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ORDEM NA CASA

 
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Num lugar que você sabe
[ casulo do L.P]
Este fato aconteceu.
As pessoas que eu descrevo,
Você talvez conheça..
E se você não se lembra,
procure na consciência.
Porque se houver semelhança,
Não é mera coincidência.
O burrico vinha trotando pela estrada.
De um lado vinha o roliço ferreiro, puxando o cabresto.
Do outro vinha o velho com um chapéu verde,
Contente, que o dia estava fresquinho e o sol
Brilhava no céu.
Sentados no barranco estavam dois homens.
No que viram o burro mais o Ferreiro e o velho
Do chapéu verde, um cutucou o outro:
– Veja só, compadre! Que despropósito! Em vez do velho montar no
burro, O burro monta nele!
O velho e o Ferreiro se olharam.
Assim que viraram na primeira curva, o burro parou e montou
dessa vez no Ferreiro..
O Velho segurou o cabresto e lá se foram os três, muito
satisfeitos.
Até que perto da ponte tinha uma casa com uma mulher na janela.
– Olha só, Sinhá, venha ver o desfrute! O Burro no bem-bom, montado
no Poeta-Ferreiroo, e o pobre do Velho gramando a pé!
O velho e o Ferreiro se olharam de novo.
Assim que saíram da vista da mulher, o Burro desceu do Ferreiro e
Montou na cacunda do Velho.
E foram andando um pouco ressabiados, o Ferreiro puxando o Velho pelo
Comprido chapéu verde, pensando no que o povo podia dizer.

Logo logo, passaram numa porteira onde estava parada uma Moça loira
De olhos azuis, e uma menina também loirinha, no braço do Pai.
– Mas que absurdo, minha gente! Um velho que nem se agüenta nas
pernas andando a pé, e o Burro, bem sem-vergonha, escanchado no dorso do velho!
Os dois se olharam e nem esperaram.
O velho mais que depressa saiu de baixo do burro e lá se foram
os três.
Dali a pouco encontraram um padre que vinha pela estrada mais o
sacristão:
– Olha só, que pecado, onde é que já se viu? O pobre do Ferreiro,
coitadinho, carregando dois preguiçosos! Mas isso é coisa que se faça?
O velho e o Burro, desanimados, desmontaram e nem discutiram:
Saíram carregando o Ferreiro.
Mas nem assim o povo sossegou!
Cada vez que passavam por alguém, era só risada!
– Olha só os dois burros carregando o terceiro!
Quando chegaram em casa, o velho sentou cansado, se assoprando:
– Bem feito! — ele dizia. — Bem feito!
– Bem feito o quê, Vô Bebertino?
– Bem feito pra nós. Que a gente já faz muito de pensar pela
própria cabeça, e ainda quer pensar pela cabeça dos outros. Agora eu
Sei por que é que meu pai dizia:
Quem quer agradar a todos
A si próprio não faz bem!
Pois só faz papel de burro
E não agrada a ninguém!



MEU NOME E ..OLO, SO.



 
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olacabradepeia
 
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