SUPLICO A ESMO: VÃO VIVER

Data 11/03/2011 16:08:28 | Tópico: Poemas


SUPLICO A ESMO: VÃO VIVER

desabotôo-me por dentro
para fechar-me por fora

exponho
meus ouros
meus cobres

(forjo outros metais destemperados)

oriundos das minas
mais profundas
do intestino delgado

cuspo meu orgulho
numa escarradeira cravejada
de brilhantes

entupo-me
de salmão com gosto
de mortadela azeitonada

o que sai em troca
com o meio-ambiente
são gases

gases hilariantes

- a regra do meu jogo
é estapear
os entes mais queridos

matar de beijos qualquer
não-parente
suficientemente odiável

só porque
todos eles
tem algo de tolerável

(são muito mal bem-educados) -

após
enrolo-me
com papel alumínio

(coloco-me em microondas)

um minuto é o suficiente
para esquentar os ânimos

queimo-me

dos cabelos loiramente mechados
até as amarelas unhas

sirvo-me
com talheres de prata
em desenhados pratos de papel

ávido e esfomeado,
rasgo-me
até a fina toalha de algodão egípcio

provoco
o tombo do raro vinho
em minha profunda garganta

- furada -

os bordôs
já não são como antes
(muito velhos para minha juventude)

sonhar com sucesso
é enfadonho mas real
(requer vastas goladas)

a sombra do sobrado
é replicantemente repleta
de luzes egoístas

o que coloca-me
em vantajosa
e amordaçada evidência

vivo morrendo
a cada palavra
por vencimento do prazo de validade

a água dos absurdos
atufa o leito licoroso
de meu valão sentimental

isso soa
como se fosse algo
veramente relevante

(o que de fato é)

ah, como estou empanturrado,
coberto de nada,
cheio de mensagem alguma...

o que
em tese
seria bom para todos

(menos para cada um por si só)

aguentem
: tempo se perde,
o ponteiro vai e não fica,
zomba,
caçoa

suplico a esmo
: acordem e vão viver
(a vida por si só é suficiente poesia)



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=179011