Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 008

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 
701

A saudade cruel, me trucidando...
Não permite que te fale, calmamente...
Por mares que não tive, navegando,
Saudade vai cortando, cruelmente...

A noite que se inunda vem chegando,
Trazendo teu veneno de serpente
Amores que vivemos, vão passando.
Me restam míopes olhos, peço lente...

Porque chegaste assim, noite nublada?
Relâmpagos afagos e coriscos...
A voz que te clamava, tão cansada,

O medo de morrer me deixa triste...
Saber de nossa vida, de seus riscos,
Saudade devorando, não desiste...


702

A saudade desfralda abrindo uma asa
Sobre quem se afastou da vida há meses.
Encaro estas derrotas e reveses
Queimando o coração em forte brasa.

Lembranças que ficaram desta casa,
De amores que já foram siameses.
A dor que no começo vinha às vezes
Agora a todo instante já me abrasa.

A um tempo mais feliz eu me arremeto
E faço deste verso uma mortalha,
Quartetos e tercetos de um soneto

Cortando minha pele, na verdade,
A morte, sorridente já retalha
Um coração imerso na saudade...


703


A saudade é dolorida,
No meu peito deu um nó,
Depois desta despedida,
Coração andando só,

Na longa estrada da vida,
Vou comendo tanto pó,
Morena na despedida,
Foi-se embora sem ter dó.

A saudade traz apuro,
Maltratando, não descansa,
Meu amor pra sempre eu juro,

Nunca tirei da lembrança
Nosso amor, que foi tão puro,
Mas morreu cedo, criança...



704


A saudade é tormento, esmaga o coração...
Procura pelo porto, encontra podre cais...
Saudade dolorosa em busca do perdão
Esbarra na vontade, e vai pr’a nunca mais...

Saudade que me corta, em tanto sonho vão,
A resposta, sempre ouço, a mesma, pois jamais
Saudade terá mesa em toda essa amplidão.
A dor dessa saudade a saudade me traz...

Recordo-me do beijo, amor que já morreu...
O céu que sempre brilha; invernoso nublou.
A noite que era clara e já se escureceu

Demonstra quem eu fora e nunca mais serei,
O tempo que sonhava e que já se acabou
Foi um tempo feliz onde amar era a lei!



705


A saudade faz estrago
Disso eu sei e até garanto,
Porém tendo um manso afago
Eu encontro um novo encanto

Quero placidez de um lago,
Nos meus olhos? Nenhum pranto,
Pois o amor, divino mago,
Da saudade nega o manto.

Sendo assim, quero o teu beijo,
Teu carinho sem igual.
Vem matar o meu desejo,

Esquecendo da saudade,
Do prazer fazendo a nau
Aporto na liberdade...
Marcos Loures



706

A saudade fez estrago
Feito um grande vendaval,
Do trigal nem mesmo um bago,
Resistiu ao temporal.

Meu amor sem um afago
Naufragou saveiro e nau,
Se oceano vira lago
Só restou do mar, o sal.

E a mortalha que carrego
Sem descanso todo dia,
Mesmo vendo fico cego

Nem consigo reparar
Na beleza que se via
Numa noite de luar...



707

A saudade me clama, (é tão teimosa)
Não se esquece jamais meu sobrenome...
As bênçãos divinais, canteiros, rosa,
Meu tempo indefinido... Tudo some...

Saudade se demonstra gloriosa
Baixinho me chamando pelo nome.
Os marcos do que tive verso e prosa.
Meu fígado, meus olhos, cedo come...

Já vem despetalando o coração.
Afaga-me qual fora um pobre cão.
Alaga-me nas lágrimas que mente...

A vida se resume no perdão,
Saudade vai chegando, lentamente...
Meu mundo já desaba, de repente...


708

A saudade me diz tanto
Deste bem que eu já perdi
Meu amor em teu encanto
Diz do sonho que eu vivi

Quando à noite vem o pranto
Eu me lembro então de ti,
Cada estrela tece um manto
Solidão enfronha aqui

E nos braços desta lua
Adormeço esperançoso
Quando o sonho continua

De saudades, minha rede,
Teu olhar maravilhoso
Resta apenas na parede...

709

A saudade me tomando
O tempo quase não passa,
Aos poucos me matando,
Nem sorriso mais disfarça

Eu procuro e não sei quando,
Esperança se esvoaça
Meu castelo desabando
Se perdendo na fumaça.

Velhos sonhos que se foram,
Meus sorrisos de ironia
Tão somente me decoram

Que me dera se eu pudesse
Ter de novo a fantasia,
De um amor que não se esquece...



710


A saudade valoriza
Cada dia que vivi,
Tempestade vira brisa
Quando estou perto de ti,

O teu verso já me avisa,
Estarei depressa aí,
Na palavra mais concisa
Dos teus beijos me embebi.

Venha ser minha sereia
Que serei seu Odisseu,
Teu amor bateu na veia,

Coração enlouqueceu
Tua fome me incendeia
Eu serei, depressa, teu..



711

A seca do passado, enfim, deserto
E sinto a chuva mansa e promissora,
Prepara todo o solo e desde agora
Terei felicidade aqui por perto.

Quem veio de um caminho tão incerto,
Já sabe valorar a redentora
Presença de quem ama. A vida aflora
Tornando o coração bem mais experto.

No olhar de brilho farto, reluzente,
A maciez das mãos sobre meu peito,
Amor que assim domina toda a gente

Invade qual posseiro, benfazejo.
Felicidade plena é um direito
Trazendo a paz sincera que eu desejo.




712

A seca do passado, enfim, deserto
Ouvindo uma alegria em temporal,
Dos meus grilhões, agora eu me liberto
Na imensa fortaleza sem igual

Formada pelo encanto de teus olhos,
Deixando a solidão, adentro os sonhos,
Arranco dos caminhos tais abrolhos
Prevejo novos dias mais risonhos,

Sem ais e sem tormentas que me impeçam
De ter uma esperança, mesmo breve,
Os cantos mais sublimes recomeçam,
Felicidade chega e se atreve

Neste arco-íris tão raro de se ver
A fonte luminosa do prazer.


713



A seca nos meus olhos, puro acaso.
Seara onde se ceve uma ilusão,
Por falta de carinhos, morre o prazo,
Das trevas de minha alma, lavação.

Humanidade segue para ocaso,
E disso estou bem certo. Nega o pão
Destroços na colheita quebram vaso,
Ao desertificar, quer plantação

Os olhos d’água secos, cadê lágrima?
Não venho te falar somente em lástima
Esgrimo com palavras, vale nada...

Apenas distrações de um sonhador,
A par do descaminho, perco o andor,
Na procissão amarga, anunciada...


714

A seca se derrama nos meus solos,
Ausência de motivos pra viver.
Cativas ilusões, negando colos,
Misturam agonia com prazer.

Agônica manhã se prenuncia
Fazendo deste sonho, um pesadelo,
A boca que destrói decerto ungia
Rasgando minha pele; frio gelo.

Atrocidade inerte e sem limite
A marca da pantera se entranhando,
Amor no qual nem mesmo se acredite
Aos poucos meus caminhos sonegando.

A par da estupidez de cada verso,
Não vejo outra saída, vou disperso...



715



A seca tomou toda a plantação
De tudo o que cevei, nada brotou,
Apenas o vazio enfim restou,
Deixando este sabor de negação.

Abordo cada sonho e o mesmo não
Repete o que na vida se escutou,
O barco com certeza naufragou,
O cais se transformou, pura ilusão.

Mas tento novamente, não desisto,
Qual fora um insensato, inda resisto
E tento novamente ser feliz.

A boca que hoje beijo não me quer,
Desejos caprichosos de mulher,
Vontade de viver, vida desdiz...



716

A sede de viver, querida amiga,
Permite em labirinto uma saída,
Deixando que esta estrada enfim prossiga,
Porém nos marca sempre pela vida.

Sobrevivi também à dura queda
Embora com fraturas, luxações.
Nem mesmo uma tristeza eterna veda
Os olhos de quem vive as ilusões

Como se fossem náufragos perdidos
Nos mares mais distantes, nos atóis.
Os sonhos tantas vezes são urdidos
Apenas como simples girassóis.

Bebendo, neste instante, num momento,
A vida como fosse um cata-vento.



717


A sede quando é muita, saiba disso,
Não deixa mais o cabra descansar.
A flor mais delicada ganha viço
Enquanto uma vontade quer matar.

Das águas que busquei nenhum sinal,
Porém uma morena deslumbrante
Com rebolado intenso e sensual
Tomou todo o cenário num instante.

Embora não quisesse ser só minha,
Fingindo que uma vez não fosse nada
Deitando em sua cama, assim sozinha,
A festa foi durante a madrugada.

Pois se no Tororó tal moça achei,
No mesmo Tororó eu a deixei...




718


A seiva extravasada traduzindo
Desejo magistral de ser feliz.
Aos poucos teu prazer vai esculpindo
Na forma desejada que mais quis...

Desnudo tua pele, mansamente.
E vejo em teus anseios, tal nudez
Transpiras neste afã mais indecente
As tramas nessas transas que se fez...

Avanças mansas loucas mais tenazes
Refletes tentação a cada espasmo.
Pressinto tais vontades mais audazes
E sinto a contração do amor, vou pasmo...

Na língua que percorre o paraíso,
As estocadas no ponto mais preciso...



719


A sensação terrível de uma morte,
Arrasta em turbilhão meu pensamento,
O tempo em solidão passando lento
Trazendo esta amargura feita em corte.

O sonho engravidado que se aborte
Causando, sem defesas o tormento
Por vezes tanto luto e sempre tento
Coração imprudente perde o Norte.

Mas quando num chorinho bem marcado
O peito enamorado e tão chorão,
Transbordando alegria, traz esperança.

Mansamente num ritmo sincopado
Querendo essa gostosa sensação,
Convido-te, querida para a dança




720

A Serpe rastejante e caprichosa
Ao conhecer o fruto proibido
Sabendo ser mulher tão curiosa
Acende dos desejos, o sentido

E o homem, sem vontades, fascinado,
Devora o mesmo fruto sem pensar,
À morte se fazendo condenado,
Tentando ao próprio Pai, ludibriar

Negando ao Criador obediência
Expulso do Jardim; dista de Deus
E ao carregar em si tal penitência
Da luz se transformando em fartos breus

Sem respeitar enfim qualquer aviso,
Expulso desde já do Paraíso...

721



A seta que te entranha é mais gentil,
Penetra tua pele e chega ao fundo,
Vencido pelo amor em um segundo,
O mundo finalmente já floriu.

Coração sem juízo e vagabundo,
Escreve de maneira tão sutil
O campo constelar em pleno abril,
Mudando a direção, sou giramundo.

Não somo, nem divido, eu multiplico,
Não quero na verdade ser mais rico
Pois tendo tal riqueza em minha vida.

Do amor faço meu ouro e minha prata,
Na boca da morena e da mulata,
Encontro a minha vez já decidida...


722


A silhueta bela e tão esguia,
Em névoas sob as pratas do luar.
Num átimo tomando o meu sonhar
Entranha, num segundo, a fantasia.

O verso que decerto concebia
Beleza que inda tento conquistar,
Tornando mais suave o versejar
Fagulhas de ilusão ganhando o dia.

Descrente, tantas vezes, andei só,
Meus pés ainda trazem as correntes
Atadas quais grilhões, dura incerteza.

Quem dera se talvez tirando o pó
Pudesse perceber iridescentes
Manhãs a sonegar tanta tristeza...



723



A sina de quem sonha é o sofrimento,
Pensei durante tempos desta forma,
Porém a fantasia assim me informa
É chegado talvez; o meu momento;

E assim tal ilusão quero e fomento,
Fazendo deste encanto lei e norma,
E o velho coração crê na reforma
E trama com firmeza o novo intento.

Levando a minha vida deste jeito.
Cansei de ser escombro, ser rejeito;
Rejeito os estribilhos do passado.

Perfeito? Não pretendo nem o quero,
Que seja tão somente o mais sincero,
Diverso do que estou acostumado...



724


A sina de ser teu; agora aceito
E falo da vontade de te ter,
Recendes à ventura e ao bel prazer
Deitando bela e nua sobre o leito.

O jogo que começa a ser refeito
Regido pelas fontes do querer
Somando não concebe mais perder
E vive sem limites dá seu jeito.

Depois das ratoeiras espalhadas,
As caças passam ser ludibriadas
Jogando para as traças, fantasia.

Não sendo mais sequer um velho príncipe
Apenas me entregando, um vil partícipe,
Aos braços deste amor que me queria.



725


A sobremesa flamba em vera chama
Fecundando luares, trama o gozo,
Perdendo antigos rumos enquanto ama
Um sonho; farta vez, ambicioso.

Batalhas entre colchas e lençóis
Nas sedas e nas rendas, transparências
Penumbras esquecidas nos faróis
Dos ritos prazerosos, florescências...

Alabastrina senda em lua mansa,
Vestígios encharcando os cobertores;
Amor quando em desejos tem fiança
Transita entre caminhos redentores.

Vontade sem limites que proclama
Reflexos do luar sobre esta cama.




726

A sogra que me deste meu amor,
Desculpe, mas não serve para o gasto
Ao ver essa serpente me desgasto
E sinto, sou sincero, tanto horror.

O bicho sempre traz tanto terror
Não posso nem deixar solta no pasto.
Por todo amor que sei que é puro e casto
O peso que carrego é sem valor.

Um dia se morrer, pobre diabo!
Ao ver na velha todo o grande rabo
E a cara de fuinha da maldita

Sua alma vai ficar à revelia
Até que pobre Deus, com pena um dia
Ao céu carregará essa desdita!


727


A sogra que me deste
Querida; que suplício.
Não digo que ela é peste,
Azar ou precipício,

De negro se reveste
Que é por dever de ofício,
No caldeirão faz teste,
O bicho, este estrupício.

Porém tem as vantagens,
Depende do momento,
Às vezes redentora,

No trânsito em viagens,
Num engarrafamento,
Me leva na vassoura...



728


A solidão, quimera mais atroz,
Havia me legado ao sofrimento.
A boca da saudade, mais feroz,
Mordia cruelmente; esquecimento!

Distante de meu peito, ouço a voz,
Sincera e tão venal do meu tormento.
Sou rio que não sinto minha foz,
Destino me deixou, solto no vento....

Embora mais sincero que já fui,
O medo na verdade, contradiz.
Minha alma sofredora, vai perdida..

O tempo da existência nunca flui,
Sou pássaro ferido, qual perdiz...
Só me encontro feliz, se estás, Aída...



729



A solidão, terrível, mortuária
Se fez em minha vida, em triste treva,
Tragando toda a sorte numa leva;
Força descomunal e temerária.

Cantiga de um amor, tão solitária,
Matando uma esperança, olhar que neva
Por sobre um campo atroz, negando ceva
Tornando uma alegria relicária.

Porém, cedo chegou a calmaria
Trazida pelas mãos de uma mulher,
Depois que quase nada esperaria

Quem teve tão somente impaciência.
Da vida que se fez em penitência,
Já sonha com o dia que vier...



730


A solidão adentra em cada fresta
Inundando de lágrimas a casa.
Nos olhos revolvidos em tempesta
O tempo nunca passa e já se atrasa.

A brasa que se esvai em fogo lento,
Matando uma provável esperança;
Mergulho no vazio e sempre tento
Inútil sensação de uma aliança

Sem álibi que possa me salvar
Estendo os meus olhares na varanda,
A noite vai passando devagar,
O passo sem destino assim desanda

E tudo o que pensara ser feliz,
No esgoto se perdendo, contradiz...



731

A solidão ao ver um peito aberto,
Indefeso, viu logo um bom abrigo,
Porém meu coração anda desperto
Olhou pra solidão e: nem te ligo...

Olhando de soslaio e bem de perto,
Já preparou, sorrindo o seu castigo,
Meu coração por vezes bem esperto
Se adiantou, fugiu deste perigo...

A morena brincando no quintal
As coxas grossas na árvore subiu,
Neste desenho formoso e sensual,

Taquicárdico bate no meu peito,
Ao ver esta beleza ele se abriu...
Agora a solidão é dito e feito...



732



A solidão batendo na janela
Qual fora um vento frio que me invade,
Deixando para trás felicidade
Apenas o vazio me revela

Lembranças de um amor que ora distante
Na espera interminável, tal tristeza
Tomando o corredor invade a mesa
E tudo se transforma ao mesmo instante

Em que percebo um som que se aproxima
Falando da saudade de você,
O frio toma a casa e me alucina,

Procuro em minha volta, mas cadê?
Apenas teu retrato na gaveta,
A solidão se torna então, completa...
Marcos Loures



733


A solidão chegando no meu canto
Em prantos e torturas faz seu mote.
Sabendo que o amor precisa encanto
Na cama não há chama que me esgote.

Noturnos os desejos mais sedentos
Se adendos e barganhas eu desfaço,
Disfarço tantos óleos que sei bentos,
Nos dentes que mergulham no teu braço.

Amar demais não custa nem descarto
Embora vá rolando tão sozinho...
Aberto o coração ao novo parto,
Aguardo, calmamente no meu ninho...

Não temo a solidão, é companheira,
Embora eu te prefira a noite inteira...

734


A solidão cruel, é tudo o que receio.
Não quero pr’esse amor, noites negras, escuras.
Não quero a caminhada em estradas mais duras.
Na salvação da lua, amor brilhante, creio.

Viver manso calor deitado no teu seio.
O gozo desta vida, eu sei que me asseguras,
O nosso amor foi feito em torno destas juras.
É doce compaixão, o fim, início e meio...

Amor que sempre brilha em noite enluarada
Vereda que prossegue em doce madrugada,
Nos campos do meu sonho; aurora bela, traz...

Não trago mais a mão disposta, fosse garra,
Amor nos trouxe o laço em leve e frouxa amarra.
Márcia, na mão macia, a promessa de paz!


735


A solidão devora enquanto espanta
Não deixa mais resquícios, me incendeia,
A força de sonhar, outrora tanta
Morreu ao penetrar em fria areia.

Somente a dor da vida se agiganta
E traz a sensação de estranha teia
Que invade a noite imensa e desencanta
Portando uma estranheza invade a veia

E trama uma tristeza em letargia,
Que nada neste mundo vão sossega,
No mar da solidão em dura entrega

Distante do raiar de um belo dia,
Nem mesmo uma ilusão em poesia
Permite claridade em noite cega...




736


A solidão é fera e me devora
Não permitindo um passo em destemor.
Trazendo estas angústias que de outrora
Acompanharam sempre imensa dor.

O tempo é vagaroso e se demora
Fazendo o coração ser receptor
Das lágrimas vertidas quando chora
O peito em desalinho, sofredor.

A solidão; tempero de meu karma
Encontra na esperança um maremoto.
Que sabe onde ela oculta medonha arma

E traz por lenitivo uma morena
Que trama em alegria um bem remoto,
Mas que ao fim da tarde já se acena...




737

A solidão é gume de um punhal
Cravado nas entranhas dum amor.
Por vezes o seu corte traz fatal
Desilusão em forma de temor.

Bem longe do que mostra ser normal,
Calando a voz de um frágil sonhador,
Carrega bem guardado no bornal
Espinhos. Aos milhares, matam flor.

Amiga da mentira, irmã da intriga,
A solidão é fera e sem pudor.
Criando com a morte, forte liga,

Com traços de total iniqüidade,
Somente um sentimento salvador,
Nos cura deste mal: uma amizade!



738


A solidão é gume de um punhal
Cravado nas entranhas dum amor.
Por vezes o seu corte traz fatal
Desilusão em forma de temor.

Bem longe do que mostra ser normal,
Calando a voz de um frágil sonhador,
Carrega bem guardado no bornal
Espinhos. Aos milhares, matam flor.

Amiga da mentira, irmã da intriga,
A solidão é fera e sem pudor.
Criando com a morte, forte liga,

Com traços de total iniqüidade,
Somente um sentimento salvador,
Nos cura deste mal: uma amizade!
738



A solidão é o nada numa soma
E desse nada eu quero uma distância
O verso que se faz sem elegância
Adentra na minha alma, ganha o estroma

O quanto a fantasia já me toma
Permite que se mostre em discrepância
Realidade e sonho em abundância
Causando em meu olhar um escotoma.

No gráfico da vida, descendente
No tráfico dos sonhos nada resta,
Trafego em solidão pela floresta

De amores e ilusões, um indigente.
A noite em tantas brumas vai espessa,
Apenas esperança se confessa...



739


A solidão em flor nasceu no meu jardim
E em seu perfume amargo, um gosto de saudade.
Neste momento insano, amor dentro de mim
Refeito da loucura; em incivilidade

Estorva meu caminho, e quase que no fim
Avança escuridão, matando a claridade.
Que faço se não posso amar demais assim.
Procuro uma resposta. Apenas inverdade.

Tal flor apodrecendo aqui no meu canteiro
Afasta o colibri, espanta a fantasia.
Seguindo um mundo falho em passo traiçoeiro

Eu busco em esperança, uma última aliada
Nos braços desta amiga, a sorte inda me guia
Somente ela resiste. E depois, sobra o nada...



740


A solidão jamais passou aqui,
Tu és a flor mais bela; saiba disso,
De todos os meus sonhos que vivi,
Meus olhos nos teus olhos ganham viço.

O cheiro desta flor eu não perdi,
Estou tão radiante, amor por isso,
Espero que tu saibas que vivi
O tempo inteiro sempre dentro em ti.

Perfume anunciando a primavera
Mostrando que viver já vale a pena,
Bem sei que a solidão, amarga fera,

Rondando uma alegria, nos maltrata.
Mas sinto nos teus olhos, bela cena
Que salva, que me cura e me arrebata...



741


A solidão morrendo, tão remota,
Explode num terrível pesadelo.
O amor que a gente tem, nunca tem cota,
Nos braços deste sonho a envolvê-lo.

Vontade de te ter jamais se esgota,
No doce balançar de teu cabelo
As luzes vêm chegando; em mansa frota
Os laços se entrelaçam num novelo.

Mosaicos infinitos, tantas cores,
Expressam os diversos sentimentos,
As flores invadindo os pensamentos

Dourando em esperança estes amores.
Atores desta peça universal,
Vivendo tão somente o bem e o mal...


742



A solidão não é nenhum troféu
Que deva ser exposto em galeria.
É raio que riscando o negro céu
Impede novo sonho de alegria.

Amando e transformando fel em mel,
Vencendo a solidão com galhardia,
Deixando bem distante esta cruel
Quimera que nos banha em agonia...

Nas névoas desta tarde solitária,
Em meio a tantas dores incontestes.
A vida se mostrando assim, contrária,

Espero que este caos seja finito,
Vestindo deste amor, contente, as vestes,
Futuro grandioso, enfim, eu fito...


743


A solidão que amarga, atroz, me afaga
Enquanto olhar opaco lacrimeja
Lembrança do que fomos; mesmo vaga,
No peito abandonado inda troveja.

Um tempo que perdido, nada trouxe
Senão este vazio que carrego.
Um dia mais suave, calmo e doce,
Redunda no meu passo frio e cego.

Noctâmbulo, procuro os teus carinhos
E bebo em falsos guizos, a alegria
Saudade se entornando em copos, vinhos
Ao mesmo tempo dói e me inebria.

Perdidas ilusões... Ermas estradas,
As horas não serão recuperadas...



744


A solidão que sinto nos teus versos
Em busca deste amor que tu sonhaste,
Soltando teu lamento aos universos,
Amada é por que nunca reparaste

Em quem entre momentos tão diversos
Um pensamento só não dedicaste
E em meio a tantos sonhos tão dispersos
Sempre esteve aqui mas não notaste...

Te quero em cada sonho, a cada dia,
Em minhas emoções, falo teu nome
Buscando te encontrar, pura alegria,

Mas nada percebendo, nada diz;
E toda esta tristeza me consome..
Comigo tu serias bem feliz...



745


A solidão se ausenta, mas retorna,
Deixando em polvorosa o coração,
Quem tem uma esperança como norma
Jamais enfrentará tal furacão.

Dormir tranquilamente? Quem me dera...
No fundo até desejo o sofrimento.
A presa se acostuma com a fera,
Nas garras da felina eu me apascento.

Eu sei que isto parece uma heresia,
Gostar da própria dor é masoquismo?
Porém se a solidão já me inebria
Funâmbulo vagueia sobre o abismo

Devolvo ao desamor, mesma moeda,
E aguardo a cada instante a minha queda...



746

A solidão se faz caricatura,
A simples garatuja que se esquece,
O quanto me derramas de ternura
O peito enamorado te obedece.

A porta escancarada em noite clara
Permite que se encontre a rara lua,
Além do que pensara ou mais sonhara
A sorte em minha vida continua.

Contínuas emoções se revezando,
Num carrossel de gozo, alma se encanta,
Eternidade em paz se revelando,
Vontade se dourando em força tanta.

No corpo da mulher o ancoradouro
Nos lumes deste sonho, eu já me douro...


747

A solidão terrível companheira
Compele nossa sorte ao dissabor.
Amiga, desfraldar esta bandeira
Talvez seja um delírio salvador.

A chance que parece derradeira
Se faz em nosso canto, puro amor.
Após a chuva fria e traiçoeira
Quem sabe novo sol a recompor?

Por isso te proponho a tentativa
De unirmos solidões em esperança.
Quem sabe uma alegria enfim reviva

Nascida deste sonho alvissareiro.
Unindo nossas dores, a aliança
Refaz um mundo amigo e verdadeiro...


748


A solidão impede qualquer sonho
E nega a redenção enquanto viva,
Dos dias mais felizes já nos priva
E nisto de desenha um ar medonho,
Além do que deveras eu proponho
A sorte se mostrando vã, cativa,
E o tanto quanto pude agora criva
O peito em ar atroz, ledo e tristonho.
Cenário; aonde eu tento ainda ver
As sombras do que fora algum prazer
Rondando a minha noite em tênue luz,
Depois de certo tempo enfim sem rumo,
Aos poucos com tal dor eu me acostumo,
E ao nada o mesmo nada me conduz.

749


A solidão terrível, muito amarga
Qual fora um oceano tão sombrio.
Pesando em nosso peito, dura carga
Tomando um coração em vento frio,
Apenas na amizade já se alarga
Caminho que julgávamos vazio...

Procura-se um amigo com lanterna
Na noite escura e negra da amargura.
A mão que nos envolve, mansa e terna,
Transborda em tais carinhos, com ternura.
Quem sabe sendo assim, a vida eterna
Não seja uma utopia e sim a cura.

Um ramo de oliveira, a pomba traz,
Numa esperança clara, toda a paz...

750


A solidão, vazia, se esfumaça
Ao ter tua presença, mesmo ausente
Imagem que não larga a minha mente
E nem assim distante ela se esgarça.

Outro amor? Coração logo rechaça,
Saudade me procura novamente,
Um gozo tão sublime e mais freqüente
Melancólico riso não disfarça.

Embora tão amargas, minhas noites,
A pele se acostuma a tais açoites
E deles sente falta com certeza.

Nestes constantes sonhos não me largas,
E neles, num instante, tu me afagas
Dourando a madrugada em tal beleza...



751


A solução que buscas, mesmo eterna
Talvez não seja o rumo desejado.
Misturas as antigas e a moderna
Num círculo que formas, tão fechado.
Felicidade morre assim, hiberna
Deixando o que há de bom sempre de lado.

Esvoaça em momentos, minha mente
E volta num cuidado redobrado.
Sem opulência ou lume florescente
O passo que eu quis dar foi estagnado
Talvez a solução se mostre urgente
Em novo mandamento renovado.

Amar a Deus por certo, na verdade,
É respeitar valor de uma amizade.


752


À sombra da esperança feita em flor,
Aguada com as lágrimas sentidas
Na ausência deste enorme e doce amor,
As dores dominando nossas vidas.

Mas saiba que voltando, renasci.
E agora partirei junto contigo
Ao mundo que sonhei viver aqui
E há tanto tempo, amada já persigo.

Beijando tuas mãos, a tua pele,
Alçando em cada verso uma alegria.
Que o tempo agora, amada se congele
E aqueça eternamente a noite fria

Jamais me abandonar, isto eu te peço,
Amor enorme eu tenho e te confesso...



753


À sombra da saudade, amor me infesta,
Trazendo a tua voz, longínquo sonho...
Distante deste porto, o barco em ponho
Em ondas, solidão, minha alma gesta.

Vagando em noite escura na floresta
Das esperanças nada mais proponho.
O dia; eu sei, virá sempre medonho.
A morte a cada curva; algoz, me testa...

Meu canto se esvaindo, assim, agônico.
Meu passo prosseguindo, vão, distônico
Apenas o vazio se aproxima.

Sentindo-me, deveras, histrião,
Recebendo em resposta o mesmo não
Apenas a saudade inda me estima...



754

A sombra de um terrível desengano
Vagando pela casa, tão funesta,
Esconde na verdade antigo plano
Deixando ao coração a dor que resta.

Gargalha este sorriso desumano
E mostra a dura face pela fresta
Bem antes que se abaixe último pano
Final indesejável se detesta.

Miasmas flutuando no cenário
O riso se tornando temerário,
Ausência do que fomos vaga à solta.

Amor que se fez morte e desespero
Em minha cama verte este tempero
Mistura de terror e de revolta.



755


A sombra do que fomos me acompanha,
Funâmbulo dos sonhos; perco o rumo.
Distante dos teus olhos. Triste sanha,
Apenas desejei manter o prumo.

A vida se propondo em tal barganha
Nos erros que cometo e não assumo.
Quem sabe decifrar decerto ganha,
Minha alma sem destino vira fumo.

Nocivas esperanças numa espreita
Enquanto a solidão já se deleita,
Cravando suas garras no meu peito.

Quem dera se eu pudesse ainda crer
Que um dia, poderia talvez ser,
Nas sendas da ilusão, querido e aceito...


756

A sombra do que fomos me persegue.
Esvaecidos sonhos não me deixam...
O luto de minha alma não consegue
Deixar-me. Então as flores já se queixam

Abandonadas, mortas no jardim.
Tal sombra não me deixa um só minuto.
Devora o restou de bom em mim,
Tão manso que já fui, agora bruto...

Sou simplesmente um nada que passeia,
Na busca da fatal tranqüilidade.
Mergulho, prisioneiro em triste teia.

Não passo do que foi e não voltou.
A vida se transforma iniqüidade,
A sombra do que fui, o que restou...



757

A sombra do que fui já me devora,
Deixando tão somente uma saída,
Se o olhar que inda te trago se descora,
Quem sabe renascendo em nova vida

Após meu funeral em luz sombria
Permita ao eremita ser feliz.
A morte me fascina. A fantasia
Criada noutra senda expõe e diz.

O vaso que se quebra jamais é
Do jeito que se fora noutro tempo,
Vivendo com loucura, risco e fé,
Talvez ainda vença o contratempo

Armado qual cilada a cada passo,
Negando à fantasia o seu espaço...



758



A sombra quando passas; vira sobra,
As uvas viram passas, peças finas.
Os olhos enigmáticos de cobra
Não deixas no cavalo rabo e crina.

Um preço inflacionário, o tempo cobra,
Nas camas dos motéis, belas meninas.
Orgia tão sem nexo se desdobra
Bacantes são as mães, as mãos, as sinas.

Depois fingis ouvir os meus reclames
E um riso desdenhoso já me deste.
Por mais que me pareçam mais infames,

O olhar já se mostrando transmutado,
O moço tão simplório vira peste,
Subornos te fizeram deputado...



759


À sombra tão serena dos carinhos
Tua presença invade a minha mente
Contente, se pressente outros caminhos
Os ninhos vão mudando de repente.

Nos olhos e narinas, forma e cheiro,
Ouvidos, boca e tato, paladar
O canto vem chegando alvissareiro
Gostoso se beber e de tocar.

Transborda pela casa, abre a janela
Entranha o travesseiro e o cobertor
Cavalo da esperança já se sela
Trafega pelos céus buscando amor.

No jorro de palavras, frases feitas,
Delícias vão brotando enquanto deitas...



760

A sorte de te ter, já não se cala,
E forma em cada verso, um elo forte.
Deixando para trás tristeza e corte,
Do meu passado amargo, uma senzala

Que fora em minha sina, uma ante-sala
Numa programação que leva à morte.
Amor me dominando em alta escala
Prelúdio tão divino, a dor aborte.

Proclamas nosso amor aos sete mares,
E falo do carinho aos quatro ventos.
Colhemos tantos frutos dos pomares

Que plantamos com arte e sentimentos,
Contigo, amada, irei por mil lugares,
Com todo este prazer, nossos momentos....



761


A sorte de um amor quando encontraste
Jogaste na janela em dissabor,
Receba então espinho e mate a flor,
Deixando tão somente uma fria haste.

Segredos que em verdade murmuraste,
Falando assim tão mal de um pobre amor
Não deixam quase nada a te propor
Senão tentar conter este desgaste.

Meu verso ultrapassado vai teimoso,
Que faço se não posso mais conter,
Em liberdade solta a sua voz

E volta novamente caprichoso
Na busca insaciável por prazer,
Tendo em mulher amada a bela foz...


762

A sorte de viver, amor, alcança
E deixa no passado toda a dor.
No quanto quero a vida recompor
O tempo de sonhar trama a festança.

Amor que pressupõe tal confiança
Deveras um farnel encantador.
Alvíssaras ao gozo com louvor
Marcando nosso mundo em aliança.

Enoveladas pernas sem fronteiras,
Misturas delicadas e sutis.
As horas preferidas, costumeiras

Adentram madrugadas, ganham dias.
Cansado de viver só por um triz
Entrego-me ao calor das fantasias...



763

A sorte derradeira e prometida
Jogada nos beirais desta janela,
No suicídio salvo a minha vida,
E tramo uma esperança sem tramela.

Quem ama na verdade se congela,
Escravo desta inglória mais querida,
Acendo toda noite a mesma vela
Capaz de incendiar qualquer saída.

Marco o corpo inteiro em tatuagem,
Sorvendo com prazer qualquer bobagem
Capacho em garatujas; erros crassos,

Divido o que somei há tanto tempo,
E mesmo que me entregue ao contratempo,
Bem firmes meus caminhos e meus passos.



764


A sorte num segundo se transmuda
Meus dedos engelhados, meus problemas,
Sem nada que proteja ou que me acuda
Ainda sinto a força das algemas

A dor de uma saudade é tão aguda,
Por mais que tu me digas que não temas,
Imagem do passado na alma gruda,
Fleumática, dorida cria emblemas.

A boca sem teus beijos, vã procura,
Esgueiro pela vida, simplesmente.
Enquanto este vazio atroz me invade.

A noite desenhada em amargura,
O tempo de viver, já não se sente.
Apenas tão somente, esta saudade...


765


A sorte pouco a pouco se esvazia
Não restando sequer um riso franco
A solidão matando a fantasia
Corcel já não galopa; velho e manco.

O quanto que eu tentei e nada fiz,
E tudo o que eu temia, aconteceu.
Uma esperança, eterna meretriz
Levando o que restou do que foi meu.

Palavras que me dizes, de consolo,
Não servem para nada, me perdoe.
Durante tanto tempo, simples tolo
Que em vagas tempestades inda voe

A marca das angústias demarcada
Na pele pelas dores tatuada...



766


A sorte qual pensara, destroçada
Deixada em algum canto do canteiro
Agora ao me mostrar bem verdadeiro
Adentra uma emoção, enamorada.

A força a cada passo demonstrada
Estende na janela o mundo inteiro,
Usando uma ilusão como tinteiro
A moça dos meus sonhos desnudada...

Prelúdio desta noite que insensata
Aos poucos, dominando me arrebata
Incêndios prometidos no meu leito.

Em claras explosões os multicores
Caminhos entranhados por amores
Invadem em delícias cada peito...



767

A sorte que desejo, toda minha;
A quem transmite sonhos inocentes,
Em meio à tempestade que já vinha
Rangendo, temerosa, todos dentes,

Encosta no meu ombro, assim se aninha
Sorrindo com seus olhos tão contentes.
Delicadeza frágil de avezinha.
Término dos meus dias penitentes...

Pois ela, minha dita que ansiei
Por tempos, longos dias, muitos anos...
Fazendo dos meus sonhos soberanos,

Caminho para o amor, em nobre lei.
Agora que chegou, minha alma fala
Abrindo o peito, o quarto, a casa, a sala...


768


A sorte que já fora vaporosa,
Nos olhos de quem amo, logo muda,
Trazendo em noite clara e tão formosa
Dourada sensação de grande ajuda

Da flama que me invade mais fogosa
Que venha em noite clara e não me iluda.
Presença sem igual, maravilhosa
Deixando uma tristeza quieta e muda,

Espalho o meu cantar pelo universo,
Cantando o pleno amor a cada verso
E nele encontro rumo, acerto a rota.

Ao lado deste amor que nada cessa
Revivo muito além de uma promessa
Uma amizade imensa, mas remota.



769


A sorte que me foi já concedida,
Mostrando em mansidão um belo aceno,
Mudando de repente a minha vida,
Moldando meu futuro mais ameno.

A paz tão desejada e bem querida
Num toque mais gentil, suave, ameno
Numa amizade plena e recebida,
Antídoto real para o veneno

Da negra solidão que assim não cabe,
No peito de quem tanto amor já sabe
E agora não caminha mais vazio.

Deixando no passado esta lembrança
Na cena que se esvai já sem fiança
Um coração que morre, estranho e frio,



770

A sorte que se mostra verdadeira
Estampando na face um bom sorriso.
Além de uma bonança corriqueira
O toque que se mostra mais preciso.

Vencendo quaisquer medos ou terrores,
Uma amizade diz ao coração.
Trazendo a perfeição feita em pendores
Poeira que assenta sobre o chão

Demonstra o quão de ti eu necessito,
Uma sublime forma de carinho.
Dobrando mesmo a força do granito,
Retira de meus passos um espinho.

Florada que se mostra em primavera,
Apascentando assim, temível fera...



771

A sorte que se mostra, tão serena
Permite que eu consiga contemplá-la;
Mulher em tal beleza, rara e plena
Fulgurante, ilumina toda a sala.

Intérmina ilusão em vão se acena
Com mistérios diversos da cabala
Enquanto traz a cura me envenena,
Mantendo com soberba pose em gala.

Uma esperança audaz, porém esquálida
Tramando a fantasia da crisálida
Em vã intensidade vai e avança.

Ainda espero o sol ao fim da estrada,
Clarão esplendoroso não diz nada.
Amor em tempestade quer bonança...



772



A sorte tanta vez emoldurava
A vida se mostrando em passo lento,
Ao mesmo tempo a dor se aproximava
Tomando já de assalto o pensamento.

Quem noutros tempos; mudo, se tornava
Ao perceber no fim, o sofrimento,
Carinhos e torturas, misturava,
Deixando a solidão como rebento.

Agora que encontrei na grande amiga
Açude de esperanças, santas águas,
Esqueço que passei por duras mágoas

E vejo o meu destino que se abriga
Nos braços da esperança benfazeja
Na qual uma amizade se deseja...



773

A sorte tão volátil nos abriga
E ao mesmo tempo este abandono;
Por mais que a luz se mostre apoio e viga
O amor vai se perdendo no oceano.

Nas velhas fantasias que eu cultivo
Apenas as saudades são fiéis.
Um canto de esperança embora altivo
Encontra tão somente amargos féis.

Vieses que se mostram mais constantes
Trafegam no meu peito sem destinos.
Quem dera se eu pudesse por instantes
Conter os mais temidos desatinos.

Nas noites que varei em solidão
Saudade toma o rumo, a direção...




774


A sorte, esta cigana vagabunda,
Vagando sem destino, segue ao léu,
Qual verme passeando em carrossel,
Minha alma do vazio fel se inunda.

Enquanto em farta lama se aprofunda,
A morte vem cumprir o seu papel,
Esperança caída do corcel
Do verde esmeraldino, à tez imunda.

Aperte então seu cinto, cavalheiro,
Que o vento derrubou a aeronave,
O seu lugar no espaço, insano, cave

Que o frio é do final, o mensageiro,
E o quase que jamais concretizaste
Levou num só momento, apoio e haste...



775


A sorte, sendo espúria, nos deserta,
E impede que se encontre, enfim, a glória,
Porta que permanece sempre aberta,
Garante ao fim de tudo uma vitória.
O coração amante já desperta
O tempo de viver mudando a história.

Bebendo com fartura amor e paz,
Não temo mais as pedras do caminho.
A noite benfazeja assim me traz
A mansidão perene de meu ninho.
Amor quando demais só satisfaz
Não deixa que eu prossiga mais sozinho.

A placidez suave de um regato,
Trazendo uma emoção que aqueça o prato.


776


A sua voz escuto nesta brisa.
Que toca os meus cabelos mansamente.
O vento neste toque já me avisa
Do sonho que busquei, completamente.

A boca delicada e mais precisa,
Mostrando esta alegria, docemente
A sorte redentora aromatiza
Felicidade um sonho mais freqüente.

As estrelas que espalhas pelo chão,
Refletem num momento, esta paixão
Cobrindo este horizonte em claro véu.

Liberto, destemido e sem algemas,
Em meio a tantas crises e problemas
Meu verso vasculhando, ganha o céu


777


A súcia dos ladrões associados
Fizeram da bandalha uma bandeira.
A multidão de pobres esfaimados
Jogados numa eterna quarta feira

Das cinzas os seus olhos arrancados,
Rasgando com vontade a bandalheira
Matando estes canalhas perfilados,
Num gozo de alegria verdadeira.

No parto de uma nova consciência
As lágrimas trarão felicidade,
Os elos mais profundos da amizade

Trazendo a tão querida penitência
Aos velhos vagabundos e seus ternos,
Ardendo eternamente nos infernos...



778


A tarde cristalina em belo ocaso,
Deitando sobre a terra seus mistérios.
Roçando nos seus raios ao acaso
Encontra os pensamentos mais etéreos...

Galopo sobre o lume deste sol
Buscando eternidade que não vinha.
Aos poucos transtornando o girassol
Beleza deste olhar que descaminha.

Confunde com teus olhos tanto brilho
Os raios desta estrela matutina...
Eu perdido, também me maravilho
Com todo esse esplendor que descortina

Na força sem igual do teu olhar,
Na tarde em minha vida, vem brilhar!


779


A tarde declinada e tão fugaz,
Prenunciando nossa noite, Lara;
Os meus restos jogados, minha cara,
São as formas cruéis, são invernais...

Bem que eu tanto quisera ser capaz.
Mas, inútil, percebo, nova escara...
Estampado nos olhos, não repara
Nas mentiras que estrago, vãs, normais...

A chuva demitindo as esperanças,
Da volta, novos dias, velhas danças...
Para sempre, empregando meus fantasmas...

Convulsivos segredos são miasmas,
A noite chegará sem ter perdão...
E Lara está perdida na amplidão!!!



780


A tarde incandescente de verão,
Nos altos das montanhas muge gado...
Os reflexos solares no sertão,
Espero meu amor apaixonado...

Não posso conhecer a solidão.
Contando com você aqui do lado,
As horas disparando o coração,
Da noite esperarei um bom bocado...

As horas se passando calmamente,
No turbilhão das cores, primavera...
Nas matas escondidas as serpentes,

Na porta do esplendor da bela tarde...
Fugindo vou matando essa quimera,
Na espreita sem fazer nenhum alarde...



781


A tarde que me trouxe esta alegria
Desmonta-se em terrível tempestade,
Formando tantas nuvens, morre fria,
Em plena sensação de insanidade.

Quem fora uma promessa de vitória
Adormecendo mostra-se quimera,
A vida se repete; a mesma história,
Trazendo imensa dor, temível fera.

Agora a solidão não me perdoa,
Andando do meu lado, castra o sonho,
A dor de te perder inda ressoa
Num vívido sofrer, o mais medonho...

Meus olhos empapuçam, sem beleza,
Vão se encharcando em lágrimas, tristeza...



782


A tarde se desnuda em tons de rosa
E vai se despedindo, aguarda a lua.
Que ao chegar divina, esplendorosa
Encontrará, na cama exposta e nua

Mulher que se tornou maravilhosa
E que em beijos sedentos já flutua.
Após a tarde bela e radiosa
O meu prazer intenso continua...

Na rua confusão: buzinas, carros,
Na cama, tentação de minas, sarros.
Os pensamentos unem os desejos.

A tarde se desnuda no horizonte,
Delírio vai minando em bela fonte
Mantida sem cessar por doces beijos.



783


A tarde tão nublada no meu peito
Parece que mais tarde vai chover,
O dia se arrastando desse jeito
Distante deste amor, e do prazer

Que possa me deixar mais satisfeito
E ajuda a gente sempre a perceber
O quanto ser feliz é meu direito
E ter na minha vida um bem querer.

Amor que na verdade em seu mistério
Encanta enquanto traz terrível dor.
Não tendo com certeza algum critério

Amor é feito em lágrima e calor.
Quem dera se esta chuva enfim passasse
E a dona dos meus olhos já chegasse...



784

A tarde vai caindo, espreita os olhos meus...
Um sino repicando ao sabor dessas horas...
Rezando por Maria, espero por meu Deus.
Lembranças d’outro dia, à noite, enfim, imploras...

Meu olhar embuçado, aguarda pelos breus...
Não posso reclamar, preciso, sem demoras...
Saudade me destrata, aguardo os olhos teus.
A noite então trará certeza das auroras...

Descanso meu cansaço, envolto nos teus braços...
Amor que foi dolente, o sol já não me queima...
Na caça que fizeste, abraços foram laços...

Martírios deste amor, brotando na verbena.
Mal posso traduzir, ressurges nesta teima,
Amor que já floresce, as cores da açucena...



785


A tarde vem caindo... O medo chega...
Distante de quem amo me pergunto,
Se encontro do outro lado a mesma entrega.
Se ela também quisesse sonhar junto

Comigo! Certamente mais feliz;
Poderia viver intensamente
O gosto deste amor... A tarde diz
Que o frio chegará e novamente

Sozinho, tão vazio de esperanças
Apenas restará meu triste verso.
Quem dera se pudesse nas andanças

Levar-te com carinho aos universos
Que preparei somente pra te dar..
Nos meus braços... Somente este luar...


786


A tarde vem caindo sobre o rio
E um por de sol se mostra multicor.
A noite sem ter lua, em tanto frio
Distante de quem tenho puro amor.

Aqui num triste inverno, lá estio,
Quem dera desfrutar deste calor,
Um mundo imaginário então eu crio
E passo num segundo, a te propor

Um banho na cascata da ilusão
Regado ao Porto Vinho mavioso.
E assim ao aflorar tal emoção

Prometo te darei mais fino gozo,
E vamos decididos pro verão.
Que inverno tropical vai rigoroso...



787


A tarde vem caindo... Um dia a mais
A noite traz a lua? Quem me dera...
No inverno de minha alma esta quimera
Prepara novamente os temporais,

Pudesse acreditar em divinais
Momentos renovando a primavera,
Porém o que em verdade o peito espera
Traduz estes tormentos invernais.

Depois de tanto tempo solitário
O amor já não se vendo, imaginário,
Arisco pensamento dita o fim.

E assim ao me encontrar em neve e pranto,
Apenas este estio enfim garanto
Matando o que restara em meu jardim.



788

A tela ao fim da peça nunca cai,
Palhaço agonizando no cenário.
O velho que pensara samurai
Não passa de imbecil ser temerário.

Algozes dos meus sonhos, os teus lábios
Ressecam com sarcasmo uma ilusão.
A frota sem destino ou astrolábios
Promete neste inferno, atracação.

O inverno recomeça a cada dia,
Amanhecendo em névoas, morto o sol.
Apenas me restou melancolia
A seca vai tomando este arrebol.

As garças vão embora, nada resta,
A solidão adentra em cada fresta...



789


A terra que esperança já tolhia
Tornada em frágil senda derrotada;
Nas ondas tão distantes da alegria
O canto se espalhando em dura estrada

Na vívida impressão do não havia,
Restando no meu peito o quase nada.
Nas asas do meu sonho, a poesia
A cada novo dia, renegada.

Amor já se afastando só me resta
Fazer desta saudade o meu refém.
Trazendo finalmente a voz de alguém

Que possa traduzir felicidade,
Depois deste vazio, alguma festa
Nos rastros tão sutis de uma amizade...



790

A terra se esparrama em vento e pó,
deitada sob o sol, enlanguescida.
Na cruz de tantas almas, vento só
deixando para trás restos de vida.

Quem veio dos engenhos e moendas,
já sabe e reconhece uma amizade.
Sertão, princesas, reis, castelos,lendas.
Apenas resta a seca, na verdade.

Esfinges que encontrei pelo caminho,
as velhas carpideiras da esperança.
A sorte de não ser ermo e sozinho
criando com meus sonhos aliança,

ferrenhas ilusões que se perderam,
nas léguas que meus olhos já venceram..



791



A terra sertaneja tão bravia,
Demonstra a estupidez da natureza
Porém o puro amor que eu bem queria,
Contendo a perfeição feita em beleza,
Numa lua caipira traduzia
Amor imenso, pleno de grandeza.

Quem dera se esculpisse com buril
As formas da morena que eu deixei,
Nas matas nordestinas, amor viu
O quanto na verdade eu tanto amei,
Semi-aridez no solo duro e vil,
Um coração divino eu encontrei.

As lágrimas caindo qual cascata,
Saudosas dos carinhos da mulata...



792



A terra toda em lágrima encharcada
Enquanto tu prossegues teu caminho.
Não quero prosseguir sempre sozinho,
Buscando com clamor esta alvorada.

A pele em cicatrizes tatuada,
Algemas que contêm um passarinho,
O coração vazio, pobrezinho,
Recebe como herança o mesmo nada.

Nas teias em que braços me molduram
Momentos mais sombrios se asseguram,
Sem sândalo, apodrece este machado.

Viagem por diversas emoções,
Flechado por teus olhos, quais arpões,
Um Paraíso imenso vislumbrado...




793


A terra vai girando e traz a lua,
Buscando a claridade deste sol,
Minha alma na tua alma já flutua
Te sigo, um helianto, um girassol...

Desejo o teu desejo em cada dança
Em cada sinfonia que fizermos,
Amor quando demais de amor não cansa,
Os cantos que cantamos são eternos

E ternos nossos sonhos mais felizes
De estarmos irmanados neste afeto,
Que sabe como doem cicatrizes
Por isso nosso amor, o predileto...

Eu quero ressurgir na poesia
Que canta o nosso amor, em harmonia...


794


A ti dedicarei, eu te prometo,
Os versos que se entornam na canção.
Aos braços de quem amo eu me arremeto
E solto um grito enorme na amplidão.

No chão que tantas vezes foi tão duro
As mãos de um trovador teimam sementes.
O quanto é necessário com apuro
Vencer as tempestades em torrentes

Pressente que se veja em escultura
As formas desta sílfide sem par,
Na pele entronizada tal ventura
De um dia todo o sonho desfrutar.

Eleva o pensamento, alçando um trono,
Reavivando império em abandono...



795


A tinta em que se expressa o meu passado
Relembra a minha casa e seus quintais.
O tempo tantas vezes é quarado
Depois vai se secando nos varais.

Do menino correndo sigo ao lado
Lembranças vão guardadas nos bornais.
Joelho pelas quedas esfolado,
Estrelas que se foram, nunca mais..

Saudade se transforma num pomar,
Cadeiras espalhadas na varanda.
Vontade de partir e de voltar.

O tempo em sofrimentos já desanda,
Fantasma do que fui, dança ciranda
A casa; veio vento derrubar.



796


A tísica presença da esperança
Fugaz que, tantas vezes, me dizia
Da claridade intensa de outro dia
No qual uma alegria amor alcança.

A farsa que montara, vil criança,
Matando aos poucos toda fantasia
Enquanto não raiava, me escondia
Por sob suas mãos a dura lança

Que algoz de uma ilusão se transformava,
Vulcânica expressão, temível lava
Tomando este arrebol em plenitude.

Da outrora sensação de juventude
Não resta nem resquícios, disso eu sei.
Apenas o vazio que eu herdei...



797


A top model desfila anorexia
Minhoca mal vestida, passarelas...
Sonhando com fatal apoplexia
Complexo de faminta tu revelas.

Devoras dois pedaços de repolho,
Pensando na lasanha e no croquete.
Quatro gotas de azeite; tosco molho
E a moça/prisioneira não repete.

Escrava de um modelo carcomido,
Confundindo ossatura com beleza
Se o silicone aumenta uma libido
Da cirurgia plástica ela é presa.

Prefiro uma gordota rechonchuda;
Menina tome senso e não se iluda!



798


A trancos e barrancos eu pretendo
Viver o que talvez não poderia
Não fosse esta parceira, a poesia,
O dia eu não veria amanhecendo.

O cedo que não cede me contendo
O verso se entregando em fantasia,
Por mais que uma alameda assim surgia
O vento não entranha nem desvendo...

Cruel caricatura do que espera
Aquela que mordaz, qual bruta fera
Espreita atocaiada, bote certo.

Sem ter uma amizade, esta procura
Redunda no final numa amargura,
Fatídica expressão, feroz deserto...



799


A tua amizade
Por certo me traz
Força de vontade
Certeza de paz,

Achei a verdade,
E sou mais capaz
Ao ver claridade
Que enfim satisfaz.

Meu verso incontido,
Se mostra mais forte,
Contigo decido,

Meu rumo, o meu norte,
E vou protegido,
Não temo nem morte...

800


A tua ausência mata a fantasia
Menino coração já se desbota,
Perdendo a direção, procuro a rota
Na estrela matutina que me guia

Levando ao sol imenso que irradia,
Abrindo deste mel pote e compota,
Meu peito anda de lado, e vai cambota
Sob o peso do amor que o sonho cria.

Vertendo tantos sonhos pela pele,
Enquanto a poesia me compele
A ter uma ilusão como bandeira,

A vida sonegando o Paraíso
Permite-se cruel ao vago aviso
Da estrofe que agoniza, derradeira...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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