QUE ME ARDA...

Data 01/03/2011 04:49:17 | Tópico: Textos

.
QUE ENTÃO ME ARDA...

Eu te beijava. Tua boca não tinha mais profundidade para a minha língua larga. Eu te lambia. Tua boceta molhada quase não me cabia. Eu te roçava a barba. Tu rebolavas e falavas: - Que gostoso... me arda... - Os teus cabelos dourados desdobravam-se às minhas chupadas deslizando à fronha empapada. À minha boca, aquele gosto da tua ânsia melada. Até a cama sabia como participar da sacanagem: contrariando a mudez absoluta da madrugada, gemia covarde e, vez em quando, golpeava a costa da cabeceira na parede. Nessa escrachada putaria, não era hora, mas nem evitei caísse uma lágrima. Deixei rolar uma, apenas uma, sem que tu percebesses: era de alívio, era de alegria, era de prazer em saber que haveria cumplicidade depois da carne consumir a carne e que, olhos nos olhos, soltaríamos uma gargalhada debochada, morderíamos a orelha um do outro e eu, ainda em meio ao teu torpor deliciado, prenderia teus braços nos meus entre cócegas e risadas e te falaria: - Como você fode bem, sua sacana! - Tu, nada surpresa, responderias com tua boca carnuda, debochada e confiada: - Verdade, fodo mesmo... – Mais tarde, antes que tuas pálpebras cedessem definitivamente ao sono, aquilo me veio como uma erupção incontrolável e eu, pela primeira vez, te disse em hora e forma perfeita e sincera de falar: - Olha... Eu te amo. Precisei falar, tá? - E tu, sem deixar barato, graciosamente cômica e fingindo surpresa, respondeste: - Verdade? porra, então me arda e arda-me em você para sempre, meu amor safado! - Em seguida aplicaste aquela mordida punitiva e picante no meu peito, com todos teus dentes, tal fosse apenas a dor o prêmio por essa revelação... - De certa forma, aquela noite jamais terminou. Meu mamilo parece que ainda lateja intumescido da tua boca e, desde então, eu ardo sem parar, sem parar... Antes não, mas agora, arder-me, dói. Acho que escrever é a única coisa que ajuda a aliviar a minha pele desse ardume, como fosse uma espécie de bálsamo homeopático. Talvez, tu retornasses, eu deixasse esse troço de escrever completamente de lado e deixava-me arder só como mais um personagem tarado de um conto erótico.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=177520