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 Teu cheiro (republicado)Data 11/05/2013 14:00:39 | Tópico: Poemas
 
 |  | Teu cheiro De suor curtido, dormido,
 De sol a pino sobre andaimes,
 Escadas, bueiros
 Brita e betume.
 
 Teu cheiro –
 De quem sua de frio,
 De medo, de náusea;
 De quem transpira de gozo
 De quatro sobre corpos
 E camas,
 O das putas e meninos
 No batente de seus leitos,
 Suando de medo, de frio.
 
 Teu cheiro
 De pressa sob o sol,
 De apitos aflitos,
 De corpos e gritos
 Suarentos, esforçados
 Por fito do qual se ignora
 O motivo: puro rito
 A ser seguido
 Nos vigores do dia.
 
 Teu cheiro
 Desaba sobre mim
 Em torrente,
 Viscosa corredeira
 De um vau sem fim,
 Enterra-se fundo
 Em minhas narinas
 Por uma extensa avenida
 Trescalante de rastos
 E fétidos ares.
 
 Teu cheiro:
 Odor citadino
 Do estranho que passa
 Nos misteres diários,
 Em pegajosos coletivos
 Transpirando fadigas
 E vasilhas vazias
 Dos almoços e bares.
 
 Teu cheiro
 Pendurado nas marquises
 Dos homens de macacão
 E boné,
 Sujos de tinta e estuque –
 Como fedem sorridentes
 Sob a torridez tropical!
 
 Teu cheiro
 Contra os perfumes
 De meio ambiente:
 Rosa, lavanda, baunilha,
 Sachês aromáticos
 Difundindo
 Climas artificiais.
 
 Teu cheiro:
 Odor de cerrado ambiente
 E sudorífera seiva –
 Essência das horas
 E trabalho
 Que fica no assento,
 Na roupa, no braço
 Querendo ganhar os espaços,
 A rua, o tráfego, intruso,
 Feito um teto de febre e laje
 Sobre exausta cidade.
 
 Teu cheiro
 Azáfama, faina e labuta
 Epidérmica,
 Sobre a musculatura do dia
 Que perdura
 Em absconsas regiões
 De bílis, de afeto e quimera,
 Mesmo após o banho
 E uma noite sem sonhos.
 
 
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