a morte, forte liga, Com traços de total iniqüidade, Somente um sentimento salvador, Nos cura deste mal: uma amizade!
738
A solidão é gume de um punhal Cravado nas entranhas dum amor. Por vezes o seu corte traz fatal Desilusão em forma de temor. Bem longe do que mostra ser normal, Calando a voz de um frágil sonhador, Carrega bem guardado no bornal Espinhos. Aos milhares, matam flor. Amiga da mentira, irmã da intriga, A solidão é fera e sem pudor. Criando com a morte, forte liga, Com traços de total iniqüidade, Somente um sentimento salvador, Nos cura deste mal: uma amizade! 738
A solidão é o nada numa soma E desse nada eu quero uma distância O verso que se faz sem elegância Adentra na minha alma, ganha o estroma
O quanto a fantasia já me toma Permite que se mostre em discrepância Realidade e sonho em abundância Causando em meu olhar um escotoma.
No gráfico da vida, descendente No tráfico dos sonhos nada resta, Trafego em solidão pela floresta
De amores e ilusões, um indigente. A noite em tantas brumas vai espessa, Apenas esperança se confessa...
739
A solidão em flor nasceu no meu jardim E em seu perfume amargo, um gosto de saudade. Neste momento insano, amor dentro de mim Refeito da loucura; em incivilidade
Estorva meu caminho, e quase que no fim Avança escuridão, matando a claridade. Que faço se não posso amar demais assim. Procuro uma resposta. Apenas inverdade.
Tal flor apodrecendo aqui no meu canteiro Afasta o colibri, espanta a fantasia. Seguindo um mundo falho em passo traiçoeiro
Eu busco em esperança, uma última aliada Nos braços desta amiga, a sorte inda me guia Somente ela resiste. E depois, sobra o nada...
740
A solidão jamais passou aqui, Tu és a flor mais bela; saiba disso, De todos os meus sonhos que vivi, Meus olhos nos teus olhos ganham viço.
O cheiro desta flor eu não perdi, Estou tão radiante, amor por isso, Espero que tu saibas que vivi O tempo inteiro sempre dentro em ti.
Perfume anunciando a primavera Mostrando que viver já vale a pena, Bem sei que a solidão, amarga fera,
Rondando uma alegria, nos maltrata. Mas sinto nos teus olhos, bela cena Que salva, que me cura e me arrebata...
741
A solidão morrendo, tão remota, Explode num terrível pesadelo. O amor que a gente tem, nunca tem cota, Nos braços deste sonho a envolvê-lo.
Vontade de te ter jamais se esgota, No doce balançar de teu cabelo As luzes vêm chegando; em mansa frota Os laços se entrelaçam num novelo.
Mosaicos infinitos, tantas cores, Expressam os diversos sentimentos, As flores invadindo os pensamentos
Dourando em esperança estes amores. Atores desta peça universal, Vivendo tão somente o bem e o mal...
742
A solidão não é nenhum troféu Que deva ser exposto em galeria. É raio que riscando o negro céu Impede novo sonho de alegria.
Amando e transformando fel em mel, Vencendo a solidão com galhardia, Deixando bem distante esta cruel Quimera que nos banha em agonia...
Nas névoas desta tarde solitária, Em meio a tantas dores incontestes. A vida se mostrando assim, contrária,
Espero que este caos seja finito, Vestindo deste amor, contente, as vestes, Futuro grandioso, enfim, eu fito...
743
A solidão que amarga, atroz, me afaga Enquanto olhar opaco lacrimeja Lembrança do que fomos; mesmo vaga, No peito abandonado inda troveja.
Um tempo que perdido, nada trouxe Senão este vazio que carrego. Um dia mais suave, calmo e doce, Redunda no meu passo frio e cego.
Noctâmbulo, procuro os teus carinhos E bebo em falsos guizos, a alegria Saudade se entornando em copos, vinhos Ao mesmo tempo dói e me inebria.
Perdidas ilusões... Ermas estradas, As horas não serão recuperadas...
744
A solidão que sinto nos teus versos Em busca deste amor que tu sonhaste, Soltando teu lamento aos universos, Amada é por que nunca reparaste
Em quem entre momentos tão diversos Um pensamento só não dedicaste E em meio a tantos sonhos tão dispersos Sempre esteve aqui mas não notaste...
Te quero em cada sonho, a cada dia, Em minhas emoções, falo teu nome Buscando te encontrar, pura alegria,
Mas nada percebendo, nada diz; E toda esta tristeza me consome.. Comigo tu serias bem feliz...
745
A solidão se ausenta, mas retorna, Deixando em polvorosa o coração, Quem tem uma esperança como norma Jamais enfrentará tal furacão.
Dormir tranquilamente? Quem me dera... No fundo até desejo o sofrimento. A presa se acostuma com a fera, Nas garras da felina eu me apascento.
Eu sei que isto parece uma heresia, Gostar da própria dor é masoquismo? Porém se a solidão já me inebria Funâmbulo vagueia sobre o abismo
Devolvo ao desamor, mesma moeda, E aguardo a cada instante a minha queda...
746
A solidão se faz caricatura, A simples garatuja que se esquece, O quanto me derramas de ternura O peito enamorado te obedece.
A porta escancarada em noite clara Permite que se encontre a rara lua, Além do que pensara ou mais sonhara A sorte em minha vida continua.
Contínuas emoções se revezando, Num carrossel de gozo, alma se encanta, Eternidade em paz se revelando, Vontade se dourando em força tanta.
No corpo da mulher o ancoradouro Nos lumes deste sonho, eu já me douro...
747
A solidão terrível companheira Compele nossa sorte ao dissabor. Amiga, desfraldar esta bandeira Talvez seja um delírio salvador.
A chance que parece derradeira Se faz em nosso canto, puro amor. Após a chuva fria e traiçoeira Quem sabe novo sol a recompor?
Por isso te proponho a tentativa De unirmos solidões em esperança. Quem sabe uma alegria enfim reviva
Nascida deste sonho alvissareiro. Unindo nossas dores, a aliança Refaz um mundo amigo e verdadeiro...
748
A solidão impede qualquer sonho E nega a redenção enquanto viva, Dos dias mais felizes já nos priva E nisto de desenha um ar medonho, Além do que deveras eu proponho A sorte se mostrando vã, cativa, E o tanto quanto pude agora criva O peito em ar atroz, ledo e tristonho. Cenário; aonde eu tento ainda ver As sombras do que fora algum prazer Rondando a minha noite em tênue luz, Depois de certo tempo enfim sem rumo, Aos poucos com tal dor eu me acostumo, E ao nada o mesmo nada me conduz.
749
A solidão terrível, muito amarga Qual fora um oceano tão sombrio. Pesando em nosso peito, dura carga Tomando um coração em vento frio, Apenas na amizade já se alarga Caminho que julgávamos vazio...
Procura-se um amigo com lanterna Na noite escura e negra da amargura. A mão que nos envolve, mansa e terna, Transborda em tais carinhos, com ternura. Quem sabe sendo assim, a vida eterna Não seja uma utopia e sim a cura.
Um ramo de oliveira, a pomba traz, Numa esperança clara, toda a paz...
750
A solidão, vazia, se esfumaça Ao ter tua presença, mesmo ausente Imagem que não larga a minha mente E nem assim distante ela se esgarça.
Outro amor? Coração logo rechaça, Saudade me procura novamente, Um gozo tão sublime e mais freqüente Melancólico riso não disfarça.
Embora tão amargas, minhas noites, A pele se acostuma a tais açoites E deles sente falta com certeza.
Nestes constantes sonhos não me largas, E neles, num instante, tu me afagas Dourando a madrugada em tal beleza...
751
A solução que buscas, mesmo eterna Talvez não seja o rumo desejado. Misturas as antigas e a moderna Num círculo que formas, tão fechado. Felicidade morre assim, hiberna Deixando o que há de bom sempre de lado.
Esvoaça em momentos, minha mente E volta num cuidado redobrado. Sem opulência ou lume florescente O passo que eu quis dar foi estagnado Talvez a solução se mostre urgente Em novo mandamento renovado.
Amar a Deus por certo, na verdade, É respeitar valor de uma amizade.
752
À sombra da esperança feita em flor, Aguada com as lágrimas sentidas Na ausência deste enorme e doce amor, As dores dominando nossas vidas.
Mas saiba que voltando, renasci. E agora partirei junto contigo Ao mundo que sonhei viver aqui E há tanto tempo, amada já persigo.
Beijando tuas mãos, a tua pele, Alçando em cada verso uma alegria. Que o tempo agora, amada se congele E aqueça eternamente a noite fria
Jamais me abandonar, isto eu te peço, Amor enorme eu tenho e te confesso...
753
À sombra da saudade, amor me infesta, Trazendo a tua voz, longínquo sonho... Distante deste porto, o barco em ponho Em ondas, solidão, minha alma gesta.
Vagando em noite escura na floresta Das esperanças nada mais proponho. O dia; eu sei, virá sempre medonho. A morte a cada curva; algoz, me testa...
Meu canto se esvaindo, assim, agônico. Meu passo prosseguindo, vão, distônico Apenas o vazio se aproxima.
Sentindo-me, deveras, histrião, Recebendo em resposta o mesmo não Apenas a saudade inda me estima...
754
A sombra de um terrível desengano Vagando pela casa, tão funesta, Esconde na verdade antigo plano Deixando ao coração a dor que resta.
Gargalha este sorriso desumano E mostra a dura face pela fresta Bem antes que se abaixe último pano Final indesejável se detesta.
Miasmas flutuando no cenário O riso se tornando temerário, Ausência do que fomos vaga à solta.
Amor que se fez morte e desespero Em minha cama verte este tempero Mistura de terror e de revolta.
755
A sombra do que fomos me acompanha, Funâmbulo dos sonhos; perco o rumo. Distante dos teus olhos. Triste sanha, Apenas desejei manter o prumo.
A vida se propondo em tal barganha Nos erros que cometo e não assumo. Quem sabe decifrar decerto ganha, Minha alma sem destino vira fumo.
Nocivas esperanças numa espreita Enquanto a solidão já se deleita, Cravando suas garras no meu peito.
Quem dera se eu pudesse ainda crer Que um dia, poderia talvez ser, Nas sendas da ilusão, querido e aceito...
756
A sombra do que fomos me persegue. Esvaecidos sonhos não me deixam... O luto de minha alma não consegue Deixar-me. Então as flores já se queixam
Abandonadas, mortas no jardim. Tal sombra não me deixa um só minuto. Devora o restou de bom em mim, Tão manso que já fui, agora bruto...
Sou simplesmente um nada que passeia, Na busca da fatal tranqüilidade. Mergulho, prisioneiro em triste teia.
Não passo do que foi e não voltou. A vida se transforma iniqüidade, A sombra do que fui, o que restou...
757
A sombra do que fui já me devora, Deixando tão somente uma saída, Se o olhar que inda te trago se descora, Quem sabe renascendo em nova vida
Após meu funeral em luz sombria Permita ao eremita ser feliz. A morte me fascina. A fantasia Criada noutra senda expõe e diz.
O vaso que se quebra jamais é Do jeito que se fora noutro tempo, Vivendo com loucura, risco e fé, Talvez ainda vença o contratempo
Armado qual cilada a cada passo, Negando à fantasia o seu espaço...
758
A sombra quando passas; vira sobra, As uvas viram passas, peças finas. Os olhos enigmáticos de cobra Não deixas no cavalo rabo e crina.
Um preço inflacionário, o tempo cobra, Nas camas dos motéis, belas meninas. Orgia tão sem nexo se desdobra Bacantes são as mães, as mãos, as sinas.
Depois fingis ouvir os meus reclames E um riso desdenhoso já me deste. Por mais que me pareçam mais infames,
O olhar já se mostrando transmutado, O moço tão simplório vira peste, Subornos te fizeram deputado...
759
À sombra tão serena dos carinhos Tua presença invade a minha mente Contente, se pressente outros caminhos Os ninhos vão mudando de repente.
Nos olhos e narinas, forma e cheiro, Ouvidos, boca e tato, paladar O canto vem chegando alvissareiro Gostoso se beber e de tocar.
Transborda pela casa, abre a janela Entranha o travesseiro e o cobertor Cavalo da esperança já se sela Trafega pelos céus buscando amor.
No jorro de palavras, frases feitas, Delícias vão brotando enquanto deitas...
760
A sorte de te ter, já não se cala, E forma em cada verso, um elo forte. Deixando para trás tristeza e corte, Do meu passado amargo, uma senzala
Que fora em minha sina, uma ante-sala Numa programação que leva à morte. Amor me dominando em alta escala Prelúdio tão divino, a dor aborte.
Proclamas nosso amor aos sete mares, E falo do carinho aos quatro ventos. Colhemos tantos frutos dos pomares
Que plantamos com arte e sentimentos, Contigo, amada, irei por mil lugares, Com todo este prazer, nossos momentos....
761
A sorte de um amor quando encontraste Jogaste na janela em dissabor, Receba então espinho e mate a flor, Deixando tão somente uma fria haste.
Segredos que em verdade murmuraste, Falando assim tão mal de um pobre amor Não deixam quase nada a te propor Senão tentar conter este desgaste.
Meu verso ultrapassado vai teimoso, Que faço se não posso mais conter, Em liberdade solta a sua voz
E volta novamente caprichoso Na busca insaciável por prazer, Tendo em mulher amada a bela foz...
762
A sorte de viver, amor, alcança E deixa no passado toda a dor. No quanto quero a vida recompor O tempo de sonhar trama a festança.
Amor que pressupõe tal confiança Deveras um farnel encantador. Alvíssaras ao gozo com louvor Marcando nosso mundo em aliança.
Enoveladas pernas sem fronteiras, Misturas delicadas e sutis. As horas preferidas, costumeiras
Adentram madrugadas, ganham dias. Cansado de viver só por um triz Entrego-me ao calor das fantasias...
763
A sorte derradeira e prometida Jogada nos beirais desta janela, No suicídio salvo a minha vida, E tramo uma esperança sem tramela.
Quem ama na verdade se congela, Escravo desta inglória mais querida, Acendo toda noite a mesma vela Capaz de incendiar qualquer saída.
Marco o corpo inteiro em tatuagem, Sorvendo com prazer qualquer bobagem Capacho em garatujas; erros crassos,
Divido o que somei há tanto tempo, E mesmo que me entregue ao contratempo, Bem firmes meus caminhos e meus passos.
764
A sorte num segundo se transmuda Meus dedos engelhados, meus problemas, Sem nada que proteja ou que me acuda Ainda sinto a força das algemas
A dor de uma saudade é tão aguda, Por mais que tu me digas que não temas, Imagem do passado na alma gruda, Fleumática, dorida cria emblemas.
A boca sem teus beijos, vã procura, Esgueiro pela vida, simplesmente. Enquanto este vazio atroz me invade.
A noite desenhada em amargura, O tempo de viver, já não se sente. Apenas tão somente, esta saudade...
765
A sorte pouco a pouco se esvazia Não restando sequer um riso franco A solidão matando a fantasia Corcel já não galopa; velho e manco.
O quanto que eu tentei e nada fiz, E tudo o que eu temia, aconteceu. Uma esperança, eterna meretriz Levando o que restou do que foi meu.
Palavras que me dizes, de consolo, Não servem para nada, me perdoe. Durante tanto tempo, simples tolo Que em vagas tempestades inda voe
A marca das angústias demarcada Na pele pelas dores tatuada...
766
A sorte qual pensara, destroçada Deixada em algum canto do canteiro Agora ao me mostrar bem verdadeiro Adentra uma emoção, enamorada.
A força a cada passo demonstrada Estende na janela o mundo inteiro, Usando uma ilusão como tinteiro A moça dos meus sonhos desnudada...
Prelúdio desta noite que insensata Aos poucos, dominando me arrebata Incêndios prometidos no meu leito.
Em claras explosões os multicores Caminhos entranhados por amores Invadem em delícias cada peito...
767
A sorte que desejo, toda minha; A quem transmite sonhos inocentes, Em meio à tempestade que já vinha Rangendo, temerosa, todos dentes,
Encosta no meu ombro, assim se aninha Sorrindo com seus olhos tão contentes. Delicadeza frágil de avezinha. Término dos meus dias penitentes...
Pois ela, minha dita que ansiei Por tempos, longos dias, muitos anos... Fazendo dos meus sonhos soberanos,
Caminho para o amor, em nobre lei. Agora que chegou, minha alma fala Abrindo o peito, o quarto, a casa, a sala...
768
A sorte que já fora vaporosa, Nos olhos de quem amo, logo muda, Trazendo em noite clara e tão formosa Dourada sensação de grande ajuda
Da flama que me invade mais fogosa Que venha em noite clara e não me iluda. Presença sem igual, maravilhosa Deixando uma tristeza quieta e muda,
Espalho o meu cantar pelo universo, Cantando o pleno amor a cada verso E nele encontro rumo, acerto a rota.
Ao lado deste amor que nada cessa Revivo muito além de uma promessa Uma amizade imensa, mas remota.
769
A sorte que me foi já concedida, Mostrando em mansidão um belo aceno, Mudando de repente a minha vida, Moldando meu futuro mais ameno.
A paz tão desejada e bem querida Num toque mais gentil, suave, ameno Numa amizade plena e recebida, Antídoto real para o veneno
Da negra solidão que assim não cabe, No peito de quem tanto amor já sabe E agora não caminha mais vazio.
Deixando no passado esta lembrança Na cena que se esvai já sem fiança Um coração que morre, estranho e frio,
770
A sorte que se mostra verdadeira Estampando na face um bom sorriso. Além de uma bonança corriqueira O toque que se mostra mais preciso.
Vencendo quaisquer medos ou terrores, Uma amizade diz ao coração. Trazendo a perfeição feita em pendores Poeira que assenta sobre o chão
Demonstra o quão de ti eu necessito, Uma sublime forma de carinho. Dobrando mesmo a força do granito, Retira de meus passos um espinho.
Florada que se mostra em primavera, Apascentando assim, temível fera...
771
A sorte que se mostra, tão serena Permite que eu consiga contemplá-la; Mulher em tal beleza, rara e plena Fulgurante, ilumina toda a sala.
Intérmina ilusão em vão se acena Com mistérios diversos da cabala Enquanto traz a cura me envenena, Mantendo com soberba pose em gala.
Uma esperança audaz, porém esquálida Tramando a fantasia da crisálida Em vã intensidade vai e avança.
Ainda espero o sol ao fim da estrada, Clarão esplendoroso não diz nada. Amor em tempestade quer bonança...
772
A sorte tanta vez emoldurava A vida se mostrando em passo lento, Ao mesmo tempo a dor se aproximava Tomando já de assalto o pensamento.
Quem noutros tempos; mudo, se tornava Ao perceber no fim, o sofrimento, Carinhos e torturas, misturava, Deixando a solidão como rebento.
Agora que encontrei na grande amiga Açude de esperanças, santas águas, Esqueço que passei por duras mágoas
E vejo o meu destino que se abriga Nos braços da esperança benfazeja Na qual uma amizade se deseja...
773
A sorte tão volátil nos abriga E ao mesmo tempo este abandono; Por mais que a luz se mostre apoio e viga O amor vai se perdendo no oceano.
Nas velhas fantasias que eu cultivo Apenas as saudades são fiéis. Um canto de esperança embora altivo Encontra tão somente amargos féis.
Vieses que se mostram mais constantes Trafegam no meu peito sem destinos. Quem dera se eu pudesse por instantes Conter os mais temidos desatinos.
Nas noites que varei em solidão Saudade toma o rumo, a direção...
774
A sorte, esta cigana vagabunda, Vagando sem destino, segue ao léu, Qual verme passeando em carrossel, Minha alma do vazio fel se inunda.
Enquanto em farta lama se aprofunda, A morte vem cumprir o seu papel, Esperança caída do corcel Do verde esmeraldino, à tez imunda.
Aperte então seu cinto, cavalheiro, Que o vento derrubou a aeronave, O seu lugar no espaço, insano, cave
Que o frio é do final, o mensageiro, E o quase que jamais concretizaste Levou num só momento, apoio e haste...
775
A sorte, sendo espúria, nos deserta, E impede que se encontre, enfim, a glória, Porta que permanece sempre aberta, Garante ao fim de tudo uma vitória. O coração amante já desperta O tempo de viver mudando a história.
Bebendo com fartura amor e paz, Não temo mais as pedras do caminho. A noite benfazeja assim me traz A mansidão perene de meu ninho. Amor quando demais só satisfaz Não deixa que eu prossiga mais sozinho.
A placidez suave de um regato, Trazendo uma emoção que aqueça o prato.
776
A sua voz escuto nesta brisa. Que toca os meus cabelos mansamente. O vento neste toque já me avisa Do sonho que busquei, completamente.
A boca delicada e mais precisa, Mostrando esta alegria, docemente A sorte redentora aromatiza Felicidade um sonho mais freqüente.
As estrelas que espalhas pelo chão, Refletem num momento, esta paixão Cobrindo este horizonte em claro véu.
Liberto, destemido e sem algemas, Em meio a tantas crises e problemas Meu verso vasculhando, ganha o céu
777
A súcia dos ladrões associados Fizeram da bandalha uma bandeira. A multidão de pobres esfaimados Jogados numa eterna quarta feira
Das cinzas os seus olhos arrancados, Rasgando com vontade a bandalheira Matando estes canalhas perfilados, Num gozo de alegria verdadeira.
No parto de uma nova consciência As lágrimas trarão felicidade, Os elos mais profundos da amizade
Trazendo a tão querida penitência Aos velhos vagabundos e seus ternos, Ardendo eternamente nos infernos...
778
A tarde cristalina em belo ocaso, Deitando sobre a terra seus mistérios. Roçando nos seus raios ao acaso Encontra os pensamentos mais etéreos...
Galopo sobre o lume deste sol Buscando eternidade que não vinha. Aos poucos transtornando o girassol Beleza deste olhar que descaminha.
Confunde com teus olhos tanto brilho Os raios desta estrela matutina... Eu perdido, também me maravilho Com todo esse esplendor que descortina
Na força sem igual do teu olhar, Na tarde em minha vida, vem brilhar!
779
A tarde declinada e tão fugaz, Prenunciando nossa noite, Lara; Os meus restos jogados, minha cara, São as formas cruéis, são invernais...
Bem que eu tanto quisera ser capaz. Mas, inútil, percebo, nova escara... Estampado nos olhos, não repara Nas mentiras que estrago, vãs, normais...
A chuva demitindo as esperanças, Da volta, novos dias, velhas danças... Para sempre, empregando meus fantasmas...
Convulsivos segredos são miasmas, A noite chegará sem ter perdão... E Lara está perdida na amplidão!!!
780
A tarde incandescente de verão, Nos altos das montanhas muge gado... Os reflexos solares no sertão, Espero meu amor apaixonado...
Não posso conhecer a solidão. Contando com você aqui do lado, As horas disparando o coração, Da noite esperarei um bom bocado...
As horas se passando calmamente, No turbilhão das cores, primavera... Nas matas escondidas as serpentes,
Na porta do esplendor da bela tarde... Fugindo vou matando essa quimera, Na espreita sem fazer nenhum alarde...
781
A tarde que me trouxe esta alegria Desmonta-se em terrível tempestade, Formando tantas nuvens, morre fria, Em plena sensação de insanidade.
Quem fora uma promessa de vitória Adormecendo mostra-se quimera, A vida se repete; a mesma história, Trazendo imensa dor, temível fera.
Agora a solidão não me perdoa, Andando do meu lado, castra o sonho, A dor de te perder inda ressoa Num vívido sofrer, o mais medonho...
Meus olhos empapuçam, sem beleza, Vão se encharcando em lágrimas, tristeza...
782
A tarde se desnuda em tons de rosa E vai se despedindo, aguarda a lua. Que ao chegar divina, esplendorosa Encontrará, na cama exposta e nua
Mulher que se tornou maravilhosa E que em beijos sedentos já flutua. Após a tarde bela e radiosa O meu prazer intenso continua...
Na rua confusão: buzinas, carros, Na cama, tentação de minas, sarros. Os pensamentos unem os desejos.
A tarde se desnuda no horizonte, Delírio vai minando em bela fonte Mantida sem cessar por doces beijos.
783
A tarde tão nublada no meu peito Parece que mais tarde vai chover, O dia se arrastando desse jeito Distante deste amor, e do prazer
Que possa me deixar mais satisfeito E ajuda a gente sempre a perceber O quanto ser feliz é meu direito E ter na minha vida um bem querer.
Amor que na verdade em seu mistério Encanta enquanto traz terrível dor. Não tendo com certeza algum critério
Amor é feito em lágrima e calor. Quem dera se esta chuva enfim passasse E a dona dos meus olhos já chegasse...
784
A tarde vai caindo, espreita os olhos meus... Um sino repicando ao sabor dessas horas... Rezando por Maria, espero por meu Deus. Lembranças d’outro dia, à noite, enfim, imploras...
Meu olhar embuçado, aguarda pelos breus... Não posso reclamar, preciso, sem demoras... Saudade me destrata, aguardo os olhos teus. A noite então trará certeza das auroras...
Descanso meu cansaço, envolto nos teus braços... Amor que foi dolente, o sol já não me queima... Na caça que fizeste, abraços foram laços...
Martírios deste amor, brotando na verbena. Mal posso traduzir, ressurges nesta teima, Amor que já floresce, as cores da açucena...
785
A tarde vem caindo... O medo chega... Distante de quem amo me pergunto, Se encontro do outro lado a mesma entrega. Se ela também quisesse sonhar junto
Comigo! Certamente mais feliz; Poderia viver intensamente O gosto deste amor... A tarde diz Que o frio chegará e novamente
Sozinho, tão vazio de esperanças Apenas restará meu triste verso. Quem dera se pudesse nas andanças
Levar-te com carinho aos universos Que preparei somente pra te dar.. Nos meus braços... Somente este luar...
786
A tarde vem caindo sobre o rio E um por de sol se mostra multicor. A noite sem ter lua, em tanto frio Distante de quem tenho puro amor.
Aqui num triste inverno, lá estio, Quem dera desfrutar deste calor, Um mundo imaginário então eu crio E passo num segundo, a te propor
Um banho na cascata da ilusão Regado ao Porto Vinho mavioso. E assim ao aflorar tal emoção
Prometo te darei mais fino gozo, E vamos decididos pro verão. Que inverno tropical vai rigoroso...
787
A tarde vem caindo... Um dia a mais A noite traz a lua? Quem me dera... No inverno de minha alma esta quimera Prepara novamente os temporais,
Pudesse acreditar em divinais Momentos renovando a primavera, Porém o que em verdade o peito espera Traduz estes tormentos invernais.
Depois de tanto tempo solitário O amor já não se vendo, imaginário, Arisco pensamento dita o fim.
E assim ao me encontrar em neve e pranto, Apenas este estio enfim garanto Matando o que restara em meu jardim.
788
A tela ao fim da peça nunca cai, Palhaço agonizando no cenário. O velho que pensara samurai Não passa de imbecil ser temerário.
Algozes dos meus sonhos, os teus lábios Ressecam com sarcasmo uma ilusão. A frota sem destino ou astrolábios Promete neste inferno, atracação.
O inverno recomeça a cada dia, Amanhecendo em névoas, morto o sol. Apenas me restou melancolia A seca vai tomando este arrebol.
As garças vão embora, nada resta, A solidão adentra em cada fresta...
789
A terra que esperança já tolhia Tornada em frágil senda derrotada; Nas ondas tão distantes da alegria O canto se espalhando em dura estrada
Na vívida impressão do não havia, Restando no meu peito o quase nada. Nas asas do meu sonho, a poesia A cada novo dia, renegada.
Amor já se afastando só me resta Fazer desta saudade o meu refém. Trazendo finalmente a voz de alguém
Que possa traduzir felicidade, Depois deste vazio, alguma festa Nos rastros tão sutis de uma amizade...
790
A terra se esparrama em vento e pó, deitada sob o sol, enlanguescida. Na cruz de tantas almas, vento só deixando para trás restos de vida.
Quem veio dos engenhos e moendas, já sabe e reconhece uma amizade. Sertão, princesas, reis, castelos,lendas. Apenas resta a seca, na verdade.
Esfinges que encontrei pelo caminho, as velhas carpideiras da esperança. A sorte de não ser ermo e sozinho criando com meus sonhos aliança,
ferrenhas ilusões que se perderam, nas léguas que meus olhos já venceram..
791
A terra sertaneja tão bravia, Demonstra a estupidez da natureza Porém o puro amor que eu bem queria, Contendo a perfeição feita em beleza, Numa lua caipira traduzia Amor imenso, pleno de grandeza.
Quem dera se esculpisse com buril As formas da morena que eu deixei, Nas matas nordestinas, amor viu O quanto na verdade eu tanto amei, Semi-aridez no solo duro e vil, Um coração divino eu encontrei.
As lágrimas caindo qual cascata, Saudosas dos carinhos da mulata...
792
A terra toda em lágrima encharcada Enquanto tu prossegues teu caminho. Não quero prosseguir sempre sozinho, Buscando com clamor esta alvorada.
A pele em cicatrizes tatuada, Algemas que contêm um passarinho, O coração vazio, pobrezinho, Recebe como herança o mesmo nada.
Nas teias em que braços me molduram Momentos mais sombrios se asseguram, Sem sândalo, apodrece este machado.
Viagem por diversas emoções, Flechado por teus olhos, quais arpões, Um Paraíso imenso vislumbrado...
793
A terra vai girando e traz a lua, Buscando a claridade deste sol, Minha alma na tua alma já flutua Te sigo, um helianto, um girassol...
Desejo o teu desejo em cada dança Em cada sinfonia que fizermos, Amor quando demais de amor não cansa, Os cantos que cantamos são eternos
E ternos nossos sonhos mais felizes De estarmos irmanados neste afeto, Que sabe como doem cicatrizes Por isso nosso amor, o predileto...
Eu quero ressurgir na poesia Que canta o nosso amor, em harmonia...
794
A ti dedicarei, eu te prometo, Os versos que se entornam na canção. Aos braços de quem amo eu me arremeto E solto um grito enorme na amplidão.
No chão que tantas vezes foi tão duro As mãos de um trovador teimam sementes. O quanto é necessário com apuro Vencer as tempestades em torrentes
Pressente que se veja em escultura As formas desta sílfide sem par, Na pele entronizada tal ventura De um dia todo o sonho desfrutar.
Eleva o pensamento, alçando um trono, Reavivando império em abandono...
795
A tinta em que se expressa o meu passado Relembra a minha casa e seus quintais. O tempo tantas vezes é quarado Depois vai se secando nos varais.
Do menino correndo sigo ao lado Lembranças vão guardadas nos bornais. Joelho pelas quedas esfolado, Estrelas que se foram, nunca mais..
Saudade se transforma num pomar, Cadeiras espalhadas na varanda. Vontade de partir e de voltar.
O tempo em sofrimentos já desanda, Fantasma do que fui, dança ciranda A casa; veio vento derrubar.
796
A tísica presença da esperança Fugaz que, tantas vezes, me dizia Da claridade intensa de outro dia No qual uma alegria amor alcança.
A farsa que montara, vil criança, Matando aos poucos toda fantasia Enquanto não raiava, me escondia Por sob suas mãos a dura lança
Que algoz de uma ilusão se transformava, Vulcânica expressão, temível lava Tomando este arrebol em plenitude.
Da outrora sensação de juventude Não resta nem resquícios, disso eu sei. Apenas o vazio que eu herdei...
797
A top model desfila anorexia Minhoca mal vestida, passarelas... Sonhando com fatal apoplexia Complexo de faminta tu revelas.
Devoras dois pedaços de repolho, Pensando na lasanha e no croquete. Quatro gotas de azeite; tosco molho E a moça/prisioneira não repete.
Escrava de um modelo carcomido, Confundindo ossatura com beleza Se o silicone aumenta uma libido Da cirurgia plástica ela é presa.
Prefiro uma gordota rechonchuda; Menina tome senso e não se iluda!
798
A trancos e barrancos eu pretendo Viver o que talvez não poderia Não fosse esta parceira, a poesia, O dia eu não veria amanhecendo.
O cedo que não cede me contendo O verso se entregando em fantasia, Por mais que uma alameda assim surgia O vento não entranha nem desvendo...
Cruel caricatura do que espera Aquela que mordaz, qual bruta fera Espreita atocaiada, bote certo.
Sem ter uma amizade, esta procura Redunda no final numa amargura, Fatídica expressão, feroz deserto...
799
A tua amizade Por certo me traz Força de vontade Certeza de paz,
Achei a verdade, E sou mais capaz Ao ver claridade Que enfim satisfaz.
Meu verso incontido, Se mostra mais forte, Contigo decido,
Meu rumo, o meu norte, E vou protegido, Não temo nem morte...
800
A tua ausência mata a fantasia Menino coração já se desbota, Perdendo a direção, procuro a rota Na estrela matutina que me guia
Levando ao sol imenso que irradia, Abrindo deste mel pote e compota, Meu peito anda de lado, e vai cambota Sob o peso do amor que o sonho cria.
Vertendo tantos sonhos pela pele, Enquanto a poesia me compele A ter uma ilusão como bandeira,
A vida sonegando o Paraíso Permite-se cruel ao vago aviso Da estrofe que agoniza, derradeira...
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