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Poema Crônico

 
Olha,
Olha lá.
Parece uma donzela de branco
Vestindo aquelas roupas esvoaçantes
Do alto da sacada.
O olhar de varanda,
A ventania de dama de companhia,
A noite por tutora,
Olha.

Ela agora vai fazer um aceno,
Que é aquilo, é um adeus?
Ela vai das baratas às flores,
Perscrutando cenas com um pestanejar,
Olha, ela está no cume do monte,
Beirada pela sacada,
Sua tendência é cair.

Se ao menos estivesse escalando…
Mas ela tem boa parte do que quer;
Se sente no topo.
Sem amor, vá lá,
Mas no cume do vazio.
Será mesmo que o que nos falta é amor?
Foi mesmo Zeus quem nos partiu no meio?
Olha, eu acho que o que partiu
Foi a saudade de não sentir falta.
Agora sentimos
E deixamos…
Enquanto a virgindade parece um sonho distante
Destroçado pelos amores que já não vêm;
E se vêm,
Se vão
Num vão tão infinito…
Uma ranhura, fissura
fixa no firmamento,
No caiar do pleno dia.

Encarar tais olhos
É ter coragem de enfrentar a própria fome;
Que sexo, que aventura…
Que amor o quê?

Ela agora vai voltar pra dentro,
Sentar-se e escrever um poema.
Olha não,
Disfarça que envergonha…
Chega a ser triste contemplar
A alma do poeta
Se fechando pra balanço
Sem amar.



yuri emanuel

 
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yuriemanuel
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/01/2011 11:06  Atualizado: 27/01/2011 11:06
 Re: Poema Crônico
poema é um contemplar crônico e platônico pela natureza da sua distância constante. gostando da sua escrita, cara.

aquele abração bem Carioca.

zésilveira