| |  
 
 [… e ouvi alguns velhos do restelo clamandoData 31/05/2012 05:32:41 | Tópico: Poemas
 
 |  | . .
 .
 .
 .
 .
 .
 .
 ..................................
 *************************************
 
 …
 e ouvi alguns velhos do restelo clamando;
 “Que famas lhe prometerás? que histórias?
 Que triunfos, que palmas, que vitórias?”,
 
 e vi duas sílfides dançando por entre o perfume das flores em primavera,
 levando e trazendo suaves brisas,
 
 e vi alguns poetas queimando palavras incrustadas em folhas preenchidas,
 outros não riam, outros viravam as costas ao caminho,
 
 e ouvi militares alteando a voz, encurralados na ilha de Kheros;
 “Antiguidade é um posto, antiguidade é um ...”,
 
 ah... e mais vi, e mais ouvi,
 declamavam-se elogios, e mais elogios, como se a salvação fosse aqui tão perto;
 - vai-te anjo rebelde expulso dos céus, expurgo-te do amanhã, do hoje, do sempre, “rasteja para a terra, possa ela salvar-te do nada”,
 
 e alguns fizeram as pazes, mesmo com os dedos cruzados atrás das costas, alguns suspiraram não sei o porquê, outros guardaram as adagas de istambul ainda a brilhar,
 libertaram-se os cheiros da amêndoa e do café.
 
 E tudo vi, e tudo ouvi,
 seria esperança, seria morte, seria o fim das trevas [?],
 
 não sei,
 
 sei que ainda ficou uma sílfide,
 dançando por entre o perfume das flores em primavera,
 
 [e o silêncio anoiteceu-me a voz, jamais o poema],
 
 
 
 ...
 [que por aqui deposito? jamais].
 
 
 
 
 
 Velho do Restelo – simbolizava o pessimismo, o conservadorismo. Personagem criada por Luis de Camões em “Os Lusíadas”, canto IV:
 
 94
 
 Mas um velho, de aspecto venerando,
 Que ficava nas praias, entre a gente,
 Postos em nós os olhos, meneando
 Três vezes a cabeça, descontente,
 A voz pesada um pouco alevantando,
 Que nós no mar ouvimos claramente,
 C'um saber só de experiências feito,
 Tais palavras tirou do experto peito:
 
 95
 
 - "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
 Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
 Ó fraudulento gosto, que se atiça
 C'uma aura popular, que honra se chama!
 Que castigo tamanho e que justiça
 Fazes no peito vão que muito te ama!
 Que mortes, que perigos, que tormentas,
 Que crueldades neles experimentas!
 
 96
 
 - "Dura inquietação d'alma e da vida,
 Fonte de desamparos e adultérios,
 Sagaz consumidora conhecida
 De fazendas, de reinos e de impérios:
 Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
 Sendo dina de infames vitupérios;
 Chamam-te Fama e Glória soberana,
 Nomes com quem se o povo néscio engana!
 
 97
 
 - "A que novos desastres determinas
 De levar estes reinos e esta gente?
 Que perigos, que mortes lhe destinas
 Debaixo dalgum nome preminente?
 Que promessas de reinos, e de minas
 D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
 Que famas lhe prometerás? que histórias?
 Que triunfos, que palmas, que vitórias?
 
 Sílfide – (s.f.) Do latim sylphus-génio. Génio fantástico do ar, que habitando nos bosques vivia do perfume das flores. De origem oriental, era invocado pelos cabalistas na Europa. Do sexo feminino de corpo belo, leve, grácil e veloz, com quem são comparadas as melhores bailarinas.
 
 Ilha de Kheros – Localizada na Turquia. Filme “Os Canhões de Navarone” realizado por J. Lee Thompson. Óscar em 1962 na categoria de melhores efeitos especiais.
 
 “rasteja para a terra, possa ela salvar-te do nada”- texto védico que e dirige ao morto, Rig Veda X,
 “Rasteja para a Terra, tua Mãe! E possa ela salvar-te do nada”
 
 
 …
 [“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]
 
 
 
 | 
 |