NO TEMPO DAS TENDAS

Data 09/10/2013 04:06:59 | Tópico: Poemas

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NO TEMPO DAS TENDAS

Garoa densa, decomposta
num tipo de lona circense: sob a sombra
esfumaçávamos marlboros dourados
a emoldurarem pigmentos
nas gotas de chuva. Pr'os olhos a distração
das barrigas do tecido tomado d’água, ameaçando
alagar as largas margens das paráfrases,
dos causos floreados, dos contra-argumentos.
A dispersão burlesca no rumo da prosa,
incorporações túmidas ao insano colóquio,
mais os tantos idiomas, os dialetos, as inter-relações
de ingênua amizade, as precaríssimas normas,
as delícias na fala em falta de formas.
Papo cingido nas cores dos risos,
aura incendiada em rastros de sonhos,
cachaças defloradas, limões esganados,
acúmulo desenfreado de significações
em nossas concordâncias, em nossas valentes diferenças.
O inescrupuloso enlevo daquele tempo rendido,
bem-perdido, agora reencontrado na minha lembrança
escrava, por um qualquer bom motivo.

(Gê Muniz)



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