Pelas orquídeas sossegadas num vão de escada em caracol

Data 28/02/2014 19:57:01 | Tópico: Poemas

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Despeja-me a morte em catadupas
Como uma queda de água
Nos confins do mundo
Sem remissão, paragem
Um sorriso sequer. Jaz o corpo
Num amontoado de lixo podre
Vomito bilioso
Fétido sem janelas viradas
Para o sol de Inverno escondido
Talvez confesse que vivi
Ou que queria viver mais
Para tocar as linhas dos horizontes
Longínquos. Ignotas Latitudes

Nunca passaram de sonhos ou fugas
Pela noite estremecendo. Talvez me sossegue
Sim, do papel em branco, do risco
Interminável de areais sem areia
Do mar sem sal rio que seja com margens
Distantes. Nem nada ou os silêncios

Incrustados por paredes escuras desfeitas
Em vão pela manhã sem procelas
Recordações. O amar cansa
O navegar implode-nos a cada marear
Repetido quando a rota se passeia

Pelas orquídeas sossegadas num vão de escada em caracol Desabrigos pelos cantos em ruína de uma casa de madeira destelhada esperando apodrecer apenas isolada ou coberta pelas ondas indomáveis arrasadoras numa noite calada Deixa-me adormecer assim pensando que não irei acordar jamais com o cheiro da canela Sentir-te-ei perto pelo respirar

No cais do regresso
Algum dia pelos reflexos do mar
Sossegado.

Sossegando-me em ti.



(Ricardo Pocinho)


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