PORTA PERDIDA

Data 26/11/2010 20:12:08 | Tópico: Textos -> Crítica



PORTA PERDIDA

Fiquei atônita diante de tanta idiotice. Assim concluí.
Cada vez mais me convenço de tantas mediocridades tomando conta assim da minha vida. Cotidiano, isso sim é uma mediocridade. Frívolo, sufocante. Acorda-se, e aí se faz um log off de si mesmo antes de sentar-se na cama, e até se espichar feito gato, naquela espreguiçadeira gostosa, anda difícil de fazer, e assim, se propor obrigatoriamente a começar toda rotina qual ritual. Ufa! Todo dia a mesma coisa. Estou à procura de uma porta onde eu consiga fugir deste ritual diário que me empurra para uma seqüência de coisas que montam um dia igual a outro. Acordar, comer, correr, trabalhar, correr, comer e dormir. Sempre e sempre. Juntamente vem o aguilhão chamado relógio, que vem te lembrando que você não consegue e não consegue. E aí nos entremeios, vem as contas, o supermercado, o Banco, o cachorro, o vizinho. Em casa quando apareço, olho minha cama e, a vontade de mergulhar no colchão por 48 horas seguidas nunca é satisfeita. Mas, tem a parada no Computador, a mais nova ocupação dos mortais deste planeta, penso: vou agora me distrair... Engano seu, pura ocupação que nos deixa cansados do mesmo jeito. Leio, vejo, escuto coisas que me deixam exaustas. Que burrice, a gente procura tornar a rotina mais cruel, masoquismo acho eu. E aí, vou eu, sonhando com aquela areia morna e na minha mão uma água de côco gelada, e claro, filtro solar como mais outra parafernália que não pode faltar na bolsa. Mas não precisava tanto assim, meu quarto poderia virar minha polinésia francesa, bastaria cortar parte do ritual, mas ainda não achei minha varinha de condão que me transportasse para fora dessa rotina. E mesmo quando se vê numa situação assim, você arranja outras ocupações mentais que lhe tiram a paz. Precisamos olhar para outras rotinas e fazer um balanço, ver se o erro é nosso, ou se nos cansamos rápido demais em comparação com outros que aceitam a rotina sem ser fardo. Uma vez conheci um caboclo no norte do país, plantava o básico, pescava, caçava, e tinha uma rede pra dormir. Banho no rio, e isso quando dava vontade, no dia que quisesse ou até mesmo na semana que quisesse... Dava umas risadas boas de tudo, e nada era suficientemente grave para lhe tirar sua felicidade. Forte, corado, disposto, e sem saber o que era uma academia. Olhei o sujeito, e pensei: este descobriu a porta que eu queria abrir. E concluí que falar dos confortos da cidade, era maldade grande aos ouvidos daquele homem. Bem, não sei se são os anos que vão acrescentando maior exigência, mas o passado sempre fica mais saudoso, e mesmo quando o dinheiro era mais parco, parecia que a vida era mais vida.
Não desisti da porta que me leve a menos mediocridades, enquanto isso, vou continuar o ritual diário, inclusive a deixar minhas letras espalhadas aqui no Luso.



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