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 Série: Textos escondidos do Luso-Poemas - Suspiras veludo...Data 31/03/2011 21:59:00 | Tópico: Textos
 
 |  | Suspiras veludo... 
 Hoje acordei e o som é sólido.
 O canto dos pássaros entra pela minha janela como belas e suaves auroras.
 A água com que me lavo mistura-se com pulsões brilhantes e espessas.
 A máquina de barbear faz metais cinzentos e ásperos.
 O fecho do casaco dispara pequenos sons para todo o lado.
 Mastigo algo à pressa e a minha jugular treme alguns ténues véus de cores claras.
 Quando fecho a porta atrás de mim esta explode em mil pedaços escuros e gordos que recuam nas paredes.
 Agora os meus passos criam crateras duras pelo chão.
 Os carros passam por mim e criam espessas nuvens de som que cobrem a luz do sol por toda a rua.
 As pessoas amontoam-se com as suas crateras pelos passeios e com o algodão que produzem quando se acotovelam.
 Uma porta abre-se e de lá de dentro saem discussões de um rubro inflamado com fôlegos esvoaçantes.
 Um cão ladra emaranhados prateados. E o seu dono tira o céu de um acordeão. E as moedas que caem na sua caixa de cartão soltam setas afiadas de clarões de magnésio.
 As vozes são fios coloridos que saem das pessoas e se misturam pelo ar. Cruzam-se e voam lentamente. Perdem-se e encontram o seu destino. São tantas cores. Tantas texturas.
 São a marca única de cada um. Todas diferentes e todas molhadas pelo líquido que o vento faz quando passa entre as folhas das árvores.
 Agora estou contigo. O teu toque larga pétalas brancas.
 Suspiras veludo.
 Fazes silêncio para conseguires ver o meu sorriso.
 E é então que te aproximas e tapas com a mão o teu murmúrio…
 
 Emanuel Madalena
 publicado pelo autor em 13/06/2007 16:35:49
 
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