[ … da cor a cereja que deixaste

Data 28/06/2012 04:38:21 | Tópico: Poemas

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da cor a cereja que deixaste,
pelas alvas paredes do quarto

abriu-se a janela a mar,
e nestas divisões desertas que o meu corpo encerra,
fulgiu, tremelicando, a estrela da manhã.

Cauto seja o vento que entra repentino,
trazendo os corais e as madreperolas que sobraram
um dia,

como cada ilusão, como cada sonho
que a insónia escondeu.

Resiste o gorjear da cotovia,
que ouço ao longe,
resiste o mar que sei ao alcançe da mão,

a cor a cereja que deixaste,
ainda hoje me sorri pela noite
quando a tempestade abana os pilares.

Das manhãs, levarei os pássaros que entram no crepúsculo pela janela aberta a mar;
das manhãs, levarei as núvens onde eles adormecem que deixastes espalhadas por todos os cantos meus;

[resistir-me-ei à noite].







experimental, palavras rabiscadas numa Moleskine com prazo de validade.

"Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias."

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

fulgir - (latim fulgeo, -ere, brilhar, reluzir) 
v. intr.
Brilhar durante um breve instante.

cauto - (latim cautus, -a, -um) 
adj.
Que tem cautela ou prudência.


[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]



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