
Hemorroida: uma pitada de humor e um punhado de mal humor
Data 11/03/2014 01:25:45 | Tópico: Textos
| Enfim, depois de meses de espera e muito receio de encarar o proctologista, lá estava ela, frente a frente ao especialista. (... até então, tudo bem!). O doutor atendia em uma cidade próxima à da paciente. (Se bem que ela não se importaria se fosse do “outro lado do mundo”, quantas Marias pequenas já não cavoucaram a terra para encontrar “esse tal”, sem sucesso!). Passado o frente a frente, chegou a hora de tomar uma posição. Era difícil relaxar! Ora, se ele já estava acostumado com isso, ela não! (Que situação!) Depois do olho no olho e do olho no olho, para voltar ao olho primeiro foi complicado. (Os chinelos nunca lhe pareceram tão incrivelmente fascinantes) O doutor conferiu novamente o encaminhamento, fez algumas perguntas com as quais Maria concordava ou discordava. Nada pessoal. (O que? Nada pessoal! Que nada!) Ao ver o sobrenome da paciente e conferir a cidade natal disse que conhecia muitos prováveis parentes de Maria. Ao ouvir os nomes Maria logo argumentou: -Esse mal é de família doutor, meu pai teve, minha mãe tinha, meus irmãos mantêm em segredo e acham que eu não sei... Antes que complementasse o médico explicou que eram apenas alguns amigos e advogados com os quais ele se relacionava: -Eu não sabia que era contagioso doutor? E ele riu: -Não, deixa isso para lá, eles não têm hemorroidas. -Pois é com o dinheiro que têm com certeza não mais, o senhor sabe... -Eu não sei de nada. Eu disse que eles não têm hemorroidas! - repetiu o médico bem lentamente. -Eu sei que isso é constrangedor, mas pode ficar sossegado que eu já até esqueci os nomes. -A senhora não entendeu, são simplesmente conhecidos meus. - nessa hora, já em tom forçado procurando controlar se. -Eu entendo, já ouvi falar nessa questão de ética. -E eu tenho! Necessito de muita paciência. -Tem! - pasmou Maria antes da repreensão - Sabe doutor, eu pensei que jamais um médico se abriria assim com uma paciente, mas sendo o doutor o que é, deveria ser exemplo. Agora, extremamente irritado, quem já não olhava no olho de Maria era o especialista que faiscava preenchendo o encaminhamento para exames. Com a guia em mãos, Maria, já do outro lado da porta observou a enorme fila e confiante foi passando, batendo de leve no ombro de cada um: -Não tenha vergonha, todos esses que estão atrás de você também tem hemorroida. E eu, que achava que era só comigo! ...meus pais e irmãos tiveram hemorroida, o doutor disse que tem hemorroida e conhece uns pares de parentes meus, advogados, gente de dinheiro, que tiveram hemorroida como nós. Isso é comum. (Que ingenuidade... eram nomes que não acabavam mais.) Lembrava se do doutor frisando que os tais parentes ilustres não tinham hemorroida, porém sabia bem o porquê, eles tinham dinheiro, exames a pronta entrega, médico particular, locomoção...e sabe lá se não tinham mesmo ou era a tal da ética em andamento. Sabia também que, como ela, todas essas pessoas não retornaria com o resultado tão cedo. Afinal, Marias e Joãos em fila de espera é o que não falta e pelo comprimento da fila... hemorroida também não! E o médico sabia também...
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Hemorroida é um assunto difícil de ser falado e, principalmente, admitido, por medo ou vergonha. Mas, segundo especialistas, pelo menos 80% das pessoas terão problema com essas varizes do canal do ânus em algum momento da vida.
Imagem retirada do Google.
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