O contentamento não dá à luz

Data 27/12/2010 22:33:27 | Tópico: Poemas

Tenho um canto sem voz
entre os lábios,
na boca fechada
serrada pelos dentes.

Tenho um silêncio atroz
por entre alfarrábios,
na estante guardada
com leituras prudentes.

Tenho um grito perdido
bem dentro do peito,
aguardando o momento
de seguir seu caminho.

Tenho um sentir sofrido
de qualquer jeito,
imperfeito alimento
do ego e seu ninho.

Tenho a fibra desfeita
na resistência ferida,
por tanto lutar
sem coisa obtida.

Tenho a esfera não feita
da noite dormida,
entre sonhos de arrasar
por dentro da vida.

Tenho tudo e nada
do nada que fica,
no tempo de agora
e no que está para vir.

Tenho a espera atrasada
duma vida mais rica,
que não nasce e demora
no acto do parir.

António MR Martins

2010.12.27


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