Pensão nativa - Lizaldo Vieira

Data 05/08/2013 03:29:07 | Tópico: Poemas


Poema pensão nativa – Lizaldo Vieira
Acordai sol sonolento
Acendei os girassóis nos campos
Vigiai a lua cheia das boas mensagens
Com cara nova
Espantas as mariposas
Que querem fazer festa pra andorinhas
Margaridas e bromélias
Nos florais nos florais
Estão vestidas de cor
No céu enfarruscado
Prepara-se tanajura
Doido e tontas
Direto pra panela da gordura
Trovoada vem chegando valente
Rajadas de ventos
Soprando a poeira
Relâmpago clareia barracos
Canteiros e jasmins em odores
Preparam seus amores
Feitos carne e unhas
Tempo bom de pintar
Plantar a terra de coisa
Que ameniza e anima a vida
Chegou
Salve várzeas
Chapadões e desertos dos sertões
Alegra-vos
Cantai poemas de alegrias
Até a teia de aranha já se instalou
Pro pouso da mosca desatenta
Que jurada rebentar em esperteza
O vento norte
Sacode tudo pra e pra cá
Arrancou o ultimo mulungu que sobrou
Não telhados ressecados
Catem as rãs
Esperada canção
Embalando chuva fina
De pingos em pingo
Samaria enche o pote
Santa goteira
Ventania e céus em desatino
Parecem furioso
Prestam o serviço dos avisos
Agitam-se
Pro lançamento do festival
Das primeiras águas de março
Tudo a ver com meu poema
Que é matuto
Feito gente do mato
Caboclo tinhoso
Sereno e astuto
Mira-se pela estrela d’alva
Plata com as estações da lua
Mãos cheias de calos
Plantou a semente na roça
Milho verde
E feijão novo tão chegando
fazer canjica e paçoca é preciso
Pega boi bravo com as unhas
Arranca tato selvagem com os dentes
Também
Esse cara não é extraterrestre
É lá nordeste
Escravo
Explorado
Retirante
O chamam de cabra da peste
Mora nas terras áridas
Por vezes sacode a poeira
Tentando dar a volta por cima
Ganha o pão com inchada malvada
Leva a vida sem vaidade
De tudo padece
Parecem mesmo castigos dos deuses
Ou má sina
Mas pra tudo tem jeito
Num bom recomeço



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