monólogo descendente

Data 30/10/2011 00:29:52 | Tópico: Poemas



Descobri-te na imperfeição.
Assim como já me descobriram.
Mas, dói mais quando somos nós a olhar.
Somos duplamente traídos.

Pelo olhar e pelo olhado.

E eu que te via perfeição!

Como somos imperfeitos!

O olhar e o olhado.

Julgamos a perfeição quando sabemos, bem lá no fundo, que isso não existe.
Porque a imperfeição reclama todos os lugares.
Como a amora, ali, perfeita, madura e deliciosa a cobiçar-nos o olhar.
E no entanto goza da imperfeição. Que existe no momento de a colhermos. Picamo-nos.
Mas quando a saboreamos, esquecemos tudo e dizemos que não há nada mais perfeito.

Nada mais imperfeito.

Diremos logo: a amora devia ser maior.

Provavelmente, somos nós que fazemos a imperfeição. Na busca da perfeição.

Porque as coisas já existiam muito antes do pensamento.

E eu nasci das coisas





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