
A CRONICÁLIA APRESENTA: O CONTO PROIBIDO
Data 31/08/2011 18:35:01 | Tópico: Crónicas
| PARTE DO CONTO PROIBIDO (ainda incompleto)
Capítulo 01 Assaltos e transes entre as transas do destino
Tudo começa Na festa a fantasia Na casa do Diabo Dançando vozes Ao ritmo familiar, repicado; Desencontrado, mastigado, de fumaça Risada... Paz Ao mesmo tempo Noutras terras A mãe do Diabo morria, no lago... E a serpente a avisara uma ultima vez.
Mas na festa todos sorriam Longe da serpente Longe da morte Todos riam da fantasia da morte Mas ninguém jamais ousara rir da serpente
Do outro lado da cidade, Daniel pegava a lotação. A mesma, todos os dias, o mesmo cobrador, as mesmas senhoras; Inclusive a senhora que Daniel assaltou... Enquanto revirava seus olhos num de seus “transes fora de hora” até então inexplicáveis Revirava também a bolsa da senhora que ao deparar-se com a face assustadora do rapaz, desceu correndo da lotação sem notar que havia sido roubada.
Ele... Daniel...
Ao voltar do transe viu a carteira da senhora em sua mochila, muito dinheiro, cheque, uma carta com o endereço da senhora e um remetente do Ceará. Daniel então usou parte do dinheiro da senhora para comprar um buquê de rosas devolvendo banhado da Benção e do Olhar Divino da Misericórdia dos Céus; Na situação em que se encontrava sua humilde alma Como a de um réptil fardada a contorcer-se em transe Sem nada ver ao redor Vez ou outra sombras, vultos; E as vozes Entregue a seus demônios que nesta luta como tantas outras foram derrotados E Daniel devolveu com a gentileza de um lorde fracassado A carteira e um buquê de rosas vermelhas de vergonha Com cheiro de perdão e carinho
Daniel passou vergonha ao carregar o buquê pelas ruas Pela portaria do prédio da senhora Vestia seu coturno preto, sua jaqueta de couro, camisa de banda, naquele calor. Mas o buquê coloria seu coração E corava suas bochechas Sua alma que sentia-se amaldiçoada Estava na verdade repleta do Amor que lhe consolava Redimia-se ali Perante o Amor inevitável Do perdão Do caráter Do medo das dúvidas Das sombras que são seus atos
E na festa Todos sorriam Da fantasia do Diabo Das prostitutas Dos ladrões Lá fora todos morriam Menos as prostitutas e os ladrões Menos o Diabo E seus amigos fantasiados
LÁ FORA Os homens eram sentenciados a todos os tipos de vida A Fé que mata Que cura Remédios para morte Para fama As promessas de segurança O futuro garantido Os mais perfeitos inventores, filósofos, lideres Penteando seus cabelos Perfumando seus sovacos Escovando seu cérebro Drenando suas fezes Castigando o milho O santo milho Que em seu funeral enterra consigo a tradição a renda do povo sábio que abandona o simples para morrer de luxo e de lixo Sem pão Sem milho Sem raízes Sem nada Já as prostitutas Os ladrões O Diabo Os piratas A corte real Estavam em festa, fumando maconha Aonde ninguém morria ouvindo Jimi Hendrix, aonde ninguém tinha medo.
Riam fartos de pão e vinho da fantasia da morte Que mais parecia um segurança de shopping.
Parte 01 Capítulo 02 Fábulas metropolitanas E Profecias
Todos os jovens são imortais E morrem todas as manhãs Banhados de liberdade Cheios do sexo Cheios de estrelas Que quando espatifadas revelam-se meros centavos descontados de seu esforço saudável
SEU
Dever cumprido
SEU
Corpo malhado
SEU
Plano infalível
Sua vitória esfomeada Coxas lisas e macias Toda sua escória Escorrida... Lisa... Como cabelos que entopem ralos Apenas mentiras escorridas Choronas
Os jovens estudam Usam seu sexo E matam coisas invisíveis sem querer
Quem é Daniel no meio de tanta mentira? Tantos gemidos? Tanta força? Tanta fé? Quem é? O milho? O Zé? Da Fé? De quem é o café? A cidade? As prostitutas? O Diabo? Quem escolhe o preço dos mortos? Os homens que enxergam através dos livros Ou os que defecaram sua juventude?
Rosas que renascem a todo momento não pensam nisso. Não existe estas dúvidas Elas não tem medo de NADA Mas mesmo assim quando estão em retiro Pedem perdão Soluçam arrependimentos Por atos que não cometeram; Apenas pensaram; Pois querem a pureza, perfume, grandeza Querem justificar sua beleza Sua nobreza São rosas livres!!! Caminham soltas no Reino dos Céus!!! Não são serpentes como Daniel...
NO LESTE Wellingtom 6hs AM caFÉ e metrô frio e aperto fumaça buzina neblina, pão na chapa, cheiros, angústia, sono Ele vende o que pode geralmente mas agora arrumou um emprego de verdade com cartão de visitas e tudo. Agora ele vende carros novos, usados imóveis e créditos É um vendedor de sonhos Consórcio de sonhos! Ele é Wellingtom Assim como uma bomba é uma bomba Aquele é Wellingtom Tem que comprar remédios Sua esposa e seus filhos estão sob controle Estão comendo e vendo TV os remédios estão lá e todos estão bem.
Wellingtom tem que vender Acordar Comer Vender Desde que entrou no emprego Wellingtom vendeu ao primo e ao cunhado É muito pouco... Precisa então de um troco extra para o pão
Então começou a vender além de seus créditos de sonhos que nunca saiam do papel, miniaturas da bíblia feitas de plástico abertas em salmos específicos R$1,00 cada Acordar, comer, vender Comer estava prestes a sair da rotina Wellingtom vende a alma para a empresa que come crianças, pobres e idosos A empresa que cria créditos para sonhos e fabrica morte de luxo com cheirinho de novo.
Wellingtom sente-se o conto de fadas mais medíocre da história Realizador de sonhos de merda! Quem é ele? No meio de tanto petróleo e grito? No meio de tanta dor e mito? Sem ver como os que vêem além das estrelas Como os que tem os olhares dos céus
Ele estará fardado a escravidão! Pois vendeu sua alma para a idéia dos outros Ao invés de vender seus olhos para o céu Sem precisar de dinheiro Sem precisar vender seus salmos e créditos redundantes A U T O D E S T R U T Í VEIS A U T O C O N S U M Í V E I S
Vendedores de palavras Mal caráter é aquele que vende palavras e cobra conhecimento de suas mentiras Suas auto afirmações infinitas Assim como foi Wellingtom Vendendo seus sonhos de mentira com parcelas a perder de vista Gerando endividados orgulhosos e preocupados
Uma fábula morta da rotina inevitável daquele que não vendeu seus olhos para os céus. Daniel achava que sabia do que isso se tratava E tinha um preconceito juvenil bem grande sobre o assunto Sua alma sabia da diferença entre a fome da falta de comida E a fome do jejum forçado Algo que fortaleceu sua alma em vidas passadas Quando mais humanos dançavam com o fogo Mas agora os tempos são outros Daniel não sabe de mais nada disso Os Bruxos morreram Pelo menos os grandes mestres E as fadas também Pelo menos as que falavam coisas diferentes.
O medo cresceu com o prazer Com o luxo Com o aprisionamento da fome e a cultivação da vingança rendendo seus trocos e a construir impérios A enfeitar princesas Saboreando reis safados e seus carrascos fiéis Dourando-lhes até os ossos!
AQUELES Que passaram tanto tempo rastejando Pedindo perdão por seus luxos mau direcionados
Continuarão a procurar estrelas no chão Como ondas infinitas dos próprios tempos Dando continuidade a si mesmo num ciclo vicioso da própria ganância inútil de ser mais de si mesmo esquecendo-se do simples, sendo a repetição de um erro sem nunca sair do lugar.
Parte 01 Capítulo 3 Mas o Belo é sempre simples (coisas da cabeça, do coração das mães e dos personagens mortos das fábulas metropolitanas)
O GALO Canta muitas vezes antes de o Sol nascer Ele torce para que as pessoas se enganem E todos se enganam o tempo todo E isto faz parte da vitória diária da Natureza Ao menos isto Faz parte do sacrifício Faz parte da doação Seu corpo é pouco A carne nem nossa é, é muito pouco
Os ventos sempre mudam Toda criação Até os sons Mudam
TODOS Ficam Todos morrem Todos nascem Renascem De tudo Todos sabem Não aprendem Mas sabem Sem saber, sem visão O milagre vira palavra E passa sem consolo Todo passado Todo conforto Toda segurança Vira palavra, e passa...
A coragem infantil de levantar a mão com a certeza da resposta certa A coragem da retração A levantada envergonhada para pedir para ir ao banheiro A fuga das resposta Dos livros A admiração Os ídolos As roupas novas As figurinhas, os bonecos, os gibis
Assim a toa Corriam na garoa Livres Meninos e meninas Agasalhados Daniel riscava seu nome no chão com um pedaço de telha quebrada Risca o nome Uma careta torta e mal feita Daniel risca e os muros caem Os chatos falam Decoram interiores Apresentam programas Cabeças Desculpas Compram bilhetes Talões Carnês Jogam sozinhos Assistem sozinhos Os próprios jogos Dormem em filas Morrem no banheiro Todos os dias Numa devastação louca em nome de suas conclusões
E Daniel dá um passo na escada rolante Com olhar triunfante ao sujeito que retrocede os passos sem saber como pisar na escada, envergonhado, sujo, cabisbaixo Sem jeito perante aquela coisa que rola Comendo todos os pés que deixarem de pular na hora certa de descer dela Escada maldita Daniel maldito Almas malditas Aquele homem Coitado. A cidade comia seus olhos Queimava seu rosto Expunha seu sexo Ele só estava de passagem Enterro de parente Mais um dos que não deu certo Cruza o Daniel na escada maldita Naquela situação fora do que é natural de se fazer diariamente, como um pé após o outro por exemplo. Quando ele está na roça Toca gado Faz queijo Doce de leite Pão Abre trilhas Plantações enormes Cuida Conhece Sabe Só não sabe andar na escada maldita da cidade; Dos malditos triunfantes que andam em suas escadas sem mexer as pernas, sem tocar o chão Naquela merda Daniel não sabe nada Não é o mesmo Daniel que em outra vida conheceu bruxos e fadas Jejum e montanhas É outro Daniel Que também não sabe nada Mas que um dia encarando a parede por acaso num susto tremendo ouviu uma voz interior revelando-lhe seu nome em outra vida
E na beirada da banheira assim disse ao seu reflexo: - Daniel filho dos fortes, deves vender seus olhos para os céus, este corpo e o Império do Caos não é sua verdadeira morada.
Estava “fora de si”, pelo menos assim pensava Aquele foi seu primeiro transe O primeiro de muitos E seu nome na vida passada Também era Daniel
E o senhor Da escada rolante Ali, com medo Vergonha Fez com que Daniel lembrasse de seus transes Do medo envergonhado que expunha seu constrangimento ao mundo Culpou-se Voltou E ajudou o senhor a subir as escadas sem morrer fisicamente Pois cada centímetro de sua decência, sabedoria, vergonha e experiência A maldita da escada já havia matado
DANIEL CALADO Que muito imagina Daniel E as escadas rolantes As mulheres Nos corredores de ônibus Nas janelas Seus atos aflitos em busca de olhares Ele não sabe com que postura parar Aonde colocar a mão quando se encosta em algo Como cruzar as pernas quando se senta Se realmente anda e para como um homem Os filmes sempre lhe vem a cabeça Os amores de suas vidas Nos assentos de ônibus Lhe penetrando olhares flamejantes Engolindo sua língua Salivando todo seu amor Em seu pescoço Daniel pensava e se excitava A moça ao lado é estudante Não trabalha Não paga nada Não sente verdades Só faz de conta Só faz de compra Com o dinheiro dos outros Menina de muitos amigos Fotos Revistas coloridas Lábios brilhantes e com cheiro forte artificial Calças apertadas Famílias tristes Amigos ingratos Com doença de luxo Que levanta do assento Daniel segue seu quadril Sente seu cheiro Imagina...
Ela desce na porta da faculdade Não ama mais Daniel Então ele escolhe outro assento A todos ele pode amar Dos ricos aos pobres Sem direcionar bem seu amor Mas isso não importava Daniel tinha filhos com todos Chegara a matar e morrer por muitos certas vezes Até descer no ponto de casa e tomar seu capuccino no bar, bem doce Lá ele logo voltava a realidade Pois a TV ficava bem alta O bar salgado Cheiro de pinga, carne, café, cigarro, urina; e Daniel, pessoas como ele pessoas longe de ser como ele pessoas piores que ele pessoas melhores que ele, vendo replay de gol da seleção Acompanhado de vozes roucas Cheiro de queijo queimado Cinzas molhadas Mofo Ele buscava amar o inferno ao seu redor Para ter mais histórias para viver calado Não amava a seleção Nem os bêbados Talvez a moça do caixa se não fosse tão velha e feia Voltava então pra casa mal humorado com frio, decepcionado, fumava um baseado antes de entrar e tocava numa banda de Rock ´n´ Roll imaginária Quebrava espelhos Ficava gigante e comia prédios Esmagava carros e cabeças Paralisava o tempo e assaltava lojas Estuprava mulheres e matava políticos Assaltava bancos e comprava o mundo Entrava em casa e tomava bronca de sua mãe Pela hora Pelo cheiro de maconha Pelas notas da escola Pelo barulho Pela ingratidão Desinteresse Desafeto pela dor sem nome que somente mães sabem sentir pelas dores que vendem as mães e elas compram sem perceber por pura bondade pois assim como elas, seus filhos podem ficar loucos e morrer É cruel o que se faz ao Amor de uma mãe.
Então todos falam sobre opções Alternativas, discussões, simpatias Verdades varridas Da própria língua Vícios de vidas passadas Mastigados em suas almas Falam de seus defeitos e medos Como receitas para bolo Vender Amor, ódio, tristeza, medo Para que as pessoas tenham motivos para trabalhar e morrer Assim matam o instinto de uma mãe Que ao invés de visões fabulosas apenas se preocupam com o pior assim como todos os outros que apenas se preocupam com o que é ruim.
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