Aos poetas #.#.#
Data 21/07/2013 14:45:53 | Tópico: Poemas
| Aos poetas
Entre o que digo e o que você entende, Há um istmo sobre esse abismo, Um poema sombrio que nos separa.
Os teus olhos param no meio dessa ponte E travam. Olhos não pensam e não têm pernas, Mas o cérebro, sim, tem asas... tensas! Os covardes tremem diante Da lancinante travessia, Que não é longa, disso posso dizer. O problema é ter que mirar o fundo E descobrir que o fundo não tem fundo.
E ficamos assim, maltrapilhos, Ouvindo ecos dos próprios dizeres, Aprendendo em nós mesmos, Nesse belo teatro de fala de(s)corada.
E para manter as máscaras (ou derrubá-las), E para manter a esperança Nessa comunicação insólita, Construímos poesias, arremedos, E viramos poetas de um mundo em chamas. E alguns até se compreendem (ou pensam), Raros porém, Em momentos fugidios, Como a um terno beijo roubado. É assim que enviesamos as palavras, Até virar no seu avesso, sua legítima expressão. E a qualquer preço, estrídulos, Arfamos no desejo de sermos compreendidos, De sermos aceitos, Mesmo dizendo, em lágrimas, do seu contrário.
Milton Filho/17.07.13
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