A mágoa e a triste sorte de um cão de pernas quebradas

Data 17/12/2010 19:26:51 | Tópico: Poemas





Do sonho do fundo do sonho as paredes não

moldam a artífice mão e o sol desmaia directo

ao rio directo ao mar directo à memória

da janela do frigorífico juro-te o peixe espreita

congela a mão congela o frio congela o peixe

diz-me: na memória do sol junto ao rio junto ao

mar junto à terra junto ao corpo junto ao corpo

e o corpo que fenece que falece junto ao rio

junto ao mar junto ao mar imenso enorme na

porta do frigorífico congela o peixe congela a

mágoa e a triste sorte de um cão de pernas quebradas

arrasta o buliço na rua levanta-se e gente chega

e gente diz a poesia não jaz aqui a poesia não

jaz aqui do lado do cão morto que fenece que

falece pelo pêlo pelo mar pelo rio pelo frio pelo mar

pelo rio pela água que chega em golfadas ao cão morto

cão morto como poesia cão morto como último

verso como última palavra como última letra.


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