Autoretrato sem dó menor

Data 09/01/2011 21:43:41 | Tópico: Poemas

Tom de tempo temperado em timbre de tal demora em espera.
Fulminante instante de pujança marcante no dédalo durar de uma era.
Finta o fígado migado com tumores de fado e aguardente de cana…
Coração enforcado de amores estrangulados em mortalhas de cama.
Cigarros ás tantas e tantos suspeitos pelo meio da estrada…
Estão ora defeitos lírios no meu peito, púcaro de facadas.
Rima-me o rum pastéis e atum e côdeas de pão…
Eu então que só um com outro nenhum que me queira a mão.
Alivio o grito nos prostíbulos da rua, no frio da nação.
Artroses de medo cintilantes nos dedos, gota e ciática…
Células em desarmonia, profilaxia insolvível, deficiência linfática.
Já enterrei meio corpo no lugar do morto sozinho e sem luta…
Sou o zero do zero, cálculo binário, rendimento de puta.
Destes mirares e beleza a perder no encanto do espelho…
Caem-me os dentes, cresce a barriga e chumba os pintelhos.
Seduzo mulheres, acido colheres num afecto cítrico…
Hipócrita defesa onde o amor se entesa em processo analítico.
Sou um fora de porta um pouco me importa dos olhos em choro…
Sequei minhas lágrimas longe em viagens do corpo onde moro.
Não sei da ofensa ou da falsa pretensa de me ter melhor…
Religião e moral e coisas que tal não tenho por dor.
Sou então um então perdido e sem mão e rugas no fato…
Não peço perdão de ser um cabrão neste autoretrato.



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