(Des)abafo

Data 19/10/2011 09:06:12 | Tópico: Prosas Poéticas

Num espaço onde reina o vazio imenso de objectos inanimados, encontram-se dois corpos exaustos, sobrecarregando uma velha cama. As palavras por estes soltas, levitam no ar, dispersas, desordenadas, chocam-se, confrontam-se, unem-se, separam-se, procriam-se… num tempo controlado, no qual o entendimento embora, esteja sempre presente, se ausenta adormecido, abandonando a (im)possível compreensão.
Os físicos, já no seu limite, soltam-se… e um rio se houve correr… são as lágrimas que um dos corpos jorra, compulsivamente. Aquele ser, brota-se cansado, farto, grita-se em água salgada que percorre o seu rosto e humedece aqueles lençóis. O outro corpo aproxima-se e numa tentativa de abraço, suplica para que aquele corpo lacrimoso, o abrace e que se tiver que chorar, que chore no seu ombro mas, aquele ser mágico nega delicadamente, enxugando rapidamente as lágrimas, fazendo vibrar a palavra ‘desabafo’. E é assim que mais uma vez, decide por si carregar o Mundo às suas costas. Num olhar triste mas, orgulhoso é contemplado pelo outro corpo amante, que se encontra a seu lado.

Porque a compreensão nem sempre está nas palavras, mas sim num abraço terno, compreensivo.




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