Suspiras veludo...
Hoje acordei e o som é sólido. 
O canto dos pássaros entra pela minha janela como belas e suaves auroras. 
A água com que me lavo mistura-se com pulsões brilhantes e espessas. 
A máquina de barbear faz metais cinzentos e ásperos. 
O fecho do casaco dispara pequenos sons para todo o lado. 
Mastigo algo à pressa e a minha jugular treme alguns ténues véus de cores claras. 
Quando fecho a porta atrás de mim esta explode em mil pedaços escuros e gordos que recuam nas paredes. 
Agora os meus passos criam crateras duras pelo chão. 
Os carros passam por mim e criam espessas nuvens de som que cobrem a luz do sol por toda a rua. 
As pessoas amontoam-se com as suas crateras pelos passeios e com o algodão que produzem quando se acotovelam. 
Uma porta abre-se e de lá de dentro saem discussões de um rubro inflamado com fôlegos esvoaçantes. 
Um cão ladra emaranhados prateados. E o seu dono tira o céu de um acordeão. E as moedas que caem na sua caixa de cartão soltam setas afiadas de clarões de magnésio. 
As vozes são fios coloridos que saem das pessoas e se misturam pelo ar. Cruzam-se e voam lentamente. Perdem-se e encontram o seu destino. São tantas cores. Tantas texturas. 
São a marca única de cada um. Todas diferentes e todas molhadas pelo líquido que o vento faz quando passa entre as folhas das árvores. 
Agora estou contigo. O teu toque larga pétalas brancas. 
Suspiras veludo. 
Fazes silêncio para conseguires ver o meu sorriso. 
E é então que te aproximas e tapas com a mão o teu murmúrio…
Emanuel Madalena
publicado pelo autor em 13/06/2007 16:35:49
                
A boa convivência não é uma questão de tolerância.