[Interséculo]

Data 29/07/2011 22:20:08 | Tópico: Poemas




Tristes sertões! Tristes Sertões!
O XIX, o Oitocentos, vige ainda!
A velha carroça de nossa história
insiste, tracoleja ainda nas estradas!

Tristes trapos de gentes!
Ontem, demoravam o seu choro,
e desfiavam as suas esperanças
no gemido dos carros de bois

e nas patas dos burros.
Hoje, gemem as suas dores
na tortura dos ossos finos
da virgem prostituta infantil,

ou nas canelas ligeiras
do frágil menino-corisco
que garimpa uns trocados
nos cruzamentos da cidade!

Tristes trapos de gente!
Filhos do Tempo,
o Ontem os gerou,
o Hoje os maltrata,

e o Futuro os mata
de esperanças vazias...
Ou à bala nas vielas
e nos becos escuros!

Tristes sertões, tristes trapos de gentes:
temos o Passado e o Presente
a cada passo que damos,
E a cada volta do nosso olhar!

Mas e o Futuro?... O Futuro?
É a maquinação ardilosa de poderosos,
a trama infame dos privilégios de alguns;
é a certeza de dor, de carradas de dor!

__________
Da minha coletânea "Arribadas[O Passo da Volta]", ilustrada por Paula Baggio





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