Fábrica em Ruínas
Data 17/05/2011 12:37:03 | Tópico: Poemas
| A fábrica está em ruínas O arroz já não passa Nem a casca desliga A saca rasgou magoada
É tela, pinturas na carapaça Arte em ruínas De quem na vida foi grande Na política do estigma Artistas sem medo Que deram a vida Na paisagem gasta
Quando tudo ruir No tempo da traça Memórias de um rio Que a água desgasta Andorinhas fiando ninho Em paredes desgastas Agrestes aos cantos Janelas estilhaçadas
Já foi suor... Já foi trabalho...
Agora marcas De algumas vidas Já reformadas e outras despedaçadas Onde nasce um abrigo Para almas desempregadas Onde ficam escritos os gritos Nas grafites de Deus Numa sociedade, pouco verde e ofuscada
Cheia de mitos, e preconceitos Falando ser civilizada Onde tantos morrem calados Desculpas de charros Bobs Marleys revoltados Onde a educação foi fachada Sexologia avançada, no pudor da estrada Onde a sombra é projectada E a felicidade comprada Como numa fábrica desactivada
“Escondida beleza” Sem ser emoldurada O seu valor é nada Tudo é feito de noite Pela calada
O cravo vermelho chora o sofrimento da sua amada 25 de Abril doente Défice de um povo Que paga a factura Da liberdade aberta Em troca de uma felicidade Forjada
As flores nascem no cimento Sem serem plantadas Mão-de-obra barata (E)migração desabitada Onde muitos abundam Outros querem suar E não suam nada
Que tal uma cunha Para uma Fábrica desactivada Um pouco de graxa nas peças degradadas
Calem a boca aos filhos Paguem-lhe os cursos Continuem com os incentivos No fim, não têm que fazer nada Para termos Doutores Com uma alma desempregada Lutem...Lutem... Nesta reforma agrária desgraçada
Venham os homens da luta Para mostrar a essência do nada Continuamos a ter grandes homens No Big Brother Nos morangos com açúcar Nos jornais e nas revistas A fazer palhaçadas
Cavalheiros, Senhores Agora corruptos? A palavra já está gasta na praça Poderosos homens a falar.
Quantos para se enobrecer Até comem a maior desgraça
Cristina Pinheiro Moita
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