Só mais um, sem medo.

Data 15/07/2014 13:21:38 | Tópico: Poemas

É tarde. Já escureceu.
É hora de sair de mim,
Fiz tudo quanto me apeteceu.
E cumpri o meu dever assim

Os dias já não me arrefecem,
Com aquele frio solitário.
Nem tão pouco me aquecem,
Muito antes pelo contrário.

Sinto-me só. É um facto.
Mas tenho quem me acompanhe,
Quem me mantenha em contacto
E ainda que não me estranhe.

Vale de pouco. Nada me ascende
Nem me alegra nem me contenta
Nem me sacia, nem me tenta.
Agora, já nada me prende.

Sou só mais um que eu sei,
Talvez não tão comum assim
Mas mais um, que eu bem sei
A dar o que tenho, "oh pra mim".

Cá dentro amanhece,
E eu sem ver pingo de luz,
Sou mais um. Acontece.
Mais um que em nada se traduz

No entanto, escrevo e avanço,
Sem problema, eu não me canso.
Nem sequer há com quem lutar
Quanto mais pra me derrotar.

Posso errar livremente.
Assim é como me sinto.
Solto, por entre o presente,
Livre de obrigações,
Digo o que penso, não minto,
E mesmo mentindo é sem preocupações.

Não há quem me pare, é certo
Nem ninguém para me segurar.
Não quero nem ninguém perto
Nem ninguém para afastar.

Talvez um dia, por um momento
Se solte de mim este pensamento
E dê por mim ao relento
A pensar no que aguento,
E vá procurar mais atento
Quem possa dar cem por cento.
Até lá espero desatento
Mantendo-me assim pelo cinzento.

Sou mais um? Sinto-me só?
É um facto. É verdade.
Mas sou feliz. Não haja dó.
Quero por inteiro, a dignidade.



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