
TODA AQUELA MULHER TEM A PUREZA (ÁLVARES DE AZEVEDO) - O HUMOR NA "LIRA DOS VINTE ANOS"
Data 15/10/2013 10:04:01 | Tópico: Prosas Poéticas
| Toda aquela mulher tem a pureza Que exala o jasmineiro no perfume, Lampeja seu olhar nos olhos negros Como, em noite d’escuro, um vagalume... Que suave moreno o de seu rosto! A alma parece que seu corpo inflama... Simula até que sobre os lábios dela Na cor vermelha tem errante chama... E quem dirá, meu Deus! que a lira d'alma Ali não tem um som — nem de falsete! E, sob a imagem de aparente fogo, É frio o coração como um sorvete!
(Obras, 1853, v. I, Lira dos vinte anos, 2ª parte)
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Pequeno poema não nomeado pelo autor, por convenção, o primeiro verso (primeira linha gráfica) torna-se o título da poesia, isto é, "Toda aquela mulher tem a pureza".
São doze versos divididos em três estrofes (conjunto de versos), rimando o segundo verso com o quarto verso.
São decassílabos (dez sílabas poéticas).
Vejamos a escansão (divisão em sílabas sonoras) dos quatro primeiros versos:
"To-daa-que-la-mu-lher-tem-a-pu-re-/-za Quee-xa-lao-jas-mi-nei-ro-no-per-fu/-me Lam-pe-ja-seu-o-lhar-nos-o-lhos-ne-/-gros Co-moem-noi-tes-des-cu-roum-va-ga-lu-/-me..."
Fala o eu lírico de uma mulher (amada, amante, amiga, sonho, realidade?).
É uma mulher pura.
Morena.
Olhos negros.
Lábios vermelhos.
Não há poesia em sua alma, e seu coração é frio como um sorvete!...
Nas profundezas textuais podemos entender que o jovem poeta (1831 - 1852) amou e não foi notado, mas, por parte do jovem, não existe mágoa, há uma lembrança do conjunto de qualidades de sua amada que nos lembram sensações positivas (sensualidade, calor, etc.) e depois negativas (indiferença, frieza, etc.) por parte de sua escolhida.
O poeta reclama que sua escolhida nunca notou sua presença.
Augusto de Sênior. (Amauri Carius Ferreira) (FERREIRA, A. C.)
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