Do sonho do fundo do sonho as paredes não
moldam a artífice mão e o sol desmaia directo
ao rio directo ao mar directo à memória
da janela do frigorífico juro-te o peixe espreita
congela a mão congela o frio congela o peixe
diz-me: na memória do sol junto ao rio junto ao
mar junto à terra junto ao corpo junto ao corpo
e o corpo que fenece que falece junto ao rio
junto ao mar junto ao mar imenso enorme na
porta do frigorífico congela o peixe congela a
mágoa e a triste sorte de um cão de pernas quebradas
arrasta o buliço na rua levanta-se e gente chega
e gente diz a poesia não jaz aqui a poesia não
jaz aqui do lado do cão morto que fenece que
falece pelo pêlo pelo mar pelo rio pelo frio pelo mar
pelo rio pela água que chega em golfadas ao cão morto
cão morto como poesia cão morto como último
verso como última palavra como última letra.