
Apenas mais um dia, afinal
Data 29/11/2013 02:08:05 | Tópico: Poemas
| É mais um dia afinal Em que tudo corre mal Até o diacho do despertador Resolveu entregar a alma ao criador
A torradeira resolveu fazer greve Tornando a minha refeição breve O gato fartava-se de miar Na tentativa vã de me consolar
E até conseguiu no leite escorregar Um grande trambolhão no chão dar Deixar-me enfim… coisas para limpar e o dia está somente a começar
Depois de tudo limpo a rigor Olhei para o relógio com terror Estava atrasado para trabalhar Tinha que correr, muito acelerar
Mas na pressa, amiga da confusão Caiu-me as chaves pelo corrimão Fechou-se a porta é o meu fim E nem vestido estava, ai de mim
Os bombeiros foram rápidos Hábeis com os seus dedos, práticos Abriram a porta de rompante Vesti-me apenas num instante
Corri contra o tempo maldito Entrei no carro muito aflito Para o azar continuar Pois ele não queria pegar
Soltando o mecânico que há em mim Abri o capot procurando a peça ruim Que fazia o pobre meu chaveco Estar assim naquele faneco
Eis que por fim fui iluminado Conclui depois, bem embaraçado Que sem gasolina, ele não andava E tinha apenas o cheiro dela e assim engasgava
Tive sorte no meio deste azar Que fosse naquele instante a passar A minha vizinha do sexto andar Que parou para me cumprimentar
Pedi-lhe encarecidamente o favor De me levar a todo o vapor Para buscar o aquoso alimento Que ao carro desse o sustento
Abasteci o Jerrican sem hesitar Corri direito ao balcão para pagar Multibanco fora de serviço Mas que belo de um rico enguiço
O liquido ficou retido a aguardar Pelo dinheiro que tinha de levantar Numa caixa próxima qualquer Para pagar à gentil mulher
Mas as duas que vi estavam paradas Fora de serviço, mesmo avariadas Fiquei sem a gasolina e o jerrican Pior que uma bailarina de can-can
Optei por ir de táxi, a pagar no destino Era um táxi novo, de aspeto fino O motorista parecia ser também ladino Dava boleia à sua esposa e ao seu menino
Mas o menino sentiu-se mal disposto vomitou-me em cima, foi um desgosto As desculpas foram pedidas e aceites Mas o mal estava feito, fiquei com os azeites
Lá cheguei por fim ao emprego A cheirar a vomito de pudim grego E a festa ficou depois mais completa Ao ver na mesa uma carta meio aberta
Estava um silêncio sobrenatural E nem se ouvia o riso do Florival Abri a carta tremendo o seu conteúdo E o que li deixou-me ali mudo
Está despedido por justa causa Engoli em seco, fiz uma pausa Depois continuei a ler até ao final Aquelas palavras cheias de mal
Era um comunicado oficial Estava desempregado, por sinal Bati na mesa com o punho fechado Tudo ficou ainda mais complicado
Quando a mesa deu de si, e eu saltei quando isso vi Caiu o computador e o infeliz do monitor E no calor do salto cai em sobressalto Batendo no separador que fazia de delimitador Parecia o jogo do dominó caindo todos sem dó Eu gritando para os avisar, temendo algum se aleijar A ultima parte foi brutal, mas vingança doce afinal Quando o ultimo separador, rebentou no corredor Empurrando a fotocopiadora, que avançou desafiadora Embatendo no escritório do diretor, que desmaiou com o terror E se não o tivessem depois puxado, teria ficado decerto esmagado Quando o teto estalou e ruiu, encima do portátil do Diretor e o destruiu
Para mim… tudo normal Apenas mais um dia, afinal
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