Poemas : 

monólogo descendente

 


Descobri-te na imperfeição.
Assim como já me descobriram.
Mas, dói mais quando somos nós a olhar.
Somos duplamente traídos.

Pelo olhar e pelo olhado.

E eu que te via perfeição!

Como somos imperfeitos!

O olhar e o olhado.

Julgamos a perfeição quando sabemos, bem lá no fundo, que isso não existe.
Porque a imperfeição reclama todos os lugares.
Como a amora, ali, perfeita, madura e deliciosa a cobiçar-nos o olhar.
E no entanto goza da imperfeição. Que existe no momento de a colhermos. Picamo-nos.
Mas quando a saboreamos, esquecemos tudo e dizemos que não há nada mais perfeito.

Nada mais imperfeito.

Diremos logo: a amora devia ser maior.

Provavelmente, somos nós que fazemos a imperfeição. Na busca da perfeição.

Porque as coisas já existiam muito antes do pensamento.

E eu nasci das coisas



 
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freitas.antero
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/11/2011 00:15  Atualizado: 02/11/2011 00:15
 Re: monólogo descendente
Isso me tocou profundamente, talvez em algum ponto adormecido em mim. Como me tocou profundamente também o teu comentário em minha prosa poética. Engraçado tu teres comentado aquilo, porque depois de ter escrito aquele texto, fiquei pensando em como iria "catalogá-lo", se o deixaria como prosa, ou se eu o estruturaria diferente para chamá-lo de "poema", enfim. Não me preocupo se sete ou sete mil pessoas terão lido, mas se apenas uma, como tu, ler com olhos atentos, isso será o suficiente. Gostei do que li. Gostei do teu comentário. Obrigado!