PARADAS CARDÍACAS

Data 22/03/2011 00:29:36 | Tópico: Poemas


PARADAS CARDÍACAS

Coração metropolitano

Batendo britadeira
Nas esquinas poluídas
Dos tantos momentos
Cimentados

Coordena descompassado
O não-fluir
Não-estático
Do trânsito
Congestionado

Rege
Uma chuva sistólica
Em compasso lento,
Engarrafado

Esfria estados

Engaveta sentimentos

Agora mesmo
Enquanto versejo,
O incansável
Músculo trabalhador,
Acidentado,
Fraqueja

Neste exato momento
Enfarta
Super-rápido

Seu último ato
Antes de estagnar o peito...

Liberta-se
Das feridas do dia-a-dia
Da vida não sentida
De seus neuróticos efeitos

Logo em seguida
Chama um táxi
Numa paulista avenida
Para levá-lo
Sem desvelo

Entre
Tropas de choque
E paradas cardíacas

Avança
Ignorante, sem receio
Sobre todos
Faróis vermelhos
Que porventura encontra
Nessas esnobes ruas compridas...

Debochado,
Definitivamente pára

Ainda fibrilando
Paga a corrida e
Salta do auto
Numa praça desconhecida
Desguarnecido da lembrança
De tudo e todos
Que já o fizeram palpitar

Só então,
Finalmente
Oficialmente
Ex-coração

Salvo desse batecum
Insano, agitado,
Em desvairado falsete
Pode aproveitar a noite

: Como antes nunca o fez
Ou sentiu

E se embriaga de chopp
E caipirinha
Num fastuoso Happy-Hour
Desses cheios de comidas
Gordurosas

Lá pelas tantas
No meio das putas
E das travecas
Glamurosas
Ainda tem forças
Para gargalhar

Incontida alegria
Ao lembrar
Que amanhã, de manhã
Não haverá mais um dia
De bateria, de covardia

Porque quando se morre
É quando mais se celebra
A vida
Nesta simpática fábrica
De zumbis





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