Poemas : 

Fábrica em Ruínas

 
Fábrica em Ruínas
 
A fábrica está em ruínas
O arroz já não passa
Nem a casca desliga
A saca rasgou magoada

É tela, pinturas na carapaça
Arte em ruínas
De quem na vida foi grande
Na política do estigma
Artistas sem medo
Que deram a vida
Na paisagem gasta

Quando tudo ruir
No tempo da traça
Memórias de um rio
Que a água desgasta
Andorinhas fiando ninho
Em paredes desgastas
Agrestes aos cantos
Janelas estilhaçadas

Já foi suor...
Já foi trabalho...

Agora marcas
De algumas vidas
Já reformadas
e outras despedaçadas
Onde nasce um abrigo
Para almas desempregadas
Onde ficam escritos os gritos
Nas grafites de Deus
Numa sociedade, pouco verde e ofuscada

Cheia de mitos, e preconceitos
Falando ser civilizada
Onde tantos morrem calados
Desculpas de charros
Bobs Marleys revoltados
Onde a educação foi fachada
Sexologia avançada, no pudor da estrada
Onde a sombra é projectada
E a felicidade comprada
Como numa fábrica desactivada

“Escondida beleza”
Sem ser emoldurada
O seu valor é nada
Tudo é feito de noite
Pela calada

O cravo vermelho
chora o sofrimento da sua amada
25 de Abril doente
Défice de um povo
Que paga a factura
Da liberdade aberta
Em troca de uma felicidade
Forjada

As flores nascem no cimento
Sem serem plantadas
Mão-de-obra barata
(E)migração desabitada
Onde muitos abundam
Outros querem suar
E não suam nada

Que tal uma cunha
Para uma Fábrica desactivada
Um pouco de graxa
nas peças degradadas

Calem a boca aos filhos
Paguem-lhe os cursos
Continuem com os incentivos
No fim, não têm que fazer nada
Para termos Doutores
Com uma alma desempregada
Lutem...Lutem...
Nesta reforma agrária desgraçada

Venham os homens da luta
Para mostrar a essência do nada
Continuamos a ter grandes homens
No Big Brother
Nos morangos com açúcar
Nos jornais e nas revistas
A fazer palhaçadas

Cavalheiros, Senhores
Agora corruptos?
A palavra já está gasta na praça
Poderosos homens a falar.

Quantos para se enobrecer
Até comem a maior desgraça


Cristina Pinheiro Moita



Cristina Pinheiro Moita /Mim/

 
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