a menina do meu sonho...memórias

Data 08/07/2014 10:34:01 | Tópico: Prosas Poéticas

O outono ía adiantado com o sol no ocaso inflamado de vermelho, na eira recolhiam-se os últimos cereais que depois de malhados se lançavam ao ar para que o vento os joeirasse, via fazer estes trabalhos, apercebia-me de como a vida era difícil principalmente para quem ganhava o pão com o suor do rosto...ainda agora saboreio as lembranças que se multiplicam no meu pensamento...hoje posso ser uma filha estranha nesta terra que é minha, pois quem partiu já não está para me abraçar ou para se alegrar com a minha presença, mas na memória do meu sentir essas pessoas estarão presentes para sempre, há pessoas e momentos que se eternizam na nossa memória, assim, as emoções de lembrá-las são relíquia.

Já o sol cai a pique
Avé-Marias festivas
deixem que aqui fique
com lembranças vivas

Espreito o largo da igreja, sem que ninguém me veja, a lembrança surge imediatamente, de mim menina aqui brincando e logo se sobrepõe a tudo o resto, embora o passar do tempo deixe marcas no corpo e na alma trago sonhos a bailar-me nos olhos, os mesmos sonhos!... caídos agora no silêncio, quebrados pela voragem do tempo provocando em mim ansiedade que me oprime à medida que o tempo avança. Olhei a casa do lado de lá na banda de além, mergulhei numa escuridão interior, olhei o céu, depois o rio, as flores, as hortas sossegadas e tudo me pareceu tão deprimido quanto eu, embora num paraíso adormecido, onde só a aragem do vento fazia com que as folhas acordassem e eu perdida por entre a folhagem, na tentativa de equilibrar a mente de serenar o espírito para ganhar alento e continuar o sonho. Olho a menina de novo, esperançada que me dirija um sorriso, segue junto ao rio com a sua graciosidade inundada de luz como se se tratasse duma princesa, meus olhos ficam exaustos, o sonho me imobiliza...um dia eu e ela atravessaremos juntas a ponte, juntaremos os brinquedos quebrados com que brincámos, os raios solares sobre a folhagem virão banhar-nos o rosto e envelheceremos as duas como se não nos tivéssemos distanciado nunca.

natalia nuno
rosafogo




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