ensaio para um dia de sol
Data 15/10/2011 18:07:17 | Tópico: Poemas
| olho submeto-me ao dia de sol a esplanada toma a cidade óculos ray-ban perna alçada costas no chão onde vivem todos as dores pela frente o sol e o “garçon” reclamo atenção aos dois pssssssssss um café curto como o raio de sol o dia já vai longo olho os que não me olham estamos todos ao mesmo sol finalmente o pedido atiro-me ao café preciso de um excitante cafeína com adoçante tenho medo da diabetes de seguida um raio de sol este é meu escolhi-o pelo sorriso pela luz é vida olho nestes dias só sei olhar estou fora do corpo da roupa da intelectualidade dos óculos graduados há quem pense por aqui livros abertos jornais enormes revistas cor-de-rosa todos menos eu a diferença mais uma vez marginalizo-me não sei ler com o sol raios queimam palavras olho não faço nada sinto umas dores vivem por detrás às costas do que vejo é a vida olho para a frente vento ameno olhos frágeis ao tempo à idade à cidade para onde caem os sonhos há sol em qualquer canto nos hospitais, nos asilos, nos olhares há sol onde há medo e morte é a vida olho cimento negro desbotado irritado o cão matou o marido por ciúme crime passional dizem os jornais diários gente que cuida do que vê correm carros correm pessoas correm cafés só mendigos mantêm a qualidade de vida olho é a vida olho é verão corre o “garçon” corre o copo com água pelas bordas mais uma e é o fim da gota mas é de equilíbrios o “garçon” equilibra o copo o sorriso no ouvido o francês com sotaque da porta da casa: “un café très rapide” de seguida o lisboeta: uma bica curta se faz favor está com pressa diz a boca no olhar no gesto o suor é a vida e os olhos dos clientes extasiados seguram o copo como se fosse o mundo talvez seja afinal somos feitos de água e da água não há medos só quando os sorrisos se afogam no tempo no próximo mês depois das férias perdem-se de todos os raios de sol e há tantos pelas ruas perdidos no calor abandonam-nos partem para “vacances” é a vida olho e os candeeiros estáticos agarrados às placas de trânsito sentidos obrigatórios obrigações impostas rotundas que não os deixam circular e o polícia vestido de pistola acena com a mão para dizer: mais rápido mas estamos de férias o país está de férias as matrículas amarelas estão de férias temos que andar mais rápido é a vida olho o sol cai a água do copo não cai a cidade não cai o “garçon” caem os óculos ray-ban não caem os olhos leitores cai o descanso não cai a vida ergo as costas desdobro as pernas levanto o corpo olho a cidade está morta escura vivos só eu e o garçon tudo o resto fugiu de escuro ou de medo aproxima-se uma nuvem talvez chova e eu sem guarda-chuva talvez fique aqui para amanhã a cidade voltará com o sol e o “garçon” também
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