Poemas : 

O contentamento não dá à luz

 
Tenho um canto sem voz
entre os lábios,
na boca fechada
serrada pelos dentes.

Tenho um silêncio atroz
por entre alfarrábios,
na estante guardada
com leituras prudentes.

Tenho um grito perdido
bem dentro do peito,
aguardando o momento
de seguir seu caminho.

Tenho um sentir sofrido
de qualquer jeito,
imperfeito alimento
do ego e seu ninho.

Tenho a fibra desfeita
na resistência ferida,
por tanto lutar
sem coisa obtida.

Tenho a esfera não feita
da noite dormida,
entre sonhos de arrasar
por dentro da vida.

Tenho tudo e nada
do nada que fica,
no tempo de agora
e no que está para vir.

Tenho a espera atrasada
duma vida mais rica,
que não nasce e demora
no acto do parir.

António MR Martins

2010.12.27


António MR Martins
Tem 12 livros editados. O último título "Juízos na noite", colecção Entre Versos, coordenada por Maria Antonieta Oliveira, In-Finita, 2019.
Membro do GPA-Grupo Poético de Aveiro
Sócio n.º 1227 da APE - Associação Portugues...

 
Autor
António MR Martins
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/12/2010 22:44  Atualizado: 27/12/2010 22:44
 Re: O contentamento não dá à luz
a poesia sob a égide do poeta; firmando a voz do poema, como vemos aqui, transcritos nos versos.
aquele abração Carioca.
Feliz 2011, António.

Enviado por Tópico
antóniobotelho
Publicado: 28/12/2010 01:22  Atualizado: 28/12/2010 01:22
Da casa!
Usuário desde: 13/04/2010
Localidade: Aguiar da Beira - Guarda
Mensagens: 312
 Re: O contentamento não dá à luz
Caríssimo António Martins,
Ora aqui está a expressão das posses do Homem sempre inacabadas!
Gostei!

Cumprimentos poeticonatalícios,

António Botelho