Crónicas : 

A CRONICÁLIA APRESENTA: O CONTO PROIBIDO

 
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PARTE DO CONTO PROIBIDO (ainda incompleto)

Capítulo 01
Assaltos e transes entre as transas do destino




Tudo começa
Na festa a fantasia
Na casa do Diabo
Dançando vozes
Ao ritmo familiar, repicado;
Desencontrado, mastigado, de fumaça
Risada...
Paz
Ao mesmo tempo
Noutras terras
A mãe do Diabo morria, no lago...
E a serpente a avisara uma ultima vez.

Mas na festa todos sorriam
Longe da serpente
Longe da morte
Todos riam da fantasia da morte
Mas ninguém jamais ousara rir da serpente

Do outro lado da cidade, Daniel pegava a lotação.
A mesma, todos os dias, o mesmo cobrador, as mesmas senhoras;
Inclusive a senhora que Daniel assaltou...
Enquanto revirava seus olhos num de seus “transes fora de hora” até então inexplicáveis
Revirava também a bolsa da senhora que ao deparar-se com a face assustadora do rapaz, desceu correndo da lotação sem notar que havia sido roubada.

Ele...
Daniel...

Ao voltar do transe viu a carteira da senhora em sua mochila, muito dinheiro, cheque, uma carta com o endereço da senhora e um remetente do Ceará.
Daniel então usou parte do dinheiro da senhora para comprar um buquê de rosas devolvendo banhado da Benção e do Olhar Divino da Misericórdia dos Céus;
Na situação em que se encontrava sua humilde alma
Como a de um réptil fardada a contorcer-se em transe
Sem nada ver ao redor
Vez ou outra sombras, vultos;
E as vozes
Entregue a seus demônios que nesta luta como tantas outras foram derrotados
E Daniel devolveu com a gentileza de um lorde fracassado
A carteira e um buquê de rosas vermelhas de vergonha
Com cheiro de perdão e carinho

Daniel passou vergonha ao carregar o buquê pelas ruas
Pela portaria do prédio da senhora
Vestia seu coturno preto, sua jaqueta de couro, camisa de banda, naquele calor.
Mas o buquê coloria seu coração
E corava suas bochechas
Sua alma que sentia-se amaldiçoada
Estava na verdade repleta do Amor que lhe consolava
Redimia-se ali
Perante o Amor inevitável
Do perdão
Do caráter
Do medo das dúvidas
Das sombras que são seus atos

E na festa
Todos sorriam
Da fantasia do Diabo
Das prostitutas
Dos ladrões
Lá fora todos morriam
Menos as prostitutas e os ladrões
Menos o Diabo
E seus amigos fantasiados

LÁ FORA
Os homens eram sentenciados a todos os tipos de vida
A Fé que mata
Que cura
Remédios para morte
Para fama
As promessas de segurança
O futuro garantido
Os mais perfeitos inventores, filósofos, lideres
Penteando seus cabelos
Perfumando seus sovacos
Escovando seu cérebro
Drenando suas fezes
Castigando o milho
O santo milho
Que em seu funeral enterra consigo a tradição a renda do povo sábio que abandona o simples para morrer de luxo e de lixo
Sem pão
Sem milho
Sem raízes
Sem nada
Já as prostitutas
Os ladrões
O Diabo
Os piratas
A corte real
Estavam em festa, fumando maconha
Aonde ninguém morria ouvindo Jimi Hendrix, aonde ninguém tinha medo.

Riam fartos de pão e vinho da fantasia da morte
Que mais parecia um segurança de shopping.





Parte 01
Capítulo 02
Fábulas metropolitanas
E Profecias






Todos os jovens são imortais
E morrem todas as manhãs
Banhados de liberdade
Cheios do sexo
Cheios de estrelas
Que quando espatifadas revelam-se meros centavos descontados de seu esforço saudável

SEU

Dever cumprido


SEU

Corpo malhado


SEU

Plano infalível

Sua vitória esfomeada
Coxas lisas e macias
Toda sua escória
Escorrida...
Lisa...
Como cabelos que entopem ralos
Apenas mentiras escorridas
Choronas

Os jovens estudam
Usam seu sexo
E matam coisas invisíveis sem querer

Quem é Daniel no meio de tanta mentira? Tantos gemidos? Tanta força? Tanta fé? Quem é?
O milho?
O Zé?
Da Fé?
De quem é o café?
A cidade?
As prostitutas?
O Diabo?
Quem escolhe o preço dos mortos?
Os homens que enxergam através dos livros
Ou os que defecaram sua juventude?



Rosas que renascem a todo momento não pensam nisso.
Não existe estas dúvidas
Elas não tem medo de NADA
Mas mesmo assim quando estão em retiro
Pedem perdão
Soluçam arrependimentos
Por atos que não cometeram;
Apenas pensaram;
Pois querem a pureza, perfume, grandeza
Querem justificar sua beleza
Sua nobreza
São rosas livres!!!
Caminham soltas no Reino dos Céus!!!
Não são serpentes como Daniel...

NO LESTE
Wellingtom
6hs AM
caFÉ e metrô
frio e aperto
fumaça
buzina
neblina, pão na chapa, cheiros, angústia, sono
Ele vende o que pode geralmente mas agora arrumou um emprego de verdade com cartão de visitas e tudo.
Agora ele vende carros novos, usados imóveis e créditos
É um vendedor de sonhos
Consórcio de sonhos!
Ele é Wellingtom
Assim como uma bomba é uma bomba
Aquele é Wellingtom
Tem que comprar remédios
Sua esposa e seus filhos estão sob controle
Estão comendo e vendo TV
os remédios estão lá e todos estão bem.

Wellingtom tem que vender
Acordar
Comer
Vender
Desde que entrou no emprego Wellingtom vendeu ao primo e ao cunhado
É muito pouco...
Precisa então de um troco extra para o pão

Então começou a vender além de seus créditos de sonhos que nunca saiam do papel, miniaturas da bíblia feitas de plástico abertas em salmos específicos
R$1,00 cada
Acordar, comer, vender
Comer estava prestes a sair da rotina
Wellingtom vende a alma para a empresa que come crianças, pobres e idosos
A empresa que cria créditos para sonhos e fabrica morte de luxo com cheirinho de novo.

Wellingtom sente-se o conto de fadas mais medíocre da história
Realizador de sonhos de merda!
Quem é ele?
No meio de tanto petróleo e grito?
No meio de tanta dor e mito?
Sem ver como os que vêem além das estrelas
Como os que tem os olhares dos céus

Ele estará fardado a escravidão!
Pois vendeu sua alma para a idéia dos outros
Ao invés de vender seus olhos para o céu
Sem precisar de dinheiro
Sem precisar vender seus salmos e créditos redundantes
A U T O D E S T R U T Í VEIS
A U T O C O N S U M Í V E I S

Vendedores de palavras
Mal caráter é aquele que vende palavras e cobra conhecimento de suas mentiras
Suas auto afirmações infinitas
Assim como foi Wellingtom
Vendendo seus sonhos de mentira com parcelas a perder de vista
Gerando endividados orgulhosos e preocupados

Uma fábula morta da rotina inevitável daquele que não vendeu seus olhos para os céus.
Daniel achava que sabia do que isso se tratava
E tinha um preconceito juvenil bem grande sobre o assunto
Sua alma sabia da diferença entre a fome da falta de comida
E a fome do jejum forçado
Algo que fortaleceu sua alma em vidas passadas
Quando mais humanos dançavam com o fogo
Mas agora os tempos são outros
Daniel não sabe de mais nada disso
Os Bruxos morreram
Pelo menos os grandes mestres
E as fadas também
Pelo menos as que falavam coisas diferentes.

O medo cresceu com o prazer
Com o luxo
Com o aprisionamento da fome e a cultivação da vingança rendendo seus trocos e a construir impérios
A enfeitar princesas
Saboreando reis safados e seus carrascos fiéis
Dourando-lhes até os ossos!



AQUELES
Que passaram tanto tempo rastejando
Pedindo perdão por seus luxos mau direcionados

Continuarão a procurar estrelas no chão
Como ondas infinitas dos próprios tempos
Dando continuidade a si mesmo num ciclo vicioso da própria ganância inútil de ser mais de si mesmo esquecendo-se do simples, sendo a repetição de um erro sem nunca sair do lugar.




Parte 01
Capítulo 3
Mas o Belo é sempre simples
(coisas da cabeça, do coração das mães e dos personagens mortos das fábulas metropolitanas)




O GALO
Canta muitas vezes antes de o Sol nascer
Ele torce para que as pessoas se enganem
E todos se enganam o tempo todo
E isto faz parte da vitória diária da Natureza
Ao menos isto
Faz parte do sacrifício
Faz parte da doação
Seu corpo é pouco
A carne nem nossa é, é muito pouco

Os ventos sempre mudam
Toda criação
Até os sons
Mudam

TODOS
Ficam
Todos morrem
Todos nascem
Renascem
De tudo
Todos sabem
Não aprendem
Mas sabem
Sem saber, sem visão
O milagre vira palavra
E passa sem consolo
Todo passado
Todo conforto
Toda segurança
Vira palavra, e passa...

A coragem infantil de levantar a mão com a certeza da resposta certa
A coragem da retração
A levantada envergonhada para pedir para ir ao banheiro
A fuga das resposta
Dos livros
A admiração
Os ídolos
As roupas novas
As figurinhas, os bonecos, os gibis

Assim a toa
Corriam na garoa
Livres
Meninos e meninas
Agasalhados
Daniel riscava seu nome no chão com um pedaço de telha quebrada
Risca o nome
Uma careta torta e mal feita
Daniel risca e os muros caem
Os chatos falam
Decoram interiores
Apresentam programas
Cabeças
Desculpas
Compram bilhetes
Talões
Carnês
Jogam sozinhos
Assistem sozinhos
Os próprios jogos
Dormem em filas
Morrem no banheiro
Todos os dias
Numa devastação louca em nome de suas conclusões

E Daniel dá um passo na escada rolante
Com olhar triunfante ao sujeito que retrocede os passos sem saber como pisar na escada, envergonhado, sujo, cabisbaixo
Sem jeito perante aquela coisa que rola
Comendo todos os pés que deixarem de pular na hora certa de descer dela
Escada maldita
Daniel maldito
Almas malditas
Aquele homem
Coitado. A cidade comia seus olhos
Queimava seu rosto
Expunha seu sexo
Ele só estava de passagem
Enterro de parente
Mais um dos que não deu certo
Cruza o Daniel na escada maldita
Naquela situação fora do que é natural de se fazer diariamente, como um pé após o outro por exemplo.
Quando ele está na roça
Toca gado
Faz queijo
Doce de leite
Pão
Abre trilhas
Plantações enormes
Cuida
Conhece
Sabe
Só não sabe andar na escada maldita da cidade; Dos malditos triunfantes que andam em suas escadas sem mexer as pernas, sem tocar o chão
Naquela merda
Daniel não sabe nada
Não é o mesmo Daniel que em outra vida conheceu bruxos e fadas
Jejum e montanhas
É outro Daniel
Que também não sabe nada
Mas que um dia encarando a parede por acaso num susto tremendo ouviu uma voz interior revelando-lhe seu nome em outra vida

E na beirada da banheira assim disse ao seu reflexo:
- Daniel filho dos fortes, deves vender seus olhos para os céus, este corpo e o Império do Caos não é sua verdadeira morada.

Estava “fora de si”, pelo menos assim pensava
Aquele foi seu primeiro transe
O primeiro de muitos
E seu nome na vida passada
Também era Daniel

E o senhor
Da escada rolante
Ali, com medo
Vergonha
Fez com que Daniel lembrasse de seus transes
Do medo envergonhado que expunha seu constrangimento ao mundo
Culpou-se
Voltou
E ajudou o senhor a subir as escadas sem morrer fisicamente
Pois cada centímetro de sua decência, sabedoria, vergonha e experiência
A maldita da escada já havia matado


DANIEL CALADO
Que muito imagina
Daniel
E as escadas rolantes
As mulheres
Nos corredores de ônibus
Nas janelas
Seus atos aflitos em busca de olhares
Ele não sabe com que postura parar
Aonde colocar a mão quando se encosta em algo
Como cruzar as pernas quando se senta
Se realmente anda e para como um homem
Os filmes sempre lhe vem a cabeça
Os amores de suas vidas
Nos assentos de ônibus
Lhe penetrando olhares flamejantes
Engolindo sua língua
Salivando todo seu amor
Em seu pescoço
Daniel pensava e se excitava
A moça ao lado é estudante
Não trabalha
Não paga nada
Não sente verdades
Só faz de conta
Só faz de compra
Com o dinheiro dos outros
Menina de muitos amigos
Fotos
Revistas coloridas
Lábios brilhantes e com cheiro forte artificial
Calças apertadas
Famílias tristes
Amigos ingratos
Com doença de luxo
Que levanta do assento
Daniel segue seu quadril
Sente seu cheiro
Imagina...

Ela desce na porta da faculdade
Não ama mais Daniel
Então ele escolhe outro assento
A todos ele pode amar
Dos ricos aos pobres
Sem direcionar bem seu amor
Mas isso não importava
Daniel tinha filhos com todos
Chegara a matar e morrer por muitos certas vezes
Até descer no ponto de casa e tomar seu capuccino no bar, bem doce
Lá ele logo voltava a realidade
Pois a TV ficava bem alta
O bar salgado
Cheiro de pinga, carne, café, cigarro, urina;
e Daniel, pessoas como ele
pessoas longe de ser como ele
pessoas piores que ele
pessoas melhores que ele, vendo replay de gol da seleção
Acompanhado de vozes roucas
Cheiro de queijo queimado
Cinzas molhadas
Mofo
Ele buscava amar o inferno ao seu redor
Para ter mais histórias para viver calado
Não amava a seleção
Nem os bêbados
Talvez a moça do caixa se não fosse tão velha e feia
Voltava então pra casa mal humorado com frio, decepcionado, fumava um baseado antes de entrar e tocava numa banda de Rock ´n´ Roll imaginária
Quebrava espelhos
Ficava gigante e comia prédios
Esmagava carros e cabeças
Paralisava o tempo e assaltava lojas
Estuprava mulheres e matava políticos
Assaltava bancos e comprava o mundo
Entrava em casa e tomava bronca de sua mãe
Pela hora
Pelo cheiro de maconha
Pelas notas da escola
Pelo barulho
Pela ingratidão
Desinteresse
Desafeto
pela dor sem nome que somente mães sabem sentir
pelas dores que vendem as mães e elas compram sem perceber
por pura bondade
pois assim como elas, seus filhos podem ficar loucos e morrer
É cruel o que se faz ao Amor de uma mãe.

Então todos falam sobre opções
Alternativas, discussões, simpatias
Verdades varridas
Da própria língua
Vícios de vidas passadas
Mastigados em suas almas
Falam de seus defeitos e medos
Como receitas para bolo
Vender Amor, ódio, tristeza, medo
Para que as pessoas tenham motivos para trabalhar e morrer
Assim matam o instinto de uma mãe
Que ao invés de visões fabulosas apenas se preocupam com o pior assim como todos os outros que apenas se preocupam com o que é ruim.

http://www.acronicalia.blogspot.com

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Bruno Prata

Para ver mais um pouco sobre o conto acesse:
http://www.ocontoproibido.blogspot.com
 
Autor
BrunoPrata
 
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