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Hemorroida: uma pitada de humor e um punhado de mal humor

 
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Hemorroida: uma pitada de humor e um punhado de mal humor
 
Enfim, depois de meses de espera e muito receio de encarar o proctologista, lá estava ela, frente a frente ao especialista. (... até então, tudo bem!).
O doutor atendia em uma cidade próxima à da paciente. (Se bem que ela não se importaria se fosse do “outro lado do mundo”, quantas Marias pequenas já não cavoucaram a terra para encontrar “esse tal”, sem sucesso!).
Passado o frente a frente, chegou a hora de tomar uma posição. Era difícil relaxar!
Ora, se ele já estava acostumado com isso, ela não! (Que situação!)
Depois do olho no olho e do olho no olho, para voltar ao olho primeiro foi complicado. (Os chinelos nunca lhe pareceram tão incrivelmente fascinantes)
O doutor conferiu novamente o encaminhamento, fez algumas perguntas com as quais Maria concordava ou discordava. Nada pessoal. (O que? Nada pessoal! Que nada!)
Ao ver o sobrenome da paciente e conferir a cidade natal disse que conhecia muitos prováveis parentes de Maria.
Ao ouvir os nomes Maria logo argumentou:
-Esse mal é de família doutor, meu pai teve, minha mãe tinha, meus irmãos mantêm em segredo e acham que eu não sei...
Antes que complementasse o médico explicou que eram apenas alguns amigos e advogados com os quais ele se relacionava:
-Eu não sabia que era contagioso doutor?
E ele riu:
-Não, deixa isso para lá, eles não têm hemorroidas.
-Pois é com o dinheiro que têm com certeza não mais, o senhor sabe...
-Eu não sei de nada. Eu disse que eles não têm hemorroidas! - repetiu o médico bem lentamente.
-Eu sei que isso é constrangedor, mas pode ficar sossegado que eu já até esqueci os nomes.
-A senhora não entendeu, são simplesmente conhecidos meus. - nessa hora, já em tom forçado procurando controlar se.
-Eu entendo, já ouvi falar nessa questão de ética.
-E eu tenho! Necessito de muita paciência.
-Tem! - pasmou Maria antes da repreensão - Sabe doutor, eu pensei que jamais um médico se abriria assim com uma paciente, mas sendo o doutor o que é, deveria ser exemplo.
Agora, extremamente irritado, quem já não olhava no olho de Maria era o especialista que faiscava preenchendo o encaminhamento para exames.
Com a guia em mãos, Maria, já do outro lado da porta observou a enorme fila e confiante foi passando, batendo de leve no ombro de cada um:
-Não tenha vergonha, todos esses que estão atrás de você também tem hemorroida. E eu, que achava que era só comigo! ...meus pais e irmãos tiveram hemorroida, o doutor disse que tem hemorroida e conhece uns pares de parentes meus, advogados, gente de dinheiro, que tiveram hemorroida como nós. Isso é comum. (Que ingenuidade... eram nomes que não acabavam mais.)
Lembrava se do doutor frisando que os tais parentes ilustres não tinham hemorroida, porém sabia bem o porquê, eles tinham dinheiro, exames a pronta entrega, médico particular, locomoção...e sabe lá se não tinham mesmo ou era a tal da ética em andamento.
Sabia também que, como ela, todas essas pessoas não retornaria com o resultado tão cedo. Afinal, Marias e Joãos em fila de espera é o que não falta e pelo comprimento da fila... hemorroida também não!
E o médico sabia também...

Issor_honey.int.sp



Hemorroida é um assunto difícil de ser falado e, principalmente, admitido, por medo ou vergonha. Mas, segundo especialistas, pelo menos 80% das pessoas terão problema com essas varizes do canal do ânus em algum momento da vida.

Imagem retirada do Google.
 
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Issor_honey
 
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