CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA

Data 20/12/2010 12:48:17 | Tópico: Crónicas

Lisboeta, discreto dentro do hábito da sua timidez e humildade. Define-se como um homem comum, de vida calma, que escreve nas horas vagas e tardias. Vive com a mulher e a filhinha na Póvoa de Santa Iria. Aqui, muitas vezes, passa quase despercebido. Não gosta de louros, foge das badalações. Pediu-me que não escrevesse estas linhas. Mas estou contrariando o poeta.
Carlos Teixeira Luís, há alguns meses, enviou-me o seu Histórias do Deserto. Nas 94 páginas do livro, o autor reúne poesia e prosa, o que num mesmo volume nem sempre cai bem, mas no caso, aqui, deu certo. Entre os dois gêneros, eu diria que o casamento foi perfeito.
Como já disse, o problema é que Carlos Luís Teixeira não quer louros, não quer aplausos. Não são essas pequenas coisas, falsas às vezes, que ele deseja.Nada disso. Carlos quer apenas escrever. O ato de mexer com as palavras, "nas horas vagas e tardias", para ele é como respirar. E ele sabe mexer com as palavras. Trata seus escritos como um bicho de estimação.É dos poucos, entre os muitos daqui, que podem chamar a poesia de você. Mas Carlos prefere exaltar seus pares de ofício do que falar de si próprio.
Quase suplicou-me para que não divulgasse o seu livro. Mas eu não me sentiria bem se não desobedesse ao poeta.
Histórias do Deserto é um livro fantástico. Li-o e reli-o uma pá de vezes. Não quero bater na mesma tecla de novo, não. Mas no meio de tanto besteirol que se publica e se aplaude por aqui,por que a poesia de Carlos Teixeira Luís quase não é notada? Fácil. Porque ele escreve bem demais. Porque ele só está preocupado em escrever. Em dar o seu recado.
"detesto multidões desenfreadas
e descontroladas
e dadas a acessos cegos de ira
ou desordem
emoção gratuita
e vociferante
(...)
detesto
a fingida representação da hipocrisia
do sorriso que não é
detesto o fato cinzento
e a gravata vermelha
com excesso de postura"

Acho que neste poema Detesto, Carlos Teixeira Luís deixa bem claro porque prefere ser discreto e às vezes passar até despercebido.
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júlio


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