Soneto do sicário da noite

Data 25/05/2014 09:04:57 | Tópico: Sonetos




“Tu, és assim voltada” — eu lhe dizia —
“Como estaca plantada, ó alma opressa,
Responder-me possível te seria?” —

Eu \'stava aí, qual monge, que confessa
Assassino, que em cova já fincado
O chama, pois, em tanto, a pena cessa.”

A Divina Comédia - Inferno, canto xix








Punge, excita, uma fera em mim há, que rasgadas as veias,
assanha anelos, desperta do letárgico sono onde encerrada,
qual transitória jaz, como num ataúde ladeado de candeias;
acautele-se, pois não a tenha, porém, por mansa-inanimada.

Quando est’a dormir, uma antítese. Não tenh’ alma sujeita,
em contraste, a doçura é exalada de mim, quase um pranto;
mal despertada, age. Contrassenso, levanta logo a suspeita,
irrompe em cólera, exala a ira, a disparidade causa espanto.

Quem poderia ser esse facínora, destro sicário, antinomia,
cujas mãos prepotentes não vacilaram, sem nada contrário?
Invadiu-me a alma sem contradita quando a noite irrompia,
tão forte, já me fez sem controle, ator em ilógico cenário.

No átimo, sem discordância, galgar da insanidade o cume:
- Desmedido nos atos, iníquo, cruel-assassino: meu ciúme!






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