a fisga e as tranças

Data 04/07/2011 18:43:41 | Tópico: Poemas

Podemos até saber o que queremos da vida, mas nunca o que esperar dela, tal como daquele colega da carteira ao lado meio incerto, que nunca percebemos se é mesmo nosso companheiro, ou se pela calada faz queixinhas de nós à professora, o mesmo que nunca sabemos se nas brigas nos vai defender ou ajudar bater.
Deixa-me ser a miúda das tranças que te sorri com ternura, e cúmplice, te pisca o olho enquanto levas a reprimenda da professora, aquela que te ajuda a tratar as feridas depois do pugilato, e ainda diz que da próxima vez é que vai ser! Ah, pois vai! Da próxima vez vamos arquitectar uma estratégia de contra-ataque absolutamente perfeita. E vamos fazer a folha ao gajo!... Ideias largadas na prateleira da nossa inocência e que sabem bem acalentar...
Seria bom se a vida se fizesse apenas de dança, sorrisos e afectos… Mas não, às vezes parece que faz até questão de nos atormentar e de não deixar que nos sintamos tranquilos. Nem felizes. Como se ser feliz não fosse vencer na vida, mas sim vencer à vida.
No entanto, essa mesma vida castrante que tão má sabe ser, de quando em vez traz-nos um punhado de coisas boas, que ficam, que amaciam e adoçam o caminho… Há que saber segurá-las de mão firme para nada se esvaia entre os dedos. É onde te seguro: na palma, de encontro ao peito.
E perde essa mania irritante de dizeres que me aborreces! Sempre contigo no dia a seguir, lembras-te? Porque só assim sei ser junto de quem me faz bem.
(Se voltas a repetir a mesma cantiga, juro pelas minhas tranças, que te atiro a fisga ao ribeiro e digo a todos na escola que ainda usas chupeta para dormir! Podem nem acreditar, mas fazem pouco de ti na mesma!)

Marina do Feixo, Junho de 2010



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