
Poema Crônico
Data 27/01/2011 04:41:58 | Tópico: Poemas -> Sombrios
| Olha, Olha lá. Parece uma donzela de branco Vestindo aquelas roupas esvoaçantes Do alto da sacada. O olhar de varanda, A ventania de dama de companhia, A noite por tutora, Olha.
Ela agora vai fazer um aceno, Que é aquilo, é um adeus? Ela vai das baratas às flores, Perscrutando cenas com um pestanejar, Olha, ela está no cume do monte, Beirada pela sacada, Sua tendência é cair.
Se ao menos estivesse escalando… Mas ela tem boa parte do que quer; Se sente no topo. Sem amor, vá lá, Mas no cume do vazio. Será mesmo que o que nos falta é amor? Foi mesmo Zeus quem nos partiu no meio? Olha, eu acho que o que partiu Foi a saudade de não sentir falta. Agora sentimos E deixamos… Enquanto a virgindade parece um sonho distante Destroçado pelos amores que já não vêm; E se vêm, Se vão Num vão tão infinito… Uma ranhura, fissura fixa no firmamento, No caiar do pleno dia.
Encarar tais olhos É ter coragem de enfrentar a própria fome; Que sexo, que aventura… Que amor o quê?
Ela agora vai voltar pra dentro, Sentar-se e escrever um poema. Olha não, Disfarça que envergonha… Chega a ser triste contemplar A alma do poeta Se fechando pra balanço Sem amar.
|
|