Insulto

Data 18/11/2012 17:44:39 | Tópico: Poemas

Naquele canto de cidade,
Confusa feito ambição proletária,
Caminhava entre a overdose e um coração partido.

Tinha manchas de sangue na jaqueta.
Seus olhos vermelhos, talvez de sono,
Projetavam cenas de Almodovar
Para deleite de vagabundos que morriam em silêncio.

Seus passos lentos,
Contrapondo-se as máquinas de ponto,
Perdiam-se no movediço asfalto
Feito de gritos e sorrisos amputados.

Seu corpo era uma forma de insulto.
Seus lábios, aromatizados por maconha e sexo descartável,
Cuspiam os últimos versos do apocalipse,
Enquanto cães uivavam nos terreiros católicos.

Mesmo cansada, agredia o vento,
Imprimindo desgosto aos que desconheciam sua existência,
Àqueles que baixavam seus chapéus à sua presença
Subversivamente viva frente a seus óculos falsificados.

De repente, fez-se noite,
E todas as teorias emudeceram.
Arremessada junto à parede,
Atingida por um sonho desgovernado,
Ossos quebrando-se em histérica euforia,
Moléstias esfregando-se em bacanais,
Tocou seu sexo e arremessou, liberta,
Seu suspiro lapidar ao mundo que lhe perdia:
“Vão todos a puta que os pariu!”
À Charles Bukowski.



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=235544