E quando não fores mais um lugar a descobrir

Data 24/03/2014 13:50:42 | Tópico: Poemas

e quando os teus braços, outra vez braços
desconfortáveis por serem úteis na leveza
desprovidos do toque que os tornava regaços
se há chuva não cobrem, se há vento, incerteza

que farei quando as tuas palavras, só palavras
massacradas de serem ditas vezes sem conta
que de tantas vezes correctas se fazem erradas
a palavra que ajudou a construir, só desmonta

e quando os teus cabelos, simplesmente cabelos
as tuas mãos entediosas de serem mãos, somente
e os teus beijos aborrecidos de serem novelos
de nós apertados por uma insegurança doente

e quando não fores mais um lugar a descobrir
maior que o céu de onde tenho medo de cair
e quando perder o medo das grandes alturas
as vertigens de quando me olhas às escuras

que faremos quando formos tédio e televisão
quando olhar para nós for matéria de desilusão
como será descobrir que já fomos descobertos?

é como estar perdido e mesmo assim termos noção
(além da que nunca mais podemos ser redescobertos)
que todos os teus caminhos são correctos, mas incertos

José Correia


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