Qual cavalo alado, sem um corno saindo indolentemente das brumas do todo sempre, qual innuendo estranho onde as asas são atraídas para o fogo de uma vela numa casa velha, qual bruxa diante das borbulhas de sua mente quase má, ajoelho, buscando de novo um pouco de ar.
E a casa queria-se um castelo perto do nada, suspensa pelos olhos de Magritte ou talvez um castelo de cartas como divinação e contradição. E a casa era igual ao melhor pedaço de mim: aquele mesmo que procuro não sentir em meus surreais vôos e verdades.
Oh! Triste a minha sina, como um fado que canta debaixo de uma ponte sem ferro ou flor. Oh! Triste a minha sina de pó e terror, de rápido encontro com os meus mundos. Apenas sou e se sou devo ser o que já não sei mais deixar de ser.
Vi o mar, sim, e quis um poema perfeito, sim... Mas não te procurei, não te quis encontrar... Não desta forma quando pouco já sei, quando fecho os olhos para cheirar os sonhos e ser forte e ser fraco e ser alguém.Quero tanto, tudo que possa justificar e ser um pouco de magia. Quis o corpo.
Quis a alma também, mesmo utópica, mesmo sem gémea ou atalho de outra, quis a alma impura disso que faz-me maior e brando, quase rei, quase santo e céu.
E ao longe vi profetas, deusas indianas, algumas gregas, como os vasos partidos nos barcos adormecidos em fossas escuras [...tão profundas...tão perto...]
E pronto...
Qual cavalo alado, irei como vim. Sou os troncos que entram pela janela do teu quarto onde te baloiças nas noites, pensando em mim e em minhas viagens sem volta.
Não temas... Não chores... Deixes-me ir. Fugir para dentro do branco, do que engole o destino e estreita a morte.
Qual cavalo alado, sem uma asa saindo tonto das nuvens cansadas, qual innuendo estranho onde as palavras são sangue, punhal e maldade, qual bruxa lambendo a pele de sua melhor vítima, ajoelho para cair dentro daquela paz, morrendo mesmo, morrendo agora, morrendo mais.