Crónicas : 

CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA

 
Lisboeta, discreto dentro do hábito da sua timidez e humildade. Define-se como um homem comum, de vida calma, que escreve nas horas vagas e tardias. Vive com a mulher e a filhinha na Póvoa de Santa Iria. Aqui, muitas vezes, passa quase despercebido. Não gosta de louros, foge das badalações. Pediu-me que não escrevesse estas linhas. Mas estou contrariando o poeta.
Carlos Teixeira Luís, há alguns meses, enviou-me o seu Histórias do Deserto. Nas 94 páginas do livro, o autor reúne poesia e prosa, o que num mesmo volume nem sempre cai bem, mas no caso, aqui, deu certo. Entre os dois gêneros, eu diria que o casamento foi perfeito.
Como já disse, o problema é que Carlos Luís Teixeira não quer louros, não quer aplausos. Não são essas pequenas coisas, falsas às vezes, que ele deseja.Nada disso. Carlos quer apenas escrever. O ato de mexer com as palavras, "nas horas vagas e tardias", para ele é como respirar. E ele sabe mexer com as palavras. Trata seus escritos como um bicho de estimação.É dos poucos, entre os muitos daqui, que podem chamar a poesia de você. Mas Carlos prefere exaltar seus pares de ofício do que falar de si próprio.
Quase suplicou-me para que não divulgasse o seu livro. Mas eu não me sentiria bem se não desobedesse ao poeta.
Histórias do Deserto é um livro fantástico. Li-o e reli-o uma pá de vezes. Não quero bater na mesma tecla de novo, não. Mas no meio de tanto besteirol que se publica e se aplaude por aqui,por que a poesia de Carlos Teixeira Luís quase não é notada? Fácil. Porque ele escreve bem demais. Porque ele só está preocupado em escrever. Em dar o seu recado.
"detesto multidões desenfreadas
e descontroladas
e dadas a acessos cegos de ira
ou desordem
emoção gratuita
e vociferante
(...)
detesto
a fingida representação da hipocrisia
do sorriso que não é
detesto o fato cinzento
e a gravata vermelha
com excesso de postura"

Acho que neste poema Detesto, Carlos Teixeira Luís deixa bem claro porque prefere ser discreto e às vezes passar até despercebido.
__________

júlio


Júlio Saraiva

 
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Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
TRIGO
Publicado: 20/12/2010 14:22  Atualizado: 20/12/2010 14:24
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Localidade: Cabeça-Boa - Torre de Moncorvo
Mensagens: 2309
 Re: CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA
...

FELIZ NATAL!

É
sempre
bonito, ver
como, sempre como abres as
janelas ao
teu

Coração



abraço, poeta Júlio


Enviado por Tópico
Angela.Rolim
Publicado: 20/12/2010 15:07  Atualizado: 20/12/2010 15:07
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Mensagens: 1160
 Re: CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA
Interessante isto que falas! Não conheço o poeta a quem te referes, mas consigo entender esta paixão silenciosa pelas palavras. Deve ser mesmo este amor que o abstrai de todo o resto. Percebo que escritores perdem muito tempo com o que não frutifica, tempo que poderia ser utilizado para escrever. Eu gosto de trocar idéias e de reverenciar os que admiro, mas odeio as trocas gratuitas de farpas. E é por já ter levado tantas farpas que muitas vezes me reservo silente. Vou ler o poeta por ti reverenciado. Um abraço!


Enviado por Tópico
Karla Bardanza
Publicado: 20/12/2010 15:14  Atualizado: 20/12/2010 15:17
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 Re: CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA/para o meu Ju
Ju,

Esse tributo ao Carlos é lindo.Você tem um grande coração e eu te admiro.Pena que nem todos possam ver ainda.

Te adoro

Ka


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/12/2010 16:54  Atualizado: 20/12/2010 16:54
 Re: CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA
Júlio,

Conheço (e vou lendo) o Carlos Teixeira Luís, mas desconhecia o seu Histórias do Deserto. Já agora, se for possível a informação, qual foi a editora que o publicou?
Obrigado.

DM


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/12/2010 18:56  Atualizado: 20/12/2010 18:56
 Re: CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA
Júlio, perdeste a cabeça, respeito a tua acção e agradeço-te do fundo do coração.
Encaro este acto de simpatia como uma reacção ao livro e fico feliz por isso.
Este livro para quem não sabe foi um tiro no escuro, é um risco fazer um livro assim, tentar um equilibrio entre prosa e poesia cingido ao mesmo tema.
A história do livro é a seguinte: foi editado pelo Atelier de Produção Editorial, chancela para autores desconhecidos da Quasi Edições, em Maio de 09. Quem fez a apresentação foi António MR Martins e a Vera Silva (excelentes apresentações). Em Outubro de 09 a Quasi (editora que por ex. até desaparecer era a única que editava Ferreira Gullar em Portugal) abre falência. Soube posteriormente que o meu livro foi exposto numa única livraria desde que saiu. Assim que sei o fecho da editora faço a minha publicidade e ponho o livro nalgumas livrarias como se fosse uma edição de autor. Foi uma edição de 400 exemplares, e eu fiquei com 200 (uma loucura) todos pagos por mim. Um duro ano depois tenho apenas alguns para amigos. Deu prejuízo mas aprendi várias coisas sobre edições, editoras, livreiros e livros.
Agora não o vendo porque nunca mais venderei livros a não ser nas apresentações. As livrarias servem para isso. Ética acima de tudo.
Por isso pedi ao Júlio para não divulgar. O livro existe mas o meu vinculo com a editora terminou e ela também, não faz sentido estar a divulgar algo que acabou.
Claro que tenho alguns exemplares e cedo a quem desejar mas não faço grande alarido.

Por este gesto de simpatia e amizade, fico sensibilizado e aqui vai um grande abraço ao Júlio e todos os que comentaram. Este é o 2º comentário que escrevo, o outro era tão longo que o tempo o fez expirar.

Grande abraço a todos. Obrigado.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/12/2010 19:32  Atualizado: 20/12/2010 20:10
 Re: CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA p/ Julio Saraiva
a deixar o meu abraço para o poeta Carlos Teixeira Luís, ao qual tive o prazer de ler e comentar um texto de sua autoria, por um destes tempos.
e dizer que sempre há esperança pra aqueles que gostam de criar, e/ou de, simplesmente ler, e conhecer, e continuar...

é preciso, sim, que as pessoas saibam que existem um palco verdadeiro. palco de página à primária-veia da arte. a verdadeira arte.
a que se constrói.

a isso digo:
ao Julio, Carlos(aqui) e aos demais que se portam.. e são tantos(Graças a Deus...)


Abraço para o Julio também(ehehhe)!!


Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 24/12/2010 01:43  Atualizado: 24/12/2010 01:43
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA
Assino por baixo Júlio! O Carlos é magnífico, quer como escritor, quer como ser humano!
É uma honra conhecê-lo! Já li e reli o livro e continuo a encantar-me com as preciosidades que lá encontro.
Ele vai longe! Haja olhos!

Beijo grande


Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 05/01/2011 15:56  Atualizado: 05/01/2011 15:57
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: CARLOS TEIXEIRA LUÍS, O MONGE DA PALAVRA
Se tivesse o dom de escrever assim e me dedicasse a homenagear aqueles de quem gosto, de certeza que este poeta seria um dos escolhidos e não mudaria uma só vírgula ao que aqui está escrito.
Muito, muito bom, mesmo

E porque ainda venho a tempo... um Bom Ano para si, Júlio.