
ORDEM NA CASA
Data 17/01/2011 01:15:34 | Tópico: Poemas -> Surrealistas
| 
Num lugar que você sabe [ casulo do L.P] Este fato aconteceu. As pessoas que eu descrevo, Você talvez conheça.. E se você não se lembra, procure na consciência. Porque se houver semelhança, Não é mera coincidência. O burrico vinha trotando pela estrada. De um lado vinha o roliço ferreiro, puxando o cabresto. Do outro vinha o velho com um chapéu verde, Contente, que o dia estava fresquinho e o sol Brilhava no céu. Sentados no barranco estavam dois homens. No que viram o burro mais o Ferreiro e o velho Do chapéu verde, um cutucou o outro: – Veja só, compadre! Que despropósito! Em vez do velho montar no burro, O burro monta nele! O velho e o Ferreiro se olharam. Assim que viraram na primeira curva, o burro parou e montou dessa vez no Ferreiro.. O Velho segurou o cabresto e lá se foram os três, muito satisfeitos. Até que perto da ponte tinha uma casa com uma mulher na janela. – Olha só, Sinhá, venha ver o desfrute! O Burro no bem-bom, montado no Poeta-Ferreiroo, e o pobre do Velho gramando a pé! O velho e o Ferreiro se olharam de novo. Assim que saíram da vista da mulher, o Burro desceu do Ferreiro e Montou na cacunda do Velho. E foram andando um pouco ressabiados, o Ferreiro puxando o Velho pelo Comprido chapéu verde, pensando no que o povo podia dizer.
Logo logo, passaram numa porteira onde estava parada uma Moça loira De olhos azuis, e uma menina também loirinha, no braço do Pai. – Mas que absurdo, minha gente! Um velho que nem se agüenta nas pernas andando a pé, e o Burro, bem sem-vergonha, escanchado no dorso do velho! Os dois se olharam e nem esperaram. O velho mais que depressa saiu de baixo do burro e lá se foram os três. Dali a pouco encontraram um padre que vinha pela estrada mais o sacristão: – Olha só, que pecado, onde é que já se viu? O pobre do Ferreiro, coitadinho, carregando dois preguiçosos! Mas isso é coisa que se faça? O velho e o Burro, desanimados, desmontaram e nem discutiram: Saíram carregando o Ferreiro. Mas nem assim o povo sossegou! Cada vez que passavam por alguém, era só risada! – Olha só os dois burros carregando o terceiro! Quando chegaram em casa, o velho sentou cansado, se assoprando: – Bem feito! — ele dizia. — Bem feito! – Bem feito o quê, Vô Bebertino? – Bem feito pra nós. Que a gente já faz muito de pensar pela própria cabeça, e ainda quer pensar pela cabeça dos outros. Agora eu Sei por que é que meu pai dizia: Quem quer agradar a todos A si próprio não faz bem! Pois só faz papel de burro E não agrada a ninguém!
|
|